É uma pena. Eu lhe escrevia tantas e tantas cartas de amor, algumas leves,
alegres, outras contando e reclamando ou apenas deixando entrever alguns problemas,
mas sempre perpassadas de desejo, saudade e muita, muita paixão, já
que mesmo de longe, eu ainda o via e sentia do mesmo jeito de antes. E pensava
poder segurar aquele amor, para quando ele voltasse. De longe. Mas suas cartas
foram se espaçando, espaçando...
Acho que, nele, o amor amadureceu depressa demais, passou do ponto, murchou.
E a caneta com que eu lhe escrevia virou e-mail, a dele depois do e-mail virou
nada. E a minha caneta, ele passou a vê-la amarelecida, não mais
caneta, mas uma simples pena, daquelas de antigamente, antes ainda da caneta-tinteiro.
Hoje é de fato apenas uma pena, que me olha de cima da escrivaninha e
ameaça adentrar minha pele e da qual desvio o olhar, sem perceber que
ela já vive em mim sob a forma de mágoas e penas. Um amor tão
bonito, morrer assim, sem quê nem porquê é, de fato, uma
pena.