João Pedro e João Carlos, gêmeos idênticos (ou quase
idênticos).
Mariane e Marina, gêmeas idênticas (ou quase idênticas).
Quis o destino que se encontrassem, mais ainda, tornarem-se dois pares de namorados.
Pedro com Mariane e Carlos com Marina.
Pedro e Mariane formavam a dupla de certinhos, pouco saíam - vez por
outra um cinema ou uma praia nos finais de semana -, gostavam mesmo era de ler
romances e tardes em estudos de literatura, um namoro lírico.
Carlos e Marina, não, definitivamente desconheciam o significado da palavra
rotina, saíam todos os dias sem rumo certo, o que viesse era uma festa.
Além de irrequietos, trajavam-se como góticos ou coisa parecida,
quem vai saber?, como definir aqueles adornos incomuns? e o vocabulário,
digamos assim, "diferente"?. No Fundo, Pedro e Mariane os invejavam,
não tinham a coragem daquelas atitudes, sequer comentavam um com o outro
seus desejos de uma mudança pra lá de radical, muito mais pelo
medo que poderiam causar pela desconfiança de, ao se mostrarem iguais
aos irmãos, poderiam estar no fundo demonstrando uma certa admiração
mais acentuada por Carlos ou Marina, respectivamente, do que pela mudança
propriamente dita.
Vida que segue, certo dia, tanto Pedro, quanto Mariane, tiveram a mesma ideia,
mudar o visual, mais sem aviso, uma surpresa, afinal, uma mudança unilateral,
demonstraria muito mais um desejo de agradar do que uma possível cobrança
relacionada com a aparência do cunhado ou cunhada. Eram os próprios
quem estavam mudando e não pedindo ao outro que o fizesse. Assim, em
uma véspera de final de semana, saíram ao cabeleireiro a provocar
um novo visual, uma mudança radical, quer na aparência física
como no vestuário. E assim o fizeram (sem ao menos lembrarem-se que tal
procedimento jamais iria mudar o comportamento, tampouco a personalidade de
ambos, a não ser que algo inesperado acontecesse). E assim o fizeram.
- E agora? E o medo e a insegurança de se mostrarem um para outro?
Formavam um perfeito casal, até nas ideias. Bem, uma bebida antes
para tomar coragem e partiram, cada um para um bar diferente, antes de seguiram
rumo ao encontro, antes combinado para a mútua surpresa, algumas bebidas
a mais -o que para eles significava, 4 ou 5 copos de vinho e ..., ao lugar combinado.
Era a primeira vez que iam nesse lugar, um bar mais afeto as costumes dos irmãos.
Pedro chegou primeiro e tratou de arrumar um lugar mais escondido, talvez temendo
a reação da namorada, logo em seguida, chegou Mariane.
- Carlos? Disse Mariane, no que respondeu Pedro - Marina?
Mais uma vez, a perfeita harmonia de ideias dos dois, trouxe prolongamento
ao inusitado - "se posso enganar meu cunhado/a, é porque minha mudança
foi perfeita"- e ambos seguiram no encontro como se Carlos e Marina fossem,
e não era difícil tal confusão, já que, além
do visual, estavam os dois já tomados por uma certa descontração
etílica.
O namoro de Pedro e Mariane seguia um padrão dos tempos de "só
depois do casamento", enquanto que os irmãos, passavam dias juntos,
em acampamentos ou viagens de local incerto, e provavelmente já se conheciam
muito além dos seios, coisa que nossos novos "góticos"
apenas sonhavam em imaginação de noites insones.
- Bem o que diria minha irmã agora ? ela é tarada...
- Será que meu irmão entra direto no assunto? Ele só pensa
em sexo...
Pois o insólito encontro, se transformou num jogo de adivinhações,
num diálogos de estranhos e no cerco do constrangimento, a saída
oportuna no relaxamento da bebida, e tome vinho a acompanhar a situação.
Lá pelas tantas, num misto de "recém namorados" e "bêbados
apaixonados", veio o esquecimento da farsa e a coragem dos desejos escondidos.
- Vamos sair daqui? Vamos para um lugar mais intimo? Perguntou "Carlos",
ou melhor Pedro.
- É, vamos sim, agente sempre faz isso, não é?
Eles não eram Carlos e Marina, sequer pareciam, mas a situação
era incontrolável, agora não mais cabia a razão da verdade,
somente o prosseguimento da farsa encorajada pela insegurança e covardia,
e o álcool. Nunca estiveram em um motel e a jornada foi longa até
que se encontrasse um que não desse na vista - É até engraçado,
como se os irmãos se preocupassem com isso - e finalmente viram-se nus,
um diante do outro, tomados por um desejo, antes adormecido, por uma inexplicável
força que não conhecia os limites do bom senso. E mesmo diante
da bebedeira e inexperiência sexual, fizeram amor por uma madrugada inteira.
No outro dia, o silêncio, medo, vergonha, arrependimento..., ódio
de si mesmos, como podiam ter feito isso? Uma tripla traição -
ao irmão, ao cunhado, ao próprio amor.
Assolados por um sentimento de culpa avassalador, foram tomados por um silêncio
profundo que se contrapunha aos momentos de entrega há pouco vividos.
Mas por que isto tudo? Por que as palavras faltavam? Afinal aquelas pessoas
que ali estavam nada sabiam da realidade, estavam isto sim sendo usadas. Mais
o por que de se sentirem culpados? Nunca ninguém iria descobrir, afinal
os gêmeos deveriam ser rigorosamente iguais inclusive na intimidade.
Mais o destino as vezes nos prega peças, e ao pagar a conta do motel,
Pedro esquece de assinar o canhoto do cartão de crédito e Marina
esquece o celular no quarto. Ao saírem, são interceptados na recepção
pelo gerente que sutilmente lhes informa: - Seu Pedro, o sr. esqueceu de assinar
o canhoto. D. Mariane, a senhora esqueceu o celular.