Aparício ganhou uma cabra. Novinha ainda. E a bichinha foi crescendo, comendo,
do bom e do melhor, do que sobrava de comida do Hotel Familiar. Resto de frango
frito, maionese, macarronada, couve e tutu com torresmo... cabrinha não
perdoava nada. Traçava tudo. Menos capim, porque capim ela nem via. De
vez em quando lá ia o Aparício e sua cabra rua a fora para um passeio,
assim como as madames fazem com seus cãezinhos perfumosos. Mas coisa inocente,
sem malícias. De jeito nenhum Aparício tinha más intenções
com sua cabra e a recíproca devia ser verdadeira. Amanda era o nome dela.
- Paríço, pruquê ocê não dá capim pr'essa
cabra?
- Não. Quero caçá moda não, sô! Capim é
muito dificultoso aqui na cidade. Quero acostumá a bichinha malacostumada
não.
E toca-lhe frango frito, maionese, macarronada, couve e tutu com torresmo...
Num certo dia aparece em Tabuí um caminhão do governo. Carregadinho
de fardos de capim pangola, ainda verdolengo, para ser distribuído aos
fazendeiros. Novidade na região. Quem aprovasse ganhava sementes do dito
cujo. Aparício resolveu fazer a cabrinha provar do capim. E Amanda não
se fez de rogada. Botou pra quebrar. Comeu um fardo inteirinho da novidade. Mas
teve uma reação estranha para sua mansidão cabral tão
conhecida. Começou a pular e a berrar que ninguém segurava a danadinha.
Nem seu dono, com todo o carinho do mundo, acariciando-a até nos cantinhos
mais indiscretos, conseguia acalmar a bichinha.
- Dá água prela, Paríço! Água ajuda. Água
relaxa...
E trouxe o Aparício um balde com dez litros d'água que Amanda sorveu
duma golada só. Depois de muito pulo e berro a danadinha ficou mais calma
e, embora com a barrigona grande, deixou o pessoal passar a noite no sossego.
Mas tristeza maior do Aparício não tinha acontecido ainda. Aconteceu
de manhãzinha. Amiguinha não mais acordou. Morreu empanzinada. Estourada
de tantos gases provocados pela desgraça da novidade chamada capim pangola.