A Garganta da Serpente

Hans Christian Andersen

O patinho feio

(Hans Christian Andersen)

O ver�o havia chegado e o tempo estava muito agrad�vel no campo, a planta��o de milho se vestia de dourado, a aveia de verde, e as pilhas de feno, amontoadas nas pradarias, se revestiam de beleza. A cegonha andava por todos os lados com suas pernas longas e avermelhadas, tagarelando no desconhecido idioma eg�pcio, que ela havia aprendido com a sua m�e. Os milharais e as campinas eram rodeados por imensas florestas, no meio das quais podiam se ver riachos profundos. De fato, era muito agrad�vel caminhar pelos campos.

E num recanto ensolarado, ficava uma fazenda muito antiga e aconchegante �s margens de um rio muito fundo, e entre a casa e a regi�o dos rios, folhas de bardanas cresciam livremente, indo at� os lugares mais altos, e debaixo da mais alta de todas elas, uma crian�a podia ficar de p�. O lugar era t�o selvagem como o n�cleo mais central de uma espessa floresta. Nesse recanto confort�vel uma pata repousava em seu ninho, esperando chocar uma nova ninhada; e j� estava come�ando a se entediar dessa tarefa, porque h� muito tempo que alguns pequeninos j� haviam sa�do da casca, e ela raramente recebia uma visita. As outras patas preferiam ficar nadando no rio, do que se arriscarem e subirem suas margens escorregadias, e ficarem sentadas debaixo de uma folha de bardana, para se distra�rem, jogando conversa fora com ela.

Finalmente uma casca de abriu, e depois outra, e de cada ovo sa�a uma criaturinha viva que levantava a cabecinha e dizia, "Pip, pip." "Quack, quack," respondia a m�e, e ent�o, todos eles grasnavam t�o forte quanto podiam, e ficavam olhando por todos os lados para as imensas folhas verdes. A m�e deles deixava que eles olhassem o quanto quisessem, porque ela dizia que o verde fazia bem para os olhos.

"Como este mundo � grande," diziam os patinhos, porque eles haviam descoberto que havia muito mais espa�o ainda do que eles tinham tido quando eles estavam dentro da casca do ovo.

"Voc�s est�o achando que isto aqui � o mundo inteiro?" perguntou a m�e; "Esperem at� que voc�s conhe�am o jardim; ele se estende muito al�m dos campos da casa do padre, mas eu jamais me arrisquei a ir t�o longe. Todos j� est�o fora da casca?" continuou ela, esfor�ando-se para se levantar; "N�o, me parece que o ovo maior ainda est� l�. Fico pensando quanto tempo vou ter de esperar, j� estou cansada de ficar aqui;" e ela voltou a se sentar no ninho.

"E ent�o, como � que a senhora est� passando?" perguntou uma velha pata, que lhe fazia uma visita.

"Um ovo ainda n�o est� chocado," disse a pata, "est� demorando para partir. Mas d� s� uma olhada nos outros, eles n�o s�o mesmo os patinhos mais lindos que voc� j� viu? Eles s�o a cara do pai deles, aquele ingrato, que nunca vem visit�-los."

"Permita que eu d� uma olhada no ovo que ainda n�o se quebrou," disse a pata velha; "Tenho certeza de que � um ovo de peru. Uma vez me convenceram a chocar alguns deles, e depois de todo o cuidado e preocupa��o que tive com os pequeninos, eles tinham medo de �gua. Eu grasnei e cacarejei, mas n�o adiantou nada. Eu n�o poderia permitir que eles se arriscassem. Quero dar uma olhada no ovo. Sim, esse � um ovo de peru; ou�a o que estou dizendo, deixe-o onde est� e ensine os outros pequeninos a nadar."

"Acho que vou ficar sentada em cima dele um pouquinho mais," disse a pata; "como j� faz tempo que estou sentada aqui, mais alguns dias n�o me far�o mal."

"Fa�a como quiser," disse a pata velha, e foi embora.

At� que um dia o ovo grande se rompeu, e um pequenino saiu para fora e gritava, "Pip, pip." Ele era muito grande e feio. A pata ent�o, se assustou com ele e exclamou, "Ele � muito grande e n�o se parece em nada com os outros. Ser� que ele � mesmo um peru?. Logo vamos descobrir isso, quando tiver que entrar na �gua. Ele vai ter que entrar, nem que eu mesma tenha de empurr�-lo."

