A Garganta da Serpente
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A Praia

(Josie Mendonça )

Aquilo era quase um sonho à beira mar, algo que era capaz de arrebatar quem estivesse sentindo na pele, todos os efeitos que aquele momento podia causar. Era surreal, coisa que fugia totalmente aos padrões comuns do dia-dia. A aurora avisava que o Sol já ia nascer e iluminar toda a praia. O que uma mulher de trinta anos de idade podia fazer de tão esplêndido sozinha naquele lugar, sentada na areia? Sua pele morena, bronzeada, sentia o vento forte bater, seus cabelos lisos, negros e cumpridos . Um simples vestido branco cobria seu corpo esbelto, tinha um metro sessenta cinco de altura, nascida em Tijuana, mas gostava das águas do Brasil. Estava sentada na areia, sentia a onda quebrar molhando seus pés, unhas pintadas de vermelho dos pés e das mãos, tinha corpo de sereia, era a sensualidade da mulher latina. Levantou, bateu levemente no traseiro para limpar a areia, desceu as mãos para as coxas, areia no corpo era sempre um incômodo.

Dolores gostava de pessoas, mas também gostava da solidão e principalmente daquela praia, aquele momento era propício para aquela mexicana realizar um sonho antigo e sem pestanejar ela resolveu faze-lo, tirou o vestido branco, deixando-o cair na areia, ficou só de calcinha e sutiã, sentiu o vento balançar seus cabelos, desabotoou o sutiã de abertura frontal e o deixou cair na areia, em seguida, tirou também a calcinha, sentiu-se uma criança, sem medo e sem maldade, caminhou lentamente para dentro d'água e sentiu os pés pisarem numa areia muito fofa, sentia também algumas conchinhas incomodarem, mas fazia parte da praia, conchas, estrelas do mar, cavalos marinhos...

A água já batia na cintura, era um êxtase difícil de explicar, algo realmente surreal, maravilhoso! Mergulhou todo seu corpo até a água cobrir seus cabelos, levantou e sentiu uma onda bater em seu rosto, era à força da natureza. O Sol já nascia em todo seu esplendor, era sublime a natureza. De repente todo seu momento mágico, de sonho e de ternura acabara naquele momento, dois rapazes com idades entre vinte e vinte três anos chegavam à praia, Dolores não sabia o que fazer, estava nua em pêlo, seu vestido e sua peças íntimas estavam longe demais, teria que sair totalmente da água para pegá-los, e agora? O que fazer? Eles se aproximavam cada vez mais, conversavam e riam, ela sentiu medo, e se abusassem dela? Não Dolores não podia sair da água enquanto aqueles rapazes não fossem embora e pelo visto, eles iam demorar muito tempo ali, forraram a areia com uma toalha de banho e sentara em cima, descompromissados com o tempo, queria relaxar. A mexicana se sentia em apuros, todo seu prazer de esta se banhando nua na praia havia se transformado em aflição, pensou em se afastar dos rapazes e sair da água, mas como iria se vestir e embora? Não, isso era inviável! Uma hora eles teriam que ir embora e Dolores estava disposta a esperar o tempo que fosse, mas será que aguentaria esperar tanto tempo assim, caso eles demorassem para ir? Eles, intrigados olharam para ela, aflita naquela água, ambos usavam bermudas e camisetas regatas, tinham corpos bem musculosos e bronzeados, um deles usava boné, o outro exibia cabelos castanhos, ondulados a altura dos ombros. O rapaz de boné viu as indumentárias da mexicana jogadas na areia e percebeu que ela não usava absolutamente nada em baixo d'água. A mexicana percebeu que ele percebeu e não teve alternativa.

- Rapazes, poderiam virar de costas, por favor? - Disse com seu sotaque espanhol.

Os dois percebendo a angústia da moça, olharam um para o outro, espantados.

- Você ta pelada? - Perguntou o cabeludo.

Dolores sentiu-se uma idiota.

- Sim, estou desnuda. - Respondeu ela irritada.

- Mas aqui não é praia de nudismo. - Repreendeu o rapaz de boné.

- É que era de madrugada, não havia ninguém e...eu não tenho que dar explicações a vocês! - Brigou.

Os dois rapazes se olharam novamente.

- Tá com vergonha da gente? - Perguntou o cabeludo esboçando um sorriso sarcástico.

Dolores sentia uma palpitação insuportável, parecia que seu coração ia explodir de tanto nervosismo.

- E não deveria? - Perguntou ela ironicamente.

Os dois riram, gargalharam.

- Estão rindo do que?- Perguntou a mexicana cada vez mais irritada.

- Não precisa ter vergonha da gente não. - Respondeu o cabeludo. - A gente é gay.

- Gay?- Espantou-se a mexicana.

- Ele é meu namorado.

Dolores respirou aliviada, todas as suas suspeitas eram falsas. Foi relaxando e até sorriu para os rapazes.

- É muito chato saber que tem uma mulher pelada na praia, eu preferia que fosse um homem. - Disse o rapaz de boné.

O cabeludo enciumado deu um tapinha no ombro dele.

- Aaaaiiiii!- Reclamou o de boné.

- Bem então eu posso sair daqui sem nenhum problema. - Disse Dolores.

Ela saiu da água e os rapazes olhavam para ele como se estivessem olhando para uma irmã, afinal não era de mulher que gostavam. A mexicana se secou com uma toalha que trazia na bolsa e se vestiu rapidamente, pegou sua bolsa e foi embora.

- Essa praia não é de nudismo, mas essa gringa me deu uma boa ideia. - disse o cabeludo.

- É verdade, essa hora não aparece ninguém mesmo, é muito cedo.

Os dois se despiram e pularam na água, deram um selinho.

- Esse lugar é lindo! - Disse o cabeludo.

De repente o momento mágico de deleite se quebrou, duas senhoras idosas chegavam à praia, as duas muito animadas, conversavam e riam muito, pretendiam ficar bastante tempo na praia, uma delas estendeu uma toalha e as duas se sentaram, bem em frente a eles.

Os dois se olharam aflitos.

- Ai meu Deus e agora o que a gente faz?- Perguntou o cabeludo.

As duas senhoras vendo os rapazes não se contiveram em perguntar.

- A água tá boa rapazes? - Perguntou uma delas. - é que a gente ta pensando em dar um mergulho.

Os dois não sabiam o que fazer e se elas se enfurecessem com aqueles dois pelados sem juízo? Mas não demorou para que uma delas percebessem as roupas dos caras jogadas, inclusive as cuecas e não se conteve em perguntar.

- Vocês estão pelados?

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