Contemplo, ao nível do jardim, as roseiras e outras as plantas bentrepilhas
só verdes e as gramíneas todas da cor de Absinto. E dançam
voluptuosamente, banhadas pela água da chuva tropical que o céu
escarra misturada ao perfume chocolate-estranhoso e agradável da fumaça
mentolada albina do meu cachimbo velho.
Nauseado da minha humanidade, agoiro o estado dos fatos para mim e eu corro
para abraçar o vaso do corredor. Lá, repugno o que me fizeram
ingerir - toda aquela e essa cancerosa massa gosmosa do meu ser que não
sou eu -, o que ainda havia de cômico em mim.
Eu vou! Regurgito! E escavo a Realidade! E escarra nesse mundo de mediocridade,
pretensão dramática e vil necedade, que vai ante a mim se desfazendo,
e abro espaço para as nuvens sem fuligem e fumegantes do turíbulo
dos meus sonhos, os mais cinzentos e os arco-íris também.
E na poça d'água, sobre os mosaicos daltônicos, já
consigo ver, na confluência das gotas, o delta-nascente dum oceano com
meu nome. É uma miudeza... É um presentinho dos céus a
este príncipe que sou eu-sem-haveres-nem-servos. É uma porção
de pureza sujinha só de Terra, só para mim.
E é nela que todos os dias banhar-me-ei levado pelos braços da
Esperança, pisando as gargantas da Ignorância e Indiferença
(irmãs-trevas gêmeas da Fatalidade); e em mim arrebentarão
só ondas de Amor... Paz!
Trégua, por favor! Me deem uns momentos, poucos me servem, é
tudo o que peço, de paz para escrever, por favor. E viver, se possível,
todas as possibilidades mais impossíveis desses esverdeamento da Realidade
antiaderente. Sim, e o seja antes que acabe a valsa das roseiras do jardim
e a dança incestuosa das gramíneas chegue ao fim, sem mais nem
menos, para mim.