Já estava aposentado. Mas, agora não conseguia ficar parado. Sua
vida sempre fora uma atividade incessante. No princípio passou um tempo
ansioso. Precisava encontrar um passatempo. Algo que desse sentido à
sua vida. Dentro de casa não parava de vasculhar as coisas. Arrumava,
desarrumava. Vivia trocando as coisas de lugar.
Não se lembrava mais quando começou aquela mania de colecionar
todo tipo de bugiganga. Talvez, fosse a diversidade das coisas que chamassem
a sua atenção.
Ficava maravilhado com as variações das coisas. Assim, saía
a procurar, até no lixo, tudo que fosse diferente, exótico.
Sua casa não cabia mais de tanto treco. O espaço dela foi diminuindo,
diminuindo. Assim, já não recebia visitas. Não se tinha
como entrar ali.
Quanto mais havia coisas, em sua casa, para admirar, mais ficava maravilhado.
Aquilo retratava a sua mente. Ela estava sempre entulhada, variando em pensamentos
diversos.
Naturalmente que não conseguia mais dormir. Vivia, como no passado, sempre
ocupado, em atividade. E, aquilo justificava o seu viver.
Nunca tivera filhos. Sequer tivera tempo para namorar e casar. Nunca parou para
pensar se era feliz. Na verdade, para ele, estar vivendo era o que importava.
E, para ele, estar vivendo era estar agindo e, isto, ele estava.
Só saía de casa para vasculhar a redondeza e vê se encontrava
alguma raridade e não se importava se ela estava no lixo ou numa lojinha.
Assim, sua casa foi encolhendo, encolhendo. Quando se deu conta, não
conseguia mais sair dela. Agora também não importava mais. Havia
bastante coisa para arrumar, mexer e desarrumar.
Os vizinhos estranharam porque já fazia muito tempo que não o
viam sair de casa. Ficaram preocupados. Bateram na porta e não houve
resposta. Tentaram várias e várias vezes, chamando o seu nome
e nada.
Ele jamais foi encontrado. O que a polícia conseguiu encontrar ali, naquela
casa, foi apenas um monte de cacarecos.