Aquilo era quase um sonho à beira mar, algo que era capaz de arrebatar
quem estivesse sentindo na pele, todos os efeitos que aquele momento podia causar.
Era surreal, coisa que fugia totalmente aos padrões comuns do dia-dia.
A aurora avisava que o Sol já ia nascer e iluminar toda a praia. O que
uma mulher de trinta anos de idade podia fazer de tão esplêndido
sozinha naquele lugar, sentada na areia? Sua pele morena, bronzeada, sentia
o vento forte bater, seus cabelos lisos, negros e cumpridos . Um simples vestido
branco cobria seu corpo esbelto, tinha um metro sessenta cinco de altura, nascida
em Tijuana, mas gostava das águas do Brasil. Estava sentada na areia,
sentia a onda quebrar molhando seus pés, unhas pintadas de vermelho dos
pés e das mãos, tinha corpo de sereia, era a sensualidade da mulher
latina. Levantou, bateu levemente no traseiro para limpar a areia, desceu as
mãos para as coxas, areia no corpo era sempre um incômodo.
Dolores gostava de pessoas, mas também gostava da solidão e principalmente
daquela praia, aquele momento era propício para aquela mexicana realizar
um sonho antigo e sem pestanejar ela resolveu faze-lo, tirou o vestido branco,
deixando-o cair na areia, ficou só de calcinha e sutiã, sentiu
o vento balançar seus cabelos, desabotoou o sutiã de abertura
frontal e o deixou cair na areia, em seguida, tirou também a calcinha,
sentiu-se uma criança, sem medo e sem maldade, caminhou lentamente para
dentro d'água e sentiu os pés pisarem numa areia muito fofa, sentia
também algumas conchinhas incomodarem, mas fazia parte da praia, conchas,
estrelas do mar, cavalos marinhos...
A água já batia na cintura, era um êxtase difícil
de explicar, algo realmente surreal, maravilhoso! Mergulhou todo seu corpo até
a água cobrir seus cabelos, levantou e sentiu uma onda bater em seu rosto,
era à força da natureza. O Sol já nascia em todo seu esplendor,
era sublime a natureza. De repente todo seu momento mágico, de sonho
e de ternura acabara naquele momento, dois rapazes com idades entre vinte e
vinte três anos chegavam à praia, Dolores não sabia o que
fazer, estava nua em pêlo, seu vestido e sua peças íntimas
estavam longe demais, teria que sair totalmente da água para pegá-los,
e agora? O que fazer? Eles se aproximavam cada vez mais, conversavam e riam,
ela sentiu medo, e se abusassem dela? Não Dolores não podia sair
da água enquanto aqueles rapazes não fossem embora e pelo visto,
eles iam demorar muito tempo ali, forraram a areia com uma toalha de banho e
sentara em cima, descompromissados com o tempo, queria relaxar. A mexicana se
sentia em apuros, todo seu prazer de esta se banhando nua na praia havia se
transformado em aflição, pensou em se afastar dos rapazes e sair
da água, mas como iria se vestir e embora? Não, isso era inviável!
Uma hora eles teriam que ir embora e Dolores estava disposta a esperar o tempo
que fosse, mas será que aguentaria esperar tanto tempo assim, caso
eles demorassem para ir? Eles, intrigados olharam para ela, aflita naquela água,
ambos usavam bermudas e camisetas regatas, tinham corpos bem musculosos e bronzeados,
um deles usava boné, o outro exibia cabelos castanhos, ondulados a altura
dos ombros. O rapaz de boné viu as indumentárias da mexicana jogadas
na areia e percebeu que ela não usava absolutamente nada em baixo d'água.
A mexicana percebeu que ele percebeu e não teve alternativa.
- Rapazes, poderiam virar de costas, por favor? - Disse com seu sotaque espanhol.
Os dois percebendo a angústia da moça, olharam um para o outro,
espantados.
- Você ta pelada? - Perguntou o cabeludo.
Dolores sentiu-se uma idiota.
- Sim, estou desnuda. - Respondeu ela irritada.
- Mas aqui não é praia de nudismo. - Repreendeu o rapaz de boné.
- É que era de madrugada, não havia ninguém e...eu não
tenho que dar explicações a vocês! - Brigou.
Os dois rapazes se olharam novamente.
- Tá com vergonha da gente? - Perguntou o cabeludo esboçando um
sorriso sarcástico.
Dolores sentia uma palpitação insuportável, parecia que
seu coração ia explodir de tanto nervosismo.
- E não deveria? - Perguntou ela ironicamente.
Os dois riram, gargalharam.
- Estão rindo do que?- Perguntou a mexicana cada vez mais irritada.
- Não precisa ter vergonha da gente não. - Respondeu o cabeludo.
- A gente é gay.
- Gay?- Espantou-se a mexicana.
- Ele é meu namorado.
Dolores respirou aliviada, todas as suas suspeitas eram falsas. Foi relaxando
e até sorriu para os rapazes.
- É muito chato saber que tem uma mulher pelada na praia, eu preferia
que fosse um homem. - Disse o rapaz de boné.
O cabeludo enciumado deu um tapinha no ombro dele.
- Aaaaiiiii!- Reclamou o de boné.
- Bem então eu posso sair daqui sem nenhum problema. - Disse Dolores.
Ela saiu da água e os rapazes olhavam para ele como se estivessem olhando
para uma irmã, afinal não era de mulher que gostavam. A mexicana
se secou com uma toalha que trazia na bolsa e se vestiu rapidamente, pegou sua
bolsa e foi embora.
- Essa praia não é de nudismo, mas essa gringa me deu uma boa
ideia. - disse o cabeludo.
- É verdade, essa hora não aparece ninguém mesmo, é
muito cedo.
Os dois se despiram e pularam na água, deram um selinho.
- Esse lugar é lindo! - Disse o cabeludo.
De repente o momento mágico de deleite se quebrou, duas senhoras idosas
chegavam à praia, as duas muito animadas, conversavam e riam muito, pretendiam
ficar bastante tempo na praia, uma delas estendeu uma toalha e as duas se sentaram,
bem em frente a eles.
Os dois se olharam aflitos.
- Ai meu Deus e agora o que a gente faz?- Perguntou o cabeludo.
As duas senhoras vendo os rapazes não se contiveram em perguntar.
- A água tá boa rapazes? - Perguntou uma delas. - é que
a gente ta pensando em dar um mergulho.
Os dois não sabiam o que fazer e se elas se enfurecessem com aqueles
dois pelados sem juízo? Mas não demorou para que uma delas percebessem
as roupas dos caras jogadas, inclusive as cuecas e não se conteve em
perguntar.
- Vocês estão pelados?