No vale de Jequitinhonha passa-se duro a vida , não se tem o principal
- o trabalho que seria o tal sustento da família.
Em casa, que também não deveria ser chamada assim, vivem pais
e irmãos. Desde cedo ou praticamente em estado de feto saberia que quando
nascesse o destino seria trabalhar e trabalhar sem parar um instante sequer, pois é preciso um corpo descansar
nem que seja por algumas horas. Nem essas mínimas horas existem, mas
confesso que sonhar não é problema pelo menos dizem os grandes
doutores que estudaram a vida toda e que sempre ou praticamente foram dependentes
dos pais até determinado tempo.
Tempo era o que eu precisava neste momento: quem sabe ir para a cidade grande
e lá tentar uma vida melhor, na verdade todos vão em busca da
felicidade que nunca chega .E fazendo uma pausa no tempo - irmãos, pais,
casa, cantinho, será que seu lugar não é aqui mesmo? -
a mente não estaria em variações constantes de um ambicioso
corpo mortal.
Sendo a responsável pelos acontecimentos da família , o alvo certeiro
se direcionava a mim.
Jovem, praticamente adulta, lembro dos momentos mais joviais na qual considerava-me
líder das conversas e brincadeiras de amigos, na qual os apaixonados
eram e se tornavam vitimas ligadas saem ao menos perceberem isto...
Gostava muito de brincadeiras do vilarejo, a maneira que se portava o povo,
mesmo sendo todos pobres, miseráveis, merecíamos distanciar pensamentos
ruins ou simplesmente não fazer parte deles, mas fazendo na real, conjunto
desse monopólio de pobreza impregnada aqui, acolá, em qualquer
lugar, lugarejo minúsculo, primitivo, distante, como esse onde habitam
alheios a mim. Pensam que já que as coisas são assim tem de ser
porque Deus quer, e o homem - carne podre - que se acaba em pouco tempo pelo
adubo servente da terra sepulcral que corrói sem privilégios as
perdas, nem ganhas, te fazem refletir as coisas, a idade faixa para esse sócio
clube de sofrimentos que muitos passam pelo motivo de sobrevivência: fome
enorme, fator de autossustento corporal interno e externo, válido mantedor
de cargas de equilíbrio e apelo emocional presente em questões
diárias.
Realmente minha infância não foi uma infância propriamente
dita, digamos que foi uma passagem como aula de assistir um filme à tarde
numa televisão sem cor e sem imagem, aquela que se vê da janela
ao pé da letra e que vai pegando suas formas...