Instruções: Antes de ler, atribuir um número a X. De
cada vez que encontrar "X" no texto, substituir por esse número.
Ler a história várias vezes.
"O senhor sobe aquela rua, vira na última à esquerda, e
depois é a primeira à direita".
Quando estava a varrer a cozinha, a Carochinha encontrou um cheque ao portador.
Era uma quantia elevada. O dinheiro não traz a felicidade, mas ajuda,
e ela decidiu que estava na altura de deixar de sentir pena de si própria
e de lutar.
Correu ao banco depositar o cheque. No dia seguinte, foi para uma clínica
de desintoxicação. Ao fim de alguns meses, parecia outra pessoa,
tinha abandonado a droga, recuperado a autoestima, estava disposta a lutar
pelo amor. Investiu em vestidos e joias para se pôr bonita, voltou
ao ginásio, reduziu a quantidade diária de calorias, começou
a ir a festas da alta sociedade. Conheceu vários homens, mas nenhum lhe
agradava. Ou era o tom de voz, ou era a aparência, ou eram as conversas,
havia sempre algum defeito que a afastava.
Até que conheceu o João. O João tinha os defeitos dos outros,
mas fazia-lhe lembrar alguém que amara. Saíram algumas vezes,
o amor nasceu e solidificou-se. Começaram a usar o anel de compromisso,
o pedido de casamento foi feito de joelhos numa festa pública, toda a
gente aplaudiu quando ela disse "sim". Seguiu-se o anel de noivado,
depois o vestido, os preparativos da boda, a aliança.
Viviam felizes, mas havia um segredo. Como eram de um círculo social
elevado, só comiam o que era recomendado pela etiqueta. Farto da comida
insípida dos ricos, o João ia, sem que ela soubesse, de vez em
quando a um restaurante "de pobres", comer petiscos ou feijoada. Ela
nunca desconfiou, porque tinha problemas de olfacto.
Um dia, o João estava tão cansado de esperar pelo seu feijão-frade
com bacalhau, que foi à cozinha do restaurante ver o que se passava.
Entrou, e como não viu ninguém, espreitou para dentro do caldeirão.
O resto é previsível. Caiu no caldeirão, cozeu mais depressa
que o feijão. X=X+1.
Pobre viúva. Era o Xº marido que perdia. Mandou cremar o corpo,
guardou as cinzas num armário feito de propósito para guardar
as cinzas dos maridos. Chorou durante meses, pensou que nunca mais seria feliz.
Vendeu tudo o que era do marido, mas não conseguiu esquecê-lo.
Como num melodrama americano, meteu-se no álcool e nas drogas, perdeu
tudo o que tinha, ficou sem dinheiro, hipotecou a casa.
A sua história atraiu a imprensa cor-de-rosa e chegou ao conhecimento
de um milionário viúvo, que se comoveu muito. Passou um cheque
com uma quantia elevada, ao portador, chamou o criado mais fiel e mandou-o levar
o cheque à casa daquela pobre mulher. Pela Xº vez, o criado sentiu-se
tentado a roubar o cheque. E pela Xº vez, não foi capaz de trair
a confiança do patrão. Procurou a morada dela na lista e pôs-se
caminho. Não lhe foi fácil encontrar a casa, teve de seguir as
instruções dos transeuntes que interpelou pelo caminho.