A Garganta da Serpente
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Os diários de abril

(Elton das Neves o Anjo das Letras)

Quinta feira, 11 de abril de 07,13: 00 h e 20 min.

Querido diário, hoje mais do que nunca estou me sentindo triste e sozinha, não entendo muito do que ultimamente me vem acontecendo. Édipo está tão diferente comigo, desde que venho lhe falando dos enjoos que venho tendo!Eu sei que sou ainda muito jovem pra assumir a responsabilidade de uma suposta gravidez, pois só tenho dezesseis anos, alguns diriam que o que fizemos foi errado, pois estas mesmas pessoas falariam que não temos idade ainda, pra pensarmos ou nos entregarmos aos desejos e delícias do sexo. Mas querido diário, apesar de sermos dois jovens adolescentes, já algum tempo sentimos um tesão desenfreado um pelo outro, pois quando estamos juntos parece que um mecanismo imediatamente é ativado pelo nosso cérebro em nossos corpos, como se uma torrente de hormônios fossem liberados na nossa corrente sanguínea, e essa química dos nossos corpos jovens entrasse em ebulição, e não pudéssemos mais nos controlar. Sei que na televisão, na escola, e até nas ruas, todo mundo fala da importância da camisinha, mas naquele dia, e isso foi em uma segunda-feira, e estou falando da nossa primeira vez, e pelo que me lembro foi no dia 1de março. Ficamos sozinhos na casa dele, seus pais tinham saído para fazer compras, seu irmão mais velho estava na faculdade, a empregada da casa tinha ido ao dentista, e depois de tomarmos um rápido lanche, fomos para o quarto dele, começamos á nos beijar, a coisa começou a esquentar, nem eu e nem ele tínhamos camisinha!Eu até aquele momento ainda era virgem, Édipo tinha um pouco mais de experiência do que eu, pois algumas tantas meninas antes de mim, haviam passado em sua vida. Ele prometeu que não iria chegar até o final, pois chegamos á dizer um ao outro que sem camisinha seria perigoso, e assim depois de fazermos essas considerações, voltamos a nos beijar e a nos acariciar, até que ficamos desnudos e tudo que tinha de acontecer, aconteceu.

14 de abril de 07, 12h00min.
Meu caro amigo diário estou com muito medo, pois ultimamente a Mônica me vem falando de uns enjoos, e sei que ela pode estar grávida de mim, pois depois daquela primeira vez em meu quarto, acho que foi em uma segunda-feira no primeiro dia do mês de março quando naquela oportunidade ficamos á sós em minha casa ,chegamos por mais três vezes ainda á transar sem camisinha, lembro-me que em todas essas quatro vezes comentamos um com outro sobre os perigos de fazermos sem proteção, mas eu disse á ela que sabia o que eu estava fazendo, que quando chegasse a hora eu iria gozar fora, que era experiente nisso, que havia feito assim, com outras garotas, e havia dado certo. Eu estou um pouco confuso, não sei se estou preparado para ser pai?!Cara eu só tenho dezesseis anos, que sei eu da vida?Eu não trabalho ainda, pois sou menor de idade, não tenho nem como me suster, como vou sustentar a Mônica e uma criança nossa?Diga-me você, caro diário. Tomara que estes enjoos contínuos sejam problemas estomacais sem importância alguma!Ela me disse que ia fazer o teste de farmácia, e depois iria me procurar pra me dizer qual foi o resultado, que Deus nos ajude.

17 de abril de 07, 14h35m.
Meu querido diário, telefonei para a Sandra uma amiga minha, contei-lhe tudo que estava ocorrendo comigo e com o Édipo, falei-lhe principalmente da desconfiança de uma suposta gravidez. Sandra é quatro anos mais velha do que eu, no alto dos seus vinte anos já é mãe, pois aos dezoito ficara grávida de um cara que no final nem quis saber de nada. Será que Édipo que diz que jura me amar, agirá assim também comigo?Oh Deus, não, te imploro que não!Pois eu o amo muito!Caro diário, ela vai comigo á farmácia e farei o teste da urina em sua casa, como ela é minha melhor amiga, uma pessoa em que realmente posso confiar, e como também Sandra já passou por isso, não conheço melhor pessoa para estar ao meu lado, e me apoiar nesta hora, se de repente o exame de gravidez der positivo.

17 de abril, de 07, 16h e 20m.
Meu caro diário, eu estava no meu quarto, quando o telefone na sala tocou, minha mãe então o atendeu, e chamou-me dizendo que era para mim. Antes de pegar o fone, perguntei-lhe quem era, e ela simplesmente me respondeu que era a minha namorada, a Mônica. Imediatamente, movido pela ansiedade peguei o mono - fone da mão de minha mãe, e o colocando junto ao meu ouvido direito, do outro lado da linha pude ouvir a voz chorosa de Mônica. Eu perguntei então o que houve, ela então me disse que estava na casa de uma de suas amigas, mais especificamente na casa da Sandra, que por ser sua melhor amiga, era sua confidente por ela sempre procurada. Sem dizer muita coisa ela pediu-me que fosse até lá, que precisávamos nos falar. Não perdendo tempo, peguei a minha bicicleta, pois Sandra não morava muito longe de onde ficava minha casa, e pedalei á toda velocidade, pois a angústia que me trazia aquela ansiedade em querer saber o que ocorrera no resultado do exame, me sufocava. Mônica nem me precisava dizer que era sobre o exame que ela queria me falar, eu simplesmente sabia, o que meu caro diário, mais podia ser?

19 de abril de 07, 12h00min
Meu querido diário, não posso quase descrever sem sentir vontade de chorar, a cena constrangedora da qual eu e Édipo fomos protagonistas, quando ao chegar á casa de Sandra pude então lhe contar o resultado do exame de gravidez. Nunca me esquecerei da expressão decepcionada, frustrada, e ao mesmo tempo angustiada no rosto do meu amado Édipo. Depois de perguntar várias vezes á nós duas, eu e a Sandra, se nós tínhamos certeza sobre o resultado do teste de gravidez de farmácia que eu havia feito, e depois dele mesmo ler as informações na embalagem do produto do exame, para depois consultar várias vezes o próprio exame, tendo então assim se convencido do resultado final do teste - ele então ficou por uns momentos em silêncio, simplesmente olhando fixamente para o resultado do exame que segurava em suas mãos que suavam frio, pra logo depois deixar grossas lágrimas caírem silenciosamente, por seu lindo rosto deflagrado pela dor. Eu tentei lhe dizer que tudo ia ficar bem, que se ficássemos unidos, poderíamos passar por aquela situação difícil em que nos encontrávamos, sem nos machucarmos seriamente. Que o que importava naquele momento é o fato de que nos amávamos, e que o nosso amor seria suficiente para nos amparar naquele momento de dificuldade, e que apesar de ainda sermos muito jovens para assumir-mos uma responsabilidade como aquela, iríamos ser pais, e um filho mesmo em uma situação de gravidez indesejada, era uma dádiva, e não um castigo dos céus. Édipo então, teve uma reação não esperada por mim e pela Sandra, pois ficamos ambas chocadas com o que presenciamos da parte dele. Em um acesso de pura fúria, ele agarrou-me pelos braços, e me perguntou se eu tinha consciência do que eu estava falando, que história era aquela de nós dois sermos pais?Falou-me ainda que éramos dois adolescentes incapazes de cuidar de nós próprios, como iríamos cuidar de uma criança?!Indagou-me sobre o que nossas famílias, principalmente os nossos pais, pensariam sobre aquela história toda!E finalmente concluiu dizendo que tínhamos feito isso sim, a maior besteira de nossas vidas, que tínhamos jogado pela janela toda a nossa juventude, e dali em diante além de continuarmos estudando muito, não poderíamos nos divertir tanto como antes, pois teríamos agora uma criança em nossas vidas pra cuidar. Ao terminar esta ultima frase, Édipo me joga em cima do sofá da sala da casa de Sandra, e possuído pelo ódio e pela frustração por tudo que soubera ali, naquela sala, da minha boca e da de Sandra, ele se retira do aposento em que estávamos, batendo violentamente á porta atrás de si. Depois deste dia, ele tem ó meu querido diário como tu bem o sabes, evitado falar comigo.

20 de Abril de 07, 13: h e 15m.
Meu caro diário, depois de ter saído de forma intempestiva da casa da melhor amiga de Mônica, a Sandra, e de ter dito á Mônica coisas que sei que não deveriam ser ditas por ninguém, pois te confesso ter perdido á cabeça ao ouvir da boca daquelas duas, o que eu mais temia e não queria ouvir!Pois eu soubera que no alto dos meus dezesseis anos seria pai, haja cabeça pra segurar uma novidade dessas, meu Deus!Lembro-me que parei com minha bicicleta em que pedalava á todo gás, na pracinha perto da minha casa, em que sempre ficava com a Mônica após virmos da balada da matine á noite, sentei-me em um banco, e ali chorei amargamente. Chegando em casa, depois de ter desabafado através do choro, reuni na sala toda a minha família, meus pais, meu irmão mais velho e meus avós paternos, que naquele dia estavam á nos visitar. A noticia é claro caiu como uma bomba bem no meio da sala lá de casa, como não poderia ter sido diferente, não é meu caro diário?- até Rosa a empregada, ficou consternada com a situação, pois ela sempre teve um carinho muito especial por mim. Meu pai foi quem mais se lamentou, dizendo que eu fora um irresponsável, pois tanto eu como Mônica éramos ainda duas crianças, e, portanto, que aquilo deveria ter sido á ultima coisa em nossas vidas á ter acontecido. Virando-se para minha mãe depois de ter muito gritado e esbravejado, contra mim, Deus e o mundo, finalizou dizendo á ela, que no final á coisa toda iria sobrar pra ele, pois como eu era menor de idade e por consequência disso não trabalhava, ele teria que arcar com a pensão alimentícia da criança, que eu o havia ferrado, que não bastasse as bocas que tinha pra sustentar em sua casa, agora teria á de um neto pra suster. Minha mãe ao mesmo tempo em que estava abalada com aquela surpreendente situação, estava condoída por mim e por Mônica, e pra não ver as coisas mais agravadas do que já estavam, pacientemente pediu ao meu pai para que se acalmasse, e que ficar nervoso, e adotar um espírito de agressividade de nada iria adiantar, mas que tal atitude só deveria piorar as coisas. Meu avô concordando com minha mãe e achando que aquilo tudo tinha ido longe demais, se pronunciou pedindo também ao meu pai que tentasse esfriar a cabeça. Pois agora teriam de pensar em dar apoio aos jovens, no caso eu e Mônica. Pois o que estava feito estava feito, e nada neste mundo iria mudar aquela realidade que todos nós teríamos de enfrentar, de que eu seria pai. Caro diário, vou lhe confessar uma coisa, aqueles momentos foram com certeza os piores de toda a minha vida. Desde quando saí totalmente transtornado da presença de Mônica e Sandra na casa desta última, procurei evitar falar com Mônica, pois mesmo sabendo que ela não era a única culpada pelo que nos acontecera, de certa forma, lá no meu subconsciente, eu á culpava sim, pelo fato dela estar grávida de mim.

25, de Abril 15: h 00m.
Querido diário foi dificílimo ter tido que contar á minha família de que eu apenas com dezesseis anos, estava grávida do meu namorado!Sandra foi comigo até minha casa, para estar ao meu lado quando eu fosse contar tudo á eles. Participaram da reunião, os meus pais, meus dois irmãos, dois tios meus, irmãos do meu pai, e minha avó materna que mora conosco. Foi horrível, meu pai ficou pálido como se um vampiro tivesse sugado todo seu sangue, minha mãe de tão atônita ficou por alguns minutos parada, estática no sofazinho em que estava sentada. Todos por alguns breves momentos apenas se olhavam, parecendo não poder acreditar no que estavam ouvindo, eu a sua menininha, estava grávida?-assim que o meu pai se recuperou do choque, levantou-se bruscamente do sofá em que se sentara, seu sangue pareceu então de súbito retornar á sua face, então um furacão de movimentos e palavras angustiadas, cheias de indagações, estupefação, e por vezes acompanhada de fúria, muito parecida com a que eu presenciara por parte de Édipo, passaram por nossa sala, levando-me e tragando-me com a violência destruidora de sua funesta passagem. Meu pai com lágrimas nos olhos, me perguntava se era assim que eu lhes pagava, á ele e a minha mãe, pelos anos de amor e cuidado extremos que eles me haviam dedicado,se era desta forma que eu o retribuía pelo fato de todos os dias ele ter de sair cedo de casa, para ir trabalhar com o intuito de oferecer o melhor para que eu e os meus dois irmãos tivéssemos um futuro brilhante.
E depois de ter se perguntado mil vezes aonde havia errado, por fim deixou-se quedar no mesmo sofazinho, em que no inicio de nossa conversa estava sentado, totalmente cansado, exausto pelo choque daquela noticia surpreendente. Minha mãe também tinha lágrimas nos seus olhos, e depois de me perguntar á quanto tempo eu mantinha relações sexuais com o Édipo, aonde elas aconteciam, e por que apesar de tantas informações que tínhamos á respeito da importância de fazermos sexo seguro através do uso da camisinha, não o tínhamos feito, e após ouvir minhas explicações, ela de forma resoluta, depois lógico, de ter pedido calma á meu pai, e também aos meus tios e á minha avó e irmãos que tinham ficado chocados com tudo aquilo, levantou-se, dirigiu-se ao telefone, e fazendo uma ligação para casa dos pais de Édipo, pediu para que eles fossem até a nossa casa para uma conversa, foi quando minha mãe soube que Édipo naquele mesmo dia, e alguns poucos momentos antes, já os havia informado sobre aquela complicada situação. Querido diário, mesmo depois da difícil conversa que as duas famílias tiveram de tratar, para que juntas pudessem resolver o que seria feito á respeito da minha gravidez,reunião essa que nem eu e o Édipo participamos, ele não tem atendido meus contínuos telefonemas, recados que envio via celular e por meio de emails. Édipo parece achar que fiz de propósito, que engravidei por que quis, esquecendo-se ele que eu não tinha muita experiência em termos de vida sexual. E que fora ele que me iniciara, desvirginando-me, e me garantindo às vezes em que transamos sem camisinha, que pelo fato de já ter alguma experiência em atividades sexuais com outras garotas, até mais velhas do que ele, na hora agá, gozaria fora, coisa que engraçado, pelo que eu me lembro o Édipo nunca fez. Será que os garotos querido diário, vem com esse papo de serem experientes e que por isso mesmo tem um certo controle sobre seu corpo, afirmando que quando chegar a hora, vão gozar fora, apenas para convencerem nós garotas de transarmos com eles no momento em que querem, mesmo não tendo uma camisinha á mão, não importando então os riscos, mas apenas se importando em sentir prazer, se importando apenas em matar o tesão que está se sentindo naquela hora?Agora entendo por que algumas amigas minhas de colégio com a mesma idade do que eu, além de estarem na mesma situação do que a minha, a de estarem grávidas, tem a sua situação agravada pelo fato de também terem sido infectadas pelo vírus H I V. Coisa que não ocorrera comigo, pois fui ao ginecologista acompanhada pela minha mãe, fiz todos os exames que me foram necessários, que indicaram que tudo está bem, logo iniciarei meu tratamento de pré-natal.

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27de Abril de 07, 13h00min.
Meu querido diário, como me sinto só, envolvida pelo abandono e pelo desprezo das pessoas, no colégio todo mundo já sabe, sinto que todos olham de forma diferente pra mim, percebo quando um grupinho formado por meninos e meninas ao me verem passar, cochicham me lançando por vezes olhares de sarro e escárnio, não é necessário ser adivinho pra saber sobre do que ou de quem estão falando, não é mesmo, meu querido diário? Até os professores por mais que queiram disfarçar, não conseguem camuflar quando dois ou três se encontram casualmente no corredor da escola, iniciando assim um rápido papo. Que ao me verem vindo caminhar levando comigo meu material escolar, para dirigir-me á sala de aula, de que naquele mesmo instante ao me visualizarem, o assunto mesmo que breve, é o que costumeiramente está em pauta em toda a escola, a minha precoce gravidez. Mas o que tem realmente me doído e corroído por dentro, não é este tipo de atitude de gente estranha, mas o comportamento daqueles que sempre disseram me amar e querer bem! Das ultimas pessoas deste mundo, que eu achava que em um momento como este, não iriam me tratar com o desprezo e frieza com que estavam me tratando. E falo de algumas pessoas de dentro da minha própria casa, do meu pai, que evita tocar ao máximo no assunto, e tem evitado também olhar para minha cara, e por consequência também tem evitado falar comigo! Meu DEUS querido diário, nunca esperava que este tipo de atitude pudesse partir do meu próprio pai. Ele que sempre foi muito amoroso comigo, sempre me tratou com extremo mimo, pois vivia á declarar pra quem quisesse ouvir que eu era a sua bonequinha de porcelana, a maior riqueza que ele tinha na vida. Meu pai decerto amava meus dois irmãos, mais pelo fato de eu ser a única menina entre seus três filhos, isso fazia com que ele tivesse um carinho especial por mim. O desprezo do meu pai era um reflexo do sentimento que ele vinha nutrindo em seu coração desde que soubera de minha gravidez! Pois para ele a sua filhinha querida o havia traído, que de certo modo eu havia sabotado os planos que ele havia criado de forma meticulosa para minha vida. Meus irmãos por sua vez ao contrário do meu pai ainda conversavam comigo, mas era evidente que as coisas haviam mudado!Em seus olhares era transparente que estavam profundamente decepcionados comigo, enquanto ao fato de não terem parado de me dirigir à palavra como meu pai o fizera, bem, do modo como estavam fazendo, eu preferia que o tivessem feito! Porque eles procuravam falar apenas o necessário, e quando o faziam, eu notava que era muito á contra gosto deles. Somente minha mãe e avó não só continuavam á me tratar como antes, mais como se isso fosse possível, elas pareciam que tinham redobrado seu amor, atenção e dedicação para comigo. Acho que pelo fato delas serem mulheres, elas sabiam pelo que eu estava passando,é incrível como nós mulheres em situações como essas, nos compreendemos mutuamente e procuramos permanecer unidas, tentando assim nos ajudar. Por fim, como golpe de misericórdia para de vez me abater e me aterrar ao solo, havia ainda o fato de que eu fora abandonada em silêncio por Édipo. Minha mãe telefonara algumas vezes e outras tantas fora em sua casa, para conversar com a mãe dele! E tendo perguntado á ela porque o seu filho não atendia meus telefonemas nem no telefone residencial e nem no celular, e ainda porque não fora me ver em nossa casa, a mãe de Édipo explicara que como fora para mim e para todos nós, o acontecimento da minha gravidez o havia abalado psicologicamente e emocionalmente. E por consequência ele precisaria de uns dias para se refazer do abalo sofrido, pois ainda sua cabeça não assimilara muito bem, que ainda muito novo ele seria pai. Mas que tanto ela como seu marido, já haviam conversado com ele, e o conscientizado que chegaria o momento em que ele teria que me procurar de novo, e que nem passasse por sua cabeça fugir ás suas responsabilidades em relação á mim e a criança, porque eles não permitiriam tal atitude de sua parte. Mas em meu intimo eu não queria que ele fosse forçado á fazer nada que não quisesse, se fosse para estar ao meu lado e da do nosso bebê, que Édipo o fizesse por livre e espontânea vontade.

29 de Abril de 07, 13h0025min.
Caro diário tive uma conversa séria com meu pai, pois ele me procurara para falar comigo, pois notara que desde que tudo acontecera, e eu estou falando do fato de que eu e Mônica vamos ter um filho, eu mergulhara num mar de tristeza e desolação. E ele me fez ver, o quanto eu fora injusto com a minha namorada, culpando-a por algo que não fora só ela que fizera sozinha! Pois em meu intimo como já havia afirmado á você meu caro diário, talvez no meu subconsciente eu culpasse Mônica por aquela situação de gravidez fora de hora, e por consequência indesejada por todos nós. E por fim, meu pai também me fizera enxergar que parte desta minha infelicidade era pelo fato de que eu á amava mais do que eu pudesse pensar! E que no fundo no fundo, eu estava era mesmo sentindo a falta de Mônica e de seu amor, e que me afastando dela como eu fizera, julgando-a injustamente, eu estava era mesmo fazendo com que nós dois, tanto eu como ela, ambos muito infelizes. Então tomei a decisão de ir vê-la em sua casa, pequei minha bicicleta e como sempre faço quando estou superansioso, pedalei á toda velocidade, empregando todas as forças de minhas pernas. Quando estava já próximo da casa da família de Mônica, vislumbrei estacionada bem em frente ao portão de sua residência, uma ambulância com o seu giroflex aceso, piscando. Desci imediatamente da bicicleta passei pela ambulância, e invadi praticamente a casa de Mônica entrando pela porta da frente que estava entreaberta, ganhando então a sala, e só assim pude ver uma cena que fez meu coração gelar, estaquei dominado pelo terror, que parecia me invadir todo, por cada poro do meu corpo. Meus olhos não queriam acreditar no que eles viam, não seria possível que aquela cena surreal para mim, fosse na verdade real. Duas enfermeiras acompanhadas por um médico, conduziam Mônica em uma maca que deslizava sobre quatro rodas, totalmente imobilizada, e para meu total horror, suas vestes estavam tintas do vermelho do seu sangue. Sua mãe estava ao seu lado em prantos, seu pai parecia em estado de choque, não parecia haver o mínimo vestígio do rubor de sangue em seu rosto, mesmo assim ele demonstrava querer amparar sua esposa, segurando-a em seus ombros, seus dois irmãos tinham seus rostos cobertos por suas mãos que tentavam ocultar a presença das lágrimas, ao mesmo tempo que parecia que aquele gesto,era um gesto de total horror aquela cena dantesca, á de Mônica se esvaindo em sangue. Ao perguntar atônito á avó de Mônica, que era sacudida por um choro convulsivo e incontrolável o que ocorrera, tanto quanto foi possível ela enunciar as palavras para poder me dizer então o que havia acontecido, a pobre velhinha me dissera que sua neta havia cortado os pulsos. Meu caro diário creio que errei ao te dizer que o choque que dei á minha família noticiando que seria pai aos dezesseis, fora o pior momento de toda a minha vida. Ao ver Mônica naquele estado, percebi o quanto eu estava errado naquela minha primeira impressão. Pois aquele momento sim, assistindo aquela cena que mais parecia á de um filme de terror, pude perceber que eu ali, no meio da sala da casa da família de Mônica, estava vivenciando a pior situação de toda minha ainda curta vida, pois pude entender, que eu não só corria o risco de perder o grande amor da minha vida, como também um filho que ainda não chegara a conhecer.

30 de Abril de 07, 1500hs.
Meu querido diário, quase que faço a pior besteira de toda minha existência, quase que joguei não só a minha vida toda fora como á do meu inocente bebê também. Mas Deus parece escrever certo entre linhas tortas, pois só me lembro de que depois de ter cortado os meu pulsos com o afiado estilete do meu irmão que peguei de dentro da sua mochila escolar, em dentro do banheiro da minha casa, sangrei sozinha por uns instantes, quando então depois de alguns minutos escutei vozes á me chamar do lado de fora do recinto aonde eu me encontrava. Como fiquei sem responder os chamados que foram feitos em vão, antes que tudo em minha volta se apagasse, escutei um forte estrondo na porta do banheiro, e pude ainda ver o rosto horrorizado do meu pai se aproximando, e me perguntando o que eu havia feito. Quando acordei, dei-me por mim em um quarto de hospital sentindo-me um pouco fraca, mais tarde minha mãe me informara de que eu havia perdido muito sangue. Depois de ser examinada pelo médico, que nos garantiu de que eu iria me recuperar,deixando porém muito claro de que eu tivera muita sorte de escapar ilesa do que fizera á mim mesma, e tendo eu havendo perguntado sobre o estado do meu bebê que eu ainda carregava em minha barriga que não estava aparecendo por ser aquele mês , o primeiro de minha gestação, ele também afirmara que a criança também tivera muita sorte, e que eu não me preocupasse pois ela estava fora de perigo, ao menos fora isso que os exames haviam lhe mostrado. Quando pude ter a oportunidade de ficar á sós com minha família, fui indagada como não poderia ser diferente, por que afinal de contas eu fizera aquela loucura, de ter atentado contra minha própria vida. Expliquei-lhes que não suportava mais, como todos á minha volta me tratavam, pois na escola eu era motivo de chacota para os meus colegas que me julgavam atrozmente por meio de olhares e sorrisos de escárnio e malícia, cochichos em rodinhas quando por elas eu passava, cochichos esses que sempre terminavam em gargalhadas estrondosas ás minhas costas. Nem meus professores conseguiam disfarçar direito quando eu os surpreendia falando de mim. Mas o que me deixara mais chateada e desesperada, fora o que eu encontrara em dentro da minha própria casa!Quando daqueles que eu achava que me amavam ou deveriam me amar mais que tudo, encontrei em suas atitudes e comportamento em relação á mim, o mais pleno e frio desprezo que poderia encontrar de alguém. Como se eu tivesse feito algo de muito errado e de forma proposital para querer atingi-los e fazê-los extremamente infelizes. Eu dissera essas palavras olhando fixamente com lágrimas de dor nos olhos para o meu pai, e meus dois irmãos, os três tinham também em seus olhos, lágrimas que escorriam abundantemente em suas faces chorosas. O que se seguiu aquilo, jamais esquecerei mesmo que passem mil anos em minha vida. Meu pai caindo definitivamente em prantos, se ajoelhara ao pé de minha cama, e num choro convulsivo e emocionado, começou á me pedir perdão, dizendo que fora um insensível, e que eu o perdoasse por tudo que era mais sagrado, pois segundo ele, eu era o maior tesouro de sua vida. Sua filhinha única querida, e que se alguma coisa tivesse acontecido á mim por sua culpa, ele jamais iria se perdoar. Meus irmãos por sua vez se debruçaram sobre mim em minha cama, tomados pelo choro do arrependimento pela sua atitude fria e desumana que tinham tomado contra mim nos últimos dias, pediram-me perdão também, dizendo-me que assim como o nosso pai, eles nutriam um sentimento de grande amor por mim. Nossa querido diário, nunca chorei tanto em toda minha vida. Então depois de chorarmos todos juntos, e isso se some a minha mãe e avó que estando ambas presentes e tendo assistido aquela cena comovente, não puderam se conter, e também haviam caído no choro, que agora era mais de alegria do que de tristeza, por notarem que os homens de nossa casa haviam se apercebido e se arrependido do comportamento vil que haviam adotado em relação á minha pessoa, pelo fato de eu ter engravidado em uma idade precoce. Querido diário então me aconteceu algo inesperado, mas posso confessar-te que era o que eu mais esperava e sonhava no mais intimo do meu coração. Na verdade além de ter de novo o amor de toda a minha família por mim restaurado, o que vi era o que eu mais queria em toda a minha vida. A porta do meu quarto no hospital em que eu estava internada, lentamente se abre, e quem vejo entrar acompanhado por sua mãe, querido diário?-meu mil vezes amado Édipo, mais lindo do que nunca. Meu pai e irmãos concedem passagem á eles que se aproximam do meu leito. Então acontece algo que de vez faz a minha felicidade completa, e meu Deus querido diário, já fazia muito tempo que eu não sabia o que era a mínima felicidade, imagina uma como aquela, de tamanho gigantesco, e que eu naquele mesmo momento estava sentindo. Pois o meu amado príncipe, se aproximando da cama onde eu estava deitada, carinhosamente me abraça! E por sua vez, como meu pai e irmãos fizeram, Édipo me perde perdão pelo fato de que no seu intimo tivesse me culpado pela minha gravidez não planejada, e como poderia ser não é meu querido diário, se éramos ainda tão jovens pra planejar tal coisa? E também por ter me abandonado no momento em que eu mais precisava dele, tratando-me com desprezo e total indiferença. Bom neste