No dia seguinte o tempo estava ensolarado, e o sol brilhava forte sobre as folhas verdes de bardana, ent�o, a mam�e pata levou os seus filhotinhos at� uma pequena lagoa, e saltou para dentro dela espirrando �gua. "Quack, quack," gritava ela, e um ap�s o outro os pequenos patinhos saltavam para dentro da �gua. A �gua cobria a cabecinha deles, mas num instante eles botavam a cabecinha para fora, e nadavam pra c� e pra l� despreocupadamente chapinhando debaixo da �gua com suas patinhas com muita facilidade, e o patinho feio tamb�m havia entrado na �gua e nadava com eles.

"Oh," disse a m�e, "ele n�o � um peru; ele sabe bem usar suas perninhas, e ele se porta com muita eleg�ncia! Ele � meu filho sim, e ele n�o � t�o feio assim, se voc� olhar bem. Quack, quack! venha aqui com a mam�e, quero levar voc� para te conhecerem, e quero tamb�m apresent�-lo l� no p�tio da fazenda, mas voc� precisa ficar bem pertinho de mim ou algu�m poder� pisar em voc�; e, al�m de tudo, tenha cuidado com o gato."

Quando eles chegaram no p�tio da fazenda, a algazarra era geral, duas fam�lias estavam brigando por causa da cabe�a de uma enguia, que, no final das contas, acabou sendo levada pelo gato.

"Vejam, crian�as, como s�o as leis do mundo," disse a pata m�e, enquanto afiava o bico, pois ela teria gostado de ter ficado com a cabe�a da enguia para ela. "Se virem!, agora, usem suas pernas, quero ver como voc�s se comportam direitinho. Voc�s devem baixar suas cabe�as educadamente para aquela pata velha que vem ali; ela nasceu em ber�o de ouro, e � de descend�ncia espanhola, e dizem, que ela � muito rica. Voc�s perceberam que ela carrega uma fita vermelha amarrada na perna dela, esse � um comportamento muito especial, e uma honra muito grande para uma pata; isso significa que todos devem ter muito respeito por ela, e que ela � admirada tanto pelos humanos como pelos animais. Vamos embora, agora, cuidado com suas patinhas, um pato bem educado os mant�m bem abertos, assim como o papai e a mam�e est�o fazendo, agora, abaixem o pesco�o, e digam "quack" para ela.

Os patinhos fizeram o que a m�e deles havia pedido, mas o patinho que estava chegando ficou assustado, e disse, "Vejam, l� vem vindo uma outra ninhada, como se j� n�o f�ssemos o bastante! e que apar�ncia esquisita tem um deles; n�o vamos quer�-lo aqui," e ent�o, um deles saiu correndo e o bicou bem no pesco�o.

"Deixem-no em paz," disse a m�e dele; "ele n�o est� lhe fazendo nada."

"Sim, mas ele � muito grande e feio," disse o pato mal humorado "e portanto, ele deve ser expulso daqui."

"Os outros patinhos s�o muito bonitinhos," disse a pata velha, a que tinha uma fita na perna, "todos, menos um; gostaria que a m�e dele pudesse dar um jeitinho nele."

"Isso � imposs�vel, sua excel�ncia," respondeu a m�e; "ele n�o � bonito; mas � bem comportado, e nada t�o bem e talvez melhor que os outros. Eu acho que quando ele crescer ele vai ficar bonito, e talvez um pouco menor; ele ficou tempo demais dentro do ovo, � por isso que ele teve algum problema de forma��o;" e ent�o, ela fez um carinho no pesco�o dele e deu uma alisada nas penas dele, dizendo, "Ele � um pato e portanto, isso n�o tem nenhuma import�ncia. Quando ele crescer ele vai ficar forte, e poder� cuidar de si mesmo."

"Os outros patinhos s�o muito graciosos," disse a pata velha. "Bem, fiquem � vontade, e se voc�s encontrarem uma cabe�a de enguia, podem traz�-la para mim." E assim eles ficaram � vontade.

