O diminuto vasa expande a grandeza de flor Ainda ontem minhas lágrimas
forcei sobre suas pétalas A água que esvai sobre a terra talvez
não seja tanta. Como poderei aguar minhas flores? Até quando terei
lágrimas para matar a sede? Até onde poderei seguir quando o sol
queimar minha pele e não houver sombra para o meu conforta. O meu desencanto
parece uma erosão em meu peito.
Quisera eu que a beleza da lua, a grandeza das estrelas ofuscassem a soberba
tirania dos homens. Quanta fumaça ainda poderei ver? De quantos pulmões
vou precisar? Navego num rio a na imprecisão das encostas não
sei se verei o mar. Meu pequeno barco encalha e entre garrafas pet, me arrasto
sobre restos de sofá das Casas Bahia. Na certa foi minha tia, ainda penso.
Devo assar o piau que agoniza dentro da carcaça do wolksvagen brasília?
Talvez meu rio não chegue ao mar. Meu canto sofrido ecoa entre fumaça,
fuligem e chaminés que vomitam a gana de homens vis. Se meu rio não
tem mais água para choramingar, talvez devamos chorar até que
as lágrimas o encha. Em Iímpidas paragens quero pescar meu peixe,
o suficiente pra saciar minha fome. Mas a fome é tanta...
A suprema destreza da vida parece não suportar a ganância. O que
era belo, tornou-se um mar de flagelo. A minha retina dói. Não
tenho a força dos heróis. Vou preciar de você. Talvez você
vá precisar de mais alguém e este alguém... Ainda não
aprendi a acreditar nos homens de bem. Acho que sou um homem de mal. De mal
com tudo, pois meus olhos inflamam, a minha garganta aperta por tanta mentira
na cara da oligarquia.
Me falaram de um dia melhor. Me falaram de um alvarecer esmeraldas. Mas quando
acardo, parece ser o mesmo dia. As nuvens me parecem negras. Este ar me sufoca.
Não lembro do canto dos pássaros que em minha janela eu via. Onde
eles estarão? Se não retornarem, talvez eu morra de tédio.
Não vejo televisão. Vou singrar por este mar de solidão.
Será que meu rio secou por tanta água que gastei para lavar a
maçã do hortifruti? Quem sabe o milho que comi era transgênico.
Essa dor em meu peito, deve ser pesticida...
Sinto na boca um gosto de tungstênio. Uma ânsia de energia me recobra
os sentidos e até penso que vou sobreviver. Por um lapso do tempo, ganho
forças e já não fraquejo tanto. Quero soerguer?me a ponto
de tocar as estrelas. Quem sabe eu possa voar e encantrar os pássaros.
Quem sabe eu possa rever meu rio e navegar até o mais límpido
e azul oceano dos meus sonhos...