A Garganta da Serpente
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Imagem ao pé da letra

(Gemima Alves)

No vale de Jequitinhonha passa-se duro a vida , não se tem o principal - o trabalho que seria o tal sustento da família.

Em casa, que também não deveria ser chamada assim, vivem pais e irmãos. Desde cedo ou praticamente em estado de feto saberia que quando nascesse o destino seria trabalhar e trabalhar sem parar um instante sequer, pois é preciso um corpo descansar nem que seja por algumas horas. Nem essas mínimas horas existem, mas confesso que sonhar não é problema pelo menos dizem os grandes doutores que estudaram a vida toda e que sempre ou praticamente foram dependentes dos pais até determinado tempo.

Tempo era o que eu precisava neste momento: quem sabe ir para a cidade grande e lá tentar uma vida melhor, na verdade todos vão em busca da felicidade que nunca chega .E fazendo uma pausa no tempo - irmãos, pais, casa, cantinho, será que seu lugar não é aqui mesmo? - a mente não estaria em variações constantes de um ambicioso corpo mortal.

Sendo a responsável pelos acontecimentos da família , o alvo certeiro se direcionava a mim.

Jovem, praticamente adulta, lembro dos momentos mais joviais na qual considerava-me líder das conversas e brincadeiras de amigos, na qual os apaixonados eram e se tornavam vitimas ligadas saem ao menos perceberem isto...

Gostava muito de brincadeiras do vilarejo, a maneira que se portava o povo, mesmo sendo todos pobres, miseráveis, merecíamos distanciar pensamentos ruins ou simplesmente não fazer parte deles, mas fazendo na real, conjunto desse monopólio de pobreza impregnada aqui, acolá, em qualquer lugar, lugarejo minúsculo, primitivo, distante, como esse onde habitam alheios a mim. Pensam que já que as coisas são assim tem de ser porque Deus quer, e o homem - carne podre - que se acaba em pouco tempo pelo adubo servente da terra sepulcral que corrói sem privilégios as perdas, nem ganhas, te fazem refletir as coisas, a idade faixa para esse sócio clube de sofrimentos que muitos passam pelo motivo de sobrevivência: fome enorme, fator de autossustento corporal interno e externo, válido mantedor de cargas de equilíbrio e apelo emocional presente em questões diárias.

Realmente minha infância não foi uma infância propriamente dita, digamos que foi uma passagem como aula de assistir um filme à tarde numa televisão sem cor e sem imagem, aquela que se vê da janela ao pé da letra e que vai pegando suas formas...

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