Mas o pobre patinho, que havia sa�do da casca por �ltimo, e parecia t�o feio, era bicado, empurrado e zombado, n�o apenas pelos patos, mas tamb�m por todas as outras aves. "Ele � grande demais," todos diziam, e o peru macho, que tinha vindo ao mundo com esporas, e achava que realmente ele era o imperador, se inflava como um navio a todo vapor, e se atirava em dire��o ao patinho, que ficava com a cabe�a vermelha de tanta raiva, e o coitadinho n�o sabia para onde ir, e se sentia desprezado porque ele era muito feio e todos que viviam no cercado riam dele.

E assim acontecia todos os dias at� que foi ficando cada vez pior. O pobre patinho era maltratado por todos; at� mesmo seus irm�os e irm�s eram descorteses com eles, e diziam, "Ah, voc� � muito feio, quero que o gato pegue voc�," e sua m�e dizia que ela gostaria que ele nunca tivesse nascido. Os patos bicavam ele, as galinhas o derrubavam, e a menina que dava comida para as aves o chutava com o p�.

At� que ele resolveu ir embora pra longe, assustando as pequenas aves do cercado quando ele voava por cima dos mour�es. "Eles tem medo de mim porque eu sou feio," dizia ele. E ent�o, ele fechou os olhos, e voava ainda para mais longe, at� que ele chegou a um grande p�ntano, que era habitado por patos selvagens. Ali ele permaneceu a noite toda, se sentindo muito cansado e entristecido.

Na manh� seguinte, quando os patos selvagens voavam pelo ar, eles ficaram espantados com seu novo companheiro. "Que tipo de pato � voc�?" diziam todos que se aproximavam dele. Ele baixava a cabe�a diante deles, porque ele era um pato t�o educado quanto poss�vel, mas n�o respondia � pergunta deles.

"Voc� � um pato exageradamente feio," diziam os patos selvagens, "mas isso n�o importa desde que voc� n�o queira se casar com algu�m de nossa fam�lia." Pobrezinho! ele n�o tinha sonhos de se casar; tudo o que ele queria era ter permiss�o era se deitar por entre os juncos, e beber um pouco de �gua no brejo.

Depois de ter passado dois dias no p�ntano, eis que dois gansos selvagens se aproximaram, ou melhor, dois filhotes de gansos, porque eles n�o haviam sa�do do ovo h� muito tempo, e eram muito atrevidos.

"Ou�a, meu amigo" disse um deles para o patinho, "voc� � t�o feio, que n�s simpatizamos muito com voc�. Voc� n�o gostaria de vir com a gente, para se tornar uma ave migrat�ria? N�o muito longe daqui existe um outro p�ntano, onde vivem tamb�m algumas belas gansas selvagens, e todas elas s�o solteiras. � a tua chance de conseguir se casar; voc� pode ter sorte, mesmo sendo feio como �."

"Bum, bum," ouviu-se barulho de tiros no ar, e os dois gansos selvagens ca�ram mortos no meio dos juncos, e a �gua ficou tingida de sangue. "Bum, bum," repetiram-se os estrondos � dist�ncia, e um bando inteiro de gansos selvagens levantaram voo dos juncos onde estavam. O som continuava em todas as dire��es, pois os ca�adores haviam cercado o p�ntano, e alguns deles at� estavam sentados em cima dos galhos das �rvores, e de l� viam todo o brejo. A fuma�a azulada das espingardas subia at� as nuvens por cima das �rvores escuras, e �s vezes at� chegavam a atravessar as �guas, de repente, um bando de c�es de ca�a cercava por entre os juncos, que se dobravam diante deles � medida que passavam. Como isso assustou o pobre do patinho! E virou a cabe�a e a escondeu debaixo de sua asa, e no mesmo instante um cachorro grande e pavoroso passou bem perto dele. As suas mand�bulas estavam abertas, a sua l�ngua comprida dan�ava fora da boca, e seus olhos o fitavam assustadoramente. Ele cheirou o patinho com seu nariz, mostrando seus dentes afiados, e ent�o, "splash, splash," entrou dentro da �gua sem sequer toc�-lo.

"Oh," suspirou o patinho, "gra�as a Deus que sou feio; nem mesmo o cachorro quer me morder."

E ent�o, ele ficou ali quietinho, enquanto os tiros ribombavam por entre os juncos, e tiros e mais tiros eram disparados por cima dele.

