Fui convidado por meu amigo Jorge para assistir a uma reunião de uma
ONG da qual ele faz parte. Embora relutante - Não gosto muito de reuniões,
nunca fui nem a do meu condomínio, mas acabei indo com ele, já
que não tinha nada mesmo para fazer naquela noite. Lá chegando,
descobri que tais reuniões podem ser interessantes e reveladoras. A pauta
única era para estabelecer metas de atuação junto a comunidade
local, visando um melhor convício entre os variados grupos minoritários
e o restante da população local, principalmente depois de aparecem
vários casos de atos contras homossexuais e prostitutas da redondeza,
realizados por jovens cujos pais pertenciam a classe média alta, sua
grande maioria residentes num determinado condomínio do bairro. Tomou
a palavra o coordenador da área de comunicação e atividades
culturais para explicar o relatório feito por sua equipe de campo, que
efetuou pesquisa junto à comunidade sobre essas brigas entre os jovens
e os gays e prostitutas da "área". Nem bem começou a
falar e foi interrompido pelo coordenador de finanças, que, "pela
ordem", insistiu que, quem primeiro deveria a falar seria a representante
das prostitutas que se fazia presente.
- Desculpe companheiro Celso, mas acho que deveríamos começar
dando a palavra a companheira Eronildes, também conhecida como Nildes,
já que ela sofre na carne o problemas que vamos discutir por aqui.
- Espera amigo, embora concorde com você sobre a companheira, mas vamos
seguir a ordem pré-estabelecida, se não acaba dando confusão,
lembra da última reunião?
- Como poderia companheiro? Mas isso é passado e voltando ao assunto,
continuo achando que a primeira palavra deveria ser dela.
- Companheiro, calma! É claro que vamos ouvi-la, nossa companheira está
nessa luta com a gente a bastante tempo e é muito importante a sua palavra,
mas é justamente por causa dela e dos demais companheiros excluídos
por essa malha imperialista é que estamos aqui.Então é
preciso que nos organizemos para a luta e para isso, devemos seguir o regulamento.
- Regulamento? Que isso companheiro, daqui a pouco vamos ter companheiro general,
tenente, sargento?
- Companheiro isso aqui é uma coisa séria!
- E eu estou parecendo palhaço por acaso?
- Eu não disse isso, não ponha palavras na minha boca...todos
nós aqui vivemos o problema...
- Acho na verdade que o companheiro quer é aparecer. E não vamos
começar com falsidade que nunca sofri preceito aqui no bairro, até
porque não dou motivos. Mas se é assim, por que não começar
por mim por exemplo, já que tenho meu próprio relatório,
muito mais importante, diga-se de passagem, onde informo,pormenorizadamente,
que nosso caixa está quase "ZERO" por conta de almoços
desnecessários, feitos por alguns coordenadores que estão muito
mais preocupados com a própria fome do que com os problemas dos outros.
- Pêra lá companheiro, ai você está abusando, você
está acusando quem? Seja mais direto.
- Até parece que não sabe né ô "margarida"...
- Margarida é você seu viado!!!
- Viado é você, filho da puta.
- AH é? Vamos ver quem é filho da puta aqui, sua bicha enrustida...eu
não tenho mãe na zona não. Ah! Meu Deus! Essa tabua leva
prego...
- Olha o prego aqui f....
Bem, sai antes da pancadaria começar. Fiquei encantado com tamanha preocupação
dessa ONG com o problema do preconceito na sociedade.