A Garganta da Serpente
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Professor-historiador realizador de Júri

(Heriomilton Benício de Luna)

Tomando como ponto de partida a problemática que girou em torno da ocorrência de posturas descriminatórias assumidas por alguns professores e alunos de uma escola tradicionalista, cuja tendência manifestou-se através das relações educativas estabelecidas durante a convivência em sala de aula, diante deste fato o professor-jurista entra em cena, comprometendo-se a realizar um evento jurítico conjuntamente com os estudantes deste educandário, objetivando levar esse público escolar a encontrar possíveis soluções através da análise crítico-reflexiva de tal problema.

Movido pelo desejo de mudança comportamental, o referido professor-historiador se propôs a estimular na escola, a conservação de conduta mais humana e solidária, para tanto, sugeriu aos estudantes a realização de um espetáculo de cunho jurídico. Na referida ocasião, o educador-jurista atua como articulador deste espetáculo denominado Júri Popular, o qual contou com a participação dos alunos. Neste evento contemplo-se como temática a africanidade, tendo como foco principal a abordagem pertinente ao preconceito e descriminação racial. A discussão deste tema justificou-se pela constante ocorrência de condutas inadequadas adotadas por parte de alguns professores e estudantes da escola conservadora, em se tratando do relacionamento destes com colegas professores e alunos de cor negra e de baixa condição econômica.

Na tentativa de articular o tema escolhido com o próprio relacionamento diário estabelecido entre professores e alunos, a priori foi exposto o assunto específico e sugerido a turma preconceituosa, o aprofundamento deste conteúdo através de pesquisas. Num segundo momento socializou-se reflexivamente o conhecimento adquirido pelos alunos considerando suas ideias. Posteriormente foi decidido em comum acordo, distribuir cada papel para os devidos integrantes do Júri Popular. A partir de então, foi proposto aos alunos a elaboração de roteiros compatíveis com a contemplada temática abordada no Júri. Antes da apresentação da turma, foram realizados ensaios com o elenco, durante os treinos, o professor-jurista fez as devidas intervenções e ainda sugeriu o uso de roupas e objetos apropriados, como também, a montagem de um cenário a caráter.

A encenação propriamente dita foi realizada no pátio do colégio, onde o início do Júri se deu a partir da problematização envolvendo uma professora novata da escola, cujo público escolar era sócio-econômico e racialmente heterogêneo. A educadora em questão, teve um problema com uma aluna de cor negra e de condição econômica precária. Essa relação foi marcada por forte tendência racista, justificada pela postura descriminatória adotada pela professora durante a convivência com sua aluna. Em sala de aula a educadora manifestava uma conduta seletiva e excludente, onde procurava rebaixar àquela aluna negra, chegando ao ponto de lhe trazer constrangimentos pessoais e traumas psicológicos.

A trama baseou-se no preconceito racial sofrido constantemente pela garota. Cuja jovem era repetidamente desrespeitada pela professora que a humilhava chamando de negrinha burra. Nas arguições feitas em sala, destaca-se que em certa vez, a professora fez uma pergunta direcionada a jovem aluna, apesar dela ter pronunciado a resposta coerentemente com o questionamento da educadora, foi advertida e tachada como displincente e indisciplinada. Em outro momento das atividades educativas, a aluna por ter detectado erros na explanação da educadora, sabiamente questiona o posicionamento de sua professora acerca de um determinado conteúdo por ela explorado na sala de aula. Em virtude dessa observação, a estudante foi agredida moral e fisicamente.

Baseado neste episódio o professor-jurista realizou um Júri Popular, para compor o elenco responsável pelo mesmo, o educador destacou os papeis a serem desempenhados pela turma responsável pelo Júri, da seguinte forma: Um aluno representou o papel de juiz; outro aluno atuou como promotor de justiça; um terceiro aluno assumiu o papel de advogado de defesa; teve um estudante como escrivão; dois alunos como policiais; sete alunos comporam o corpo de jurados; os demais alunos juntamente com o público participante do evento, comporam a plenária.

No decorrer do Júri, foi posto em pauta a problemática acerca do preconceito racial que a aluna sofreu durante a convivência com sua professora preconceituosa. No decorrer das etapas os alunos foram usados como testemunhas contra a professora, os quais dramaticamente confessaram que presenciaram as constantes torturas físicas e psicológicas sofridas pela garota. Na elaboração deste Júri Popular foram discutidas questões pertinentes a africanidade e afro-descendência, nessa ocasião, foi evidenciada a importância sócio-cultural africana para o Brasil e o mundo. Também, foi colocado em foco os sofrimentos e a discriminação racial sofrida pelos negros no Brasil desde o período colonial, que dissimuladamente perduram até os dias atuais.

Como resultado positivo alcançado pela turma, destaca-se o empenho dos participantes do Júri, em busca de absorverem conhecimentos da temática apresentada. Para tanto, os alunos pesquisaram sobre o assunto referente a africanidade e discriminação racial ocorrida no Brasil nos diferentes momentos históricos. O conteúdo explorado foi dinamicamente trabalhado pela turma, onde os alunos tiveram significativa compreensão das questões levantadas e explanadas sistematicamente.

Ao transcorrer alguns dias, percebeu-se mudanças no comportamento daqueles que adotavam condutas errôneas. Sendo assim, confirma-se mais um feito glorioso do professor-historiador realizador de Júri, por ter alcançado seu objetivo de levar os alunos e professores preconceituosos a respeitarem seus colegas pobres e de cor negra. Pois, àqueles ditos preconceituosos, após a apresentação do Júri, passaram a se comportar perante os colegas tratados com indiferença, de forma mais respeitosa e valorativa.

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