O dia j� estava acabando at� que tudo ficou calmo, mas nem mesmo a pobre criaturinha n�o ousava se mover. Ele esperou silenciosamente durante v�rias horas, e ent�o, depois de olhar cuidadosamente ao redor, fugiu apressadamente daquele brejo o mais r�pido que conseguiu. Voou por cima dos campos e das pradarias at� que uma tempestade surgiu, e ele n�o tinha mais for�as para continuar a lutar.

Quando a noite chegou, ele chegou a uma cabana pequena e pobre que parecia estar prestes para desabar, e s� conseguia permanecer de p� porque ela n�o havia decidido de qual lado cair primeiro. A tempestade continuava t�o violenta, que o patinho n�o conseguia prosseguir mais; ele se sentou perto da cabana, e ent�o, ele percebeu que a porta n�o estava totalmente fechada porque uma das dobradi�as havia se partido. Portanto, havia uma estreita abertura na parte de baixo, grande o bastante para ele passar, o que ele fez muito tranquilamente, e encontrou um abrigo naquela noite.

Uma mulher, um gato, e uma galinha viviam naquela cabana. O gato, a quem a dona da casa chamava de, "Meu filhinho," era o grande favorito dela; ele sabia arcar as costas, e ronronar, e ele poderia at� lan�ar chispas do seu pelo se lhe fizessem carinho do lado errado. A galinha tinha pernas muito curtas, e ent�o, ela era chamada de "Chica nanica." Ela gostava de botar ovos, e a dona gostava muito dela como se ela fosse sua �nica filha.

De manh�, o estranho visitante foi descoberto, e o gato come�ou a ronronar, e a galinha a cacarejar.

"O que ser� todo esse barulho?" disse a velhinha, olhando por todo o quarto, mas a sua vista n�o era muito boa; portanto, quando ela viu o patinho ela pensou que pudesse ser um pata gorda, que havia fugido de casa. "Oh, que recompensa!" ela exclamou, "Espero que n�o seja um pato, pois gostaria de comer alguns ovos de pata. Vamos esperar para ver."

Ent�o, o patinho teve permiss�o para ficar a t�tulo de experi�ncia por tr�s semanas, mas n�o havia ovos. Agora o gato era o dono da casa, e a galinha era a dona, e eles costumavam dizer, "N�s e o mundo," pois eles acreditavam que eles eram metade do mundo, e tamb�m a melhor metade. O patinho achava que os outros poderiam ter uma opini�o diferente sobre o assunto, mas a galinha n�o permitia que algu�m fizesse esse tipo de questionamento.

"Voc� sabe botar ovos?" perguntou a galinha.

"N�o."

"Ent�o, tenha a bondade de ficar calado."

"Voc� consegue arcar as suas costas, ou ronronar, ou soltar pelos pela casa?" dizia o gato.

"N�o."

"Ent�o, voc� n�o tem nenhum direito de expressar qualquer opini�o quando pessoas sensatas estiverem conversando."

Ent�o, o patinho ficou sentado num canto, sentindo-se desanimado, at� que o sol e o ar fresco come�aram a entrar pela porta que estava aberta, e ent�o, ele come�ou a sentir uma vontade muito grande de nadar e brincar na �gua, finalmente, ele n�o resistiu e contou tudo para a galinha.

"Que ideia absurda," disse a galinha. "Voc� n�o tem outra coisa para fazer, � por isso que voc� tem essas ideias malucas. Se ao menos voc� ronronasse ou botasse ovos, isso n�o aconteceria."

"Mas nadar no lago � uma coisa t�o gostosa," disse o patinho, "e � t�o refrescante enfiar a cabe�a debaixo d'�gua, enquanto voc� mergulha at� o fundo."

"Gostoso, pode acreditar!" disse a galinha, "voc� deve estar maluco! Pergunte ao gato, ele � o animal mais inteligente que eu conhe�o, pergunte se ele gostaria de ir nadar no lago, ou de mergulhar dentro dele, porque eu n�o vou dar a minha opini�o; pergunte � nossa dona, a velhinha que est� ali - n�o h� no mundo pessoa mais sensata do que ela. Voc� acha que ela gosta de nadar, ou de ficar enfiando a cabe�a debaixo d'�gua?"

"Voc� n�o est� me entendendo," disse o patinho.

