E o jovem rapaz se jogou no rio... Sua face estava carregada de cansaço,
de abatimento, de desgosto por tantas prisões e distâncias ao seu
redor. A TV não lhe distraia, assim como os livros, as músicas,
as musas, os parentes, os amigos. Nada!
E o jovem rapaz se jogou no rio... Tinha esperança de ou virar peixe
ou se afogar. Nada mais tinha sentido, o único sentido era o da correnteza
do rio que se jogara. Não se afogou. Por algum mistério ou milagre
da natureza, virara peixe e seu corpo estava repleto de escamas.
E o jovem rapaz se jogou no rio... E virou peixe, e aprendeu a viver no rio.
Começou a visualizar seu lugar no imenso rio, e o lugar dos demais integrantes.
Com pouco esforço atraiu amigos e inimigos, amores e desamores. Talvez
seu desinteresse causasse tanta atração e repulsa.
E o jovem rapaz se jogou no rio... E o tempo passou e ele conheceu toda fartura
e seca possível para um peixe no rio. Por mais de uma vez quase que era
fisgado em pescas humanas, mas com já havia pescado quando rapaz, não
caiu na armadilha. Mas num dia como outro qualquer, o rapaz-peixe, foi pescado
por uma ave pescadora. Esse ataque ele não conhecia.
E o jovem rapaz se jogou no rio... Virou peixe, conheceu as regras do mundo
ribeirinho e foi pescado por uma ave. Do alto, no bico de seu predador, ele
estava próximo de ser engolido, quando numa mistura de sorte e desespero
a fuga foi concretizada. Só que a altura era imensa, e embaixo não
era água e sim chão. Pela distância, ou a morte o levaria
ou o peixe viraria rapaz novamente. Nesse instante ele desprezava ambas opções.
Então ele fechou os olhos e sonhou. Sonhou com um mundo diferente daqueles
que o esperava, sonhou com a liberdade, com o infinito. E faltando poucos segundos
para o chão o absorver, algum mistério ou milagre da natureza
aconteceu, então ele virou ave e começou a voar...