A Garganta da Serpente
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Encontro Casual

(Josie Mendonça )

Anoitecia e o bar estava cheio, mesinhas lotadas de gente, pessoas que curtiam um happy hour após o expediente, um jovem cantava e tocava MPB do lado de fora perto das mesinhas, o lado de dentro do bar estava ainda mais cheio. Uma jovem desacompanhada e bem vestida atraiu um rapaz, igualmente bem vestido, camisa polo, calça jeans e um tênis que não havia custado menos de cem reais. A moça exibia um belo decote, apesar de magra, tinha seios volumosos. Os olhares deram o sinal verde para uma aproximação, a atração e a possibilidade de começar uma conversa com alguém desconhecido causava medo, mas prazer ao mesmo tempo. Ele também estava sozinho e buscava algo novo, ela idem. A moça pegou a taça de chopp e deu uma golada, nas unhas, esmalte escuro, no pescoço, um fino cordão banhado a ouro, deu a famosa cruzada de pernas, de propósito, para ele ver, estavam à mostra, o vestido era curto, foi possível ver até o interior das coxas. Passou a mão pelos cabelos lisos e negros, segurou a franja, brincou com ela, desarrumou-a, e ele apenas a observava, sentia-se como um cão no cio, ávido por possuir de vez aquela fêmea. Do corpo dele exalava um agradável perfume, seus cabelos eram tão negros quanto os dela, fumava excessivamente, tenso em deparar-se com aquela mulher com olhar tão convidativo, esmagou a bita de cigarro no cinzeiro e soprou a fumaça. Mais um gole de chopp e mais uma cruzada de pernas. Nervoso ele olha para os lados, passa as mãos pelo rosto, quase decido a levantar-se de sua mesa e sentar-se ao lado dela. O garçom aproximou-se e ele pediu a conta. Ela saboreava alguns petiscos, queijos cobertos de orégano, cortados em cubos, olhava para as pessoas da mesa ao lado enquanto mastigava, as pernas se mantinham cruzadas. Os frequentadores daquele estabelecimento estavam eufóricos, sorridentes, alguns, bêbados, garçons apressados e muito ocupados. Enquanto esperava pela conta, acendeu mais um cigarro, não tirava os olhos daquela bela mulher, observava seus pés nas sandálias, como eram bonitos aqueles pés, delicados, bem cuidados. O vento soprava e já era noite, por volta das dezenove e quinze, o garçom aproximou-se dele e lhe deu a conta, ele pagou e deixou sua mesa, caminhou em direção a mesa dela.

- Dá licença!Posso te fazer companhia?

Ela o recebeu com um belo sorriso.

- Claro!

Ele puxou a cadeira e se sentou, ainda haviam petiscos à mesa.

- Tá servido?

- Não, obrigado! - Recusou sorridente.

- Já que sentou na minha mesa tem que se apresentar!- Brincou.- Como é seu nome?

- Iran. - E o seu?

- Joyce. Você tem um nome bonito, diferente!

- Você também.

- O que você faz da vida Iran?

- Eu sou técnico em informática, trabalho com manutenção de micro. E você?

- Sou cabeleireira.

- Dá pra perceber pela sua vaidade.

- Sou cabeleireira e maquiadora.

Iran aproximou sua cadeira de Joyce decidido a beijar aqueles lábios cobertos com batom cor de café.

- Quantos anos você tem? - Joyce interrompeu o momento.

- Vinte e cinco. E você?

- Vinte e nove.

Não querendo ouvir nem falar mais nada, Iran beijou a boca de Joyce, ela correspondeu e aquele momento foi de puro delírio, era como se só existissem os dois naquele bar.

- Onde você mora? - Quis saber Joyce após o beijo.

- Moro na Tijuca.

- Eu moro em Jacarepaguá.

Mais um beijo, um longo e demorado beijo. Apesar de não se conhecerem, era impossível negar a atração que sentiam um pelo outro, seus corpos necessitavam de mais intimidade, mais toque, menos roupas e mais calor humano. Iran acariciou a perna de Joyce discretamente, beijou seu pescoço e pode sentir seu cheiro suave, sua pele macia, ela sentia a barba malfeita do rapaz raspar seu pescoço, um arrepio tomou conta de sua pele. No intervalo dos beijos, comentários fúteis sobre coisas que não tinham a menor importância, ora a falta de assunto predominava e só restava a alternativa de olhar para os lados, para não esquecer-se de que o local era público e para amenizar o constrangimento de não ter nada a dizer um para o outro. Com o passar do tempo, Joyce e Iram perceberam que estava na hora de deixar o bar, a moça pediu a conta e seu acompanhante fez questão de pagar. Saíram juntos e entraram no carro de Iran.

- Onde você vai me leva?- Indagou Joyce.

- Onde você quer ir? - Perguntou ele girando a chave do carro.

- Não tenho nenhum lugar em mente.

- Tudo bem, eu conheço um lugar legal.

Era impossível não sentir medo, estar no carro de um cara desconhecido, sabe Deus com que intenções, mas a sensação de prazer e liberdade eram tão grandes que valia a pena correr qualquer risco, inclusive o de morte, ou será que não valia? Joyce se questionava no caminho pensava a respeito enquanto olhava para o rosto e o olhar descompromissado do rapaz, o que será que ele pretendia? Apenas sexo? Ou cometer alguma atrocidade? Um misto de medo e curiosidade tomava conta de Joyce, seria aquele homem lobo em pele de cordeiro? Talvez apenas um cara normal em busca de um prazer puramente carnal. Iran percebeu a aflição da moça e tentou tranquilizá-la.

