Estou a dormir neste monte de salgueiros bravos, gotas de orvalho povoam o
meu sangue. Nevoeiro matinal branco frio desperta-me. Abro os olhos, o cheiro
intenso dos pinheiros verdes invade-me de alegria, está frio, a aurora
ergue-se rasgando a escuridão com uma trama de raios sublime, a hora
mais bela do dia.
O sol vai alto, o frio longe, o calor é intenso e húmido, sufoco,
a dificuldade em respirar atira-me de encontro à terra, estou parada,
deitada, inerte, o sol vai alto e o ar é demasiado quente para continuar.
O olhar atento, extremamente vivo de uma coruja fixa a minha atenção,
a lua está cheia, bola esfera perfeita ilumina a noite romântica
com que fecho os olhos. VEJO-TE, brilho intenso, não te quero largar
mais. O sol quente bate-me nos olhos, deixei-me dormir, carrego-te em mim como
um raio de esperança, mesmo sabendo que jamais irei ouvir o teu sorriso,
sentir o teu abraço, ouvir a tua voz enquanto estiver aqui.
Encerro-me debaixo de uma árvore alta, mais alta que a vida como gostavas
de definir a minha imaginação. A sombra destas folhas protege-me
contra o sol mortiço, mais uma vez vens ter comigo e é como se
nunca tivesses partido. A tua respiração cessou, já não
vive aqui, saber isso é insuportável, a minha vontade é
cessar também, mas por uma razão qualquer, não posso.
Finalmente as montanhas, saí deste matagal de folhas verdes encarnado,
madeira viva, e vou de encontro à estrada da civilização.
A neve nos picos alegra o meu olhar, começam a romper do céu pequenas
gotas de chuva, as nuvens carregadas de cinzento ameaçam tempestade.