"N�s n�o estamos entendendo voc�? Quem � que entende voc�, gostaria de saber? Voc� se considera mais inteligente do que o gato, ou a velhinha, a nossa dona? Olha que n�o estou falando de mim mesma. N�o fique imaginado tolices, garoto, e agrade�a a tua boa sorte por ter sido bem recebido aqui. Voc� n�o est� num lugar quentinho, e na companhia de criaturas que podem te ensinar alguma coisa? Mas voc� s� gosta de tagarelar, e a sua companhia n�o � muito agrad�vel. Acredite em mim, estou falando isso apenas para o teu bem. Eu poderia lhe dizer verdades desagrad�veis, mas essa � uma prova da minha amizade. Estou te avisando, portanto, bote alguns ovos, e aprenda a ronronar o mais r�pido que puder."

"Acho que vou sair para o mundo novamente," disse o patinho.

"Sim, fa�a isso," disse a galinha.

Ent�o, o patinho saiu da cabana, e logo ele encontrou uma lago onde ele podia nadar e mergulhar, mas era evitado por todos os outros animais, por causa da sua falta de atrativos.

O outono chegou, e as folhas da floresta estavam ficando cor de laranja e douradas. Depois, como o inverno se aproximava, o vento as pegava ao ca�rem e elas rodopiavam no ar gelado. As nuvens, pesadas por causa do granizo e dos flocos de neve, estavam ficando cada vez mais baixas, e o corvo empoleirado em cima da samambaia, gritava, "Croc, croc." S� de olhar para ele o patinho j� ficava tremendo. E tudo isso era uma situa��o muito desfavor�vel para o coitadinho.

Uma noite, quando o sol estava se pondo no meio das nuvens radiantes, eis que apareceu um grande bando de lindas aves que sa�ram de tr�s da mata. O patinho nunca tinha visto nada parecido antes. Eram alguns gansos, e eles dobravam seus pesco�os graciosamente, enquanto exibiam a sua plumagem de estonteante brancura. Eles emitiam um grito singular, a medida que estendiam suas asas maravilhosas e voavam para longe das regi�es geladas em busca de locais mais quentes atravessando os mares.

A medida que eles subiam para o c�u cada vez mais alto, o patinho feio teve uma sensa��o estranha quando viu isso. Ele rodopiou na �gua como um pi�o, esticou o seu pesco�o para observ�-los melhor, e soltou um grito t�o esquisito que ele mesmo chegou a ficar assustado. Ser� que ele conseguiria esquecer aquelas aves lindas e felizes; e quando finalmente ele n�o conseguiu mais avist�-las, ele mergulhava dentro da �gua, e aflorava de novo � superf�cie com grande excita��o.

Ele n�o sabia quem eram aquelas aves, nem para onde elas haviam ido, mas ele tinha um sentimento em rela��o � elas que ele nunca havia tido antes por qualquer outra ave no mundo. Ele n�o estava com inveja daquelas lindas criaturas, mas ele tinha vontade de ser t�o belo como elas eram. Pobre criatura desprovida de beleza, como ele seria feliz se pudesse viver mesmo por entre os patos se eles o tivessem incentivado.

O inverno ficava cada vez mais frio; e ele era obrigado a ficar brincando na �gua para que ela n�o congelasse, mas a cada noite o espa�o que ele costumava nadar ficava cada vez menor. Finalmente a �gua ficou t�o dura por causa do congelamento, que o gelo na �gua rangia quando ele se movia, e o patinho tinha de remar com suas pernas o melhor que podia, para impedir que o espa�o se fechasse. At� que ele ficou muito cansado, parou e sentiu-se desprotegido, pois a �gua congelava rapidamente.

De manh� bem cedo, um campon�s, que estava passando por ali, viu o que estava acontecendo. Ele quebrou o gelo em peda�os com seu tamanco de madeira, e levou o patinho para casa para junto de sua esposa. E o calor ressuscitou a pobre criaturinha.

Mas quando as crian�as quiseram brincar com ele, o patinho achou que eles poderiam machuc�-lo; ent�o, ele ficou apavorado, e pulou agitado dentro da vasilha de leite, espirrando leite pela cozinha. Ent�o, a mulher come�ou a bater com as m�os, assustando-o ainda mais. Primeiro ele vou em cima do pote de manteiga, depois subiu no barril de cereais, e saiu novamente. Que encrenca ele havia se metido! A mulher gritava, e batia nele com a pin�a de pegar brasas; as crian�as riam e gritavam, e ca�am uma em cima da outra, na correria para pegar o pato; mas por sorte ele escapou. A porta estava aberta; e o coitado do bichinho conseguiu escapar para o meio do mato, e morto de cansa�o ficou deitado no meio da neve que estava caindo.

Mas seria muito triste, se eu tivesse que contar todo o sofrimento e priva��o que o pobre patinho feio teve de suportar durante o impiedoso inverno; mas quando o frio foi embora, ele voltava a ficar no p�ntano, brincando por entre os juncos. Ele sentiu que o sol quente brilhava, e ouviu a cotovia cantando, e viu ent�o, que tudo ao redor era uma linda primavera.

Ent�o, o pobre patinho percebeu que suas asas estavam fortes, porque ele ficava adejando suas asas o tempo todo, at� que subiu para bem alto no c�u. Elas o levaram para longe, at� que ele se viu num imenso jardim, antes que ele percebesse como tudo aquilo tinha acontecido. As macieiras estavam em plena flora��o, e os arom�ticos sabugueiros derramavam sobre o riacho suas longas folhagens verdes que dividiam em dois um gramado plano e todo verde. Tudo parecia maravilhoso, no frescor do in�cio da primavera. De um matagal nas imedia��es surgiram tr�s lindos cisnes brancos, farfalhando suas asas, e nadando graciosamente sobre as �guas tranquilas. O patinho ent�o, se lembrou daquelas aves maravilhosas, e estranhamente se sentiu mais infeliz do que antes.

"Quero voar junto com aqueles p�ssaros reais," exclamou ele, "mas eles v�o me matar, porque eu sou feio e me atrevo a me aproximar deles; mas n�o tem import�ncia: � melhor ser morto por eles do que ser bicado por patos, derrubado por galinhas, ou empurrado pela menina que d� comida para as aves, ou at� mesmo morrer de fome durante o inverno." Ent�o, ele voou em dire��o � �gua, e nadou para onde estavam os belos cisnes. No momento que eles avistaram o forasteiro, de asas abertas correram para encontr�-lo com movimentos assustadores. "Mate-me," disse o patinho; e ele curvou a sua cabe�a para a superf�cie da �gua, e j� estava esperando para morrer. Mas o que ele viu nas �guas cristalinas do lago? A sua pr�pria imagem; n�o era mais uma ave com penas escuras e cinzentas, com apar�ncia feia e desagrad�vel, mas havia se tornado um lindo e gracioso cisne.

Ter nascido no ninho de um pato, dentro de um cercado para aves, n�o tinha nenhuma import�ncia para uma ave, desde que ele tivesse sido chocado de um ovo de cisne.

Ele agora se sentia feliz por ter passado tanta tristeza e dificuldades, porque ele havia se fortalecido para desfrutar ainda mais todos os prazeres e as alegrias que estavam ao seu redor; pois os grandes cisnes nadaram para perto do rec�m-chegado, e com seus bicos faziam carinho em seu pesco�o, dando-lhe as boas-vindas.

No jardim, na verdade, havia algumas crian�as que atiravam sobras de p�o e bolo na �gua.

"Vejam," gritava a menor delas, "ali tem mais um cisne;" e todos os outros ficavam encantados, e corriam para seus pais e suas m�es, dan�ando e batendo palmas, e gritando de alegria, "L� vem vindo outro cisne; e apareceu mais um." Ent�o, jogavam mais p�o e bolo na �gua para eles, e diziam, "O mais jovem � o mais lindo de todos; ele � t�o novinho e bonito." E os cisnes velhos inclinavam suas cabe�as diante dele.

Ent�o, ele ficou todo envergonhado, e escondia a cabe�a debaixo de suas asas; pois ele n�o sabia o que fazer, ele estava t�o feliz, mas n�o era orgulhoso de jeito nenhum. Ele tinha sido perseguido e menosprezado por causa da sua feiura, e agora ele ouvia eles dizendo que ele era a mais bela de todas as aves.

At� mesmo os p�s de sabugueiros faziam rever�ncia para dentro da �gua quando ele aparecia, e o sol estava quente e brilhante. Ent�o, ele farfalhou as suas penas, inclinava seu elegante pesco�o, e gritava alegremente, com todas as for�as do seu cora��o, "Jamais sonhei com uma felicidade t�o grande como esta, quando eu era apenas um patinho feio."

  • Publicado em: 03/04/2017
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