- Pode confiar em mim, sou uma cara lega! - Disse sorridente.

- Confiar num estranho?

Os dois riram.

- Você não tem cara de psicopata, mas nunca se sabe. - Brincou Joyce.

- Eu também posso estar correndo risco, você sim tem cara de psicopata.

Mais risos.

O carro percorria as ruas do Rio de Janeiro, passava por guetos, bares e pontos de prostituição.

- Com quem você mora? - Interessou-se Joyce.

- Divido um apartamento com mais dois colegas. E você?

- Moro sozinha.

- Morar sozinho é tudo de bom.

- É nada! Às vezes bate uma solidão insuportável.

- E como você faz pra driblar essa solidão?

Joyce colocou a mão na perna de Iran.

- Faço o que estou fazendo agora.

Ele deu uma gargalhada.

- Então eu não sou o primeiro.

- Isso faz diferença pra você?

- Não, o que me importa é quem você será pra mim essa noite.

Joyce relaxou seu corpo no banco do carro, deitou a cabeça para trás, sentiu-se livre, solta.

- Posso por um CD?- Pediu a moça.

- Escolhe aí!

Joyce revirou alguns CDs de Iran que estavam ali à mão, escolheu um de rock nacional, pôs para tocar. Acendeu um cigarro, deu um trago e soprou a fumaça suavemente, sacudia a cabeça no ritmo da música, Iran olhava e admirava aquela mulher maravilhosa, exuberante e sexy. Sem cerimônia acariciou sua coxa por debaixo do vestido, Joyce sentiu sua pele arrepiar, ficou excitada, louca para fazer amor.

O local escolhido por Iran já estava próximo, a moça abaixou o volume.

- Já tá chegando. - Avisou o rapaz.

- O lugar é bom mesmo?

- É ótimo!

- Tem espelho no teto?

- Tem tudo que você imaginar e mais um pouco.

Muitas pessoas andavam pelas ruas, comércios, carros, ônibus, táxis, casais de namorados, danceterias, bares decadentes, carros da polícia, pessoas, muitas pessoas.

Iran e Joyce chegaram ao destino, um belo motel, ficaram com a suíte 102, segundo Iran, uma das melhores, Joyce sentia-se como uma virgem em sua primeira transa, apesar da experiência, as sensações eram sempre as mesmas, frio na barriga, palpitações, medo e prazer em buscar o desconhecido e na desobrigação de ter que ficar com aquele homem para sempre. Saíram do carro e foram até a suíte, Iran abriu a porta e dois entraram, o lugar era mesmo de causar admiração a qualquer mortal, havia banheira de hidromassagem, cama redonda, espelho no teto, frigobar e até champagne com duas taças. Iran acendeu a luz, mas Joyce apagou imediatamente.

- Assim é melhor! A meia-luz!

O breu não era absoluto, ainda havia um pouco de claridade, a penumbra e a dificuldade se verem tornou aquele momento ainda mais excitante. Os dois, deitados na cama, se beijaram, Joyce agarrava os cabelos de Iran, a baba malfeita arranhava sua face, mas aquilo era bom, muito bom. Lentamente, Iran despiu a parceira, ela o despiu logo em seguida, a escuridão era um pretexto para Joyce não ver um desconhecido nu sobre ela, a situação causava espanto, mas no escuro, o absurdo parecia não existir, pelo menos no escuro. Os dois se deixaram levar pelo desejo, Iran acariciou e beijou todo o corpo de Joyce, ela se fazia submissa, escrava. Ele pressionava seus braços contra a cama a deixando totalmente indefesa, mordiscava suas orelhas, ela tentava se soltar, se debatia, mas ele a dominava, mais um beijo. Com os braços livres, Joyce pôde acariciar as nádegas de Iran, estavam suadas. Ele desceu e alcançou os seios, beijou-os como se beija uma rosa, ela gemia de prazer. Aquela noite parecia ser muito especial, depois de tantas carícias e preliminares, Iran colocou um preservativo e penetrou fundo, lentamente, Joyce relaxou o corpo e permitiu que ele fizesse tudo, até o final, sem parar. Ele chegou primeiro ao orgasmo, ela minutos depois, fora uma transa incrível.

Joyce olhou para Iran com ternura, sentiu que não queria deixá-lo, mas teria que fazê-lo afinal de contas, estava noiva de Jorge, um homem quinze anos mais velho do que ela e pai de três filhos adolescentes.

Saíram do motel ele a deixou em casa, se despediram com um beijo na boca, Iran ainda pode ver aquela mulher entrar na portaria de seu prédio com toda sua exuberância.

Na semana seguinte ele foi a um bar da moda na zona sul, estava cheio como de costume, pessoas bonitas, de classe média, alegres e divertidas, um pouco bêbadas e no meio delas uma mulher lhe chamou a atenção, estava sozinha, usava uma blusa preta, decotada e uma saia branca, sandálias de salto, deu a famosa cruzada de pernas, passou a mão pelos cabelos. Diante de uma mulher tão bonita e sensual, Iran não pensou duas vezes, saiu de sua mesa e foi até ela.

- Olá! Posso te fazer companhia?

(06/10/07)

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