A Garganta da Serpente
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Apenas uma pena

(Esther Torinho)

É uma pena. Eu lhe escrevia tantas e tantas cartas de amor, algumas leves, alegres, outras contando e reclamando ou apenas deixando entrever alguns problemas, mas sempre perpassadas de desejo, saudade e muita, muita paixão, já que mesmo de longe, eu ainda o via e sentia do mesmo jeito de antes. E pensava poder segurar aquele amor, para quando ele voltasse. De longe. Mas suas cartas foram se espaçando, espaçando...

Acho que, nele, o amor amadureceu depressa demais, passou do ponto, murchou. E a caneta com que eu lhe escrevia virou e-mail, a dele depois do e-mail virou nada. E a minha caneta, ele passou a vê-la amarelecida, não mais caneta, mas uma simples pena, daquelas de antigamente, antes ainda da caneta-tinteiro. Hoje é de fato apenas uma pena, que me olha de cima da escrivaninha e ameaça adentrar minha pele e da qual desvio o olhar, sem perceber que ela já vive em mim sob a forma de mágoas e penas. Um amor tão bonito, morrer assim, sem quê nem porquê é, de fato, uma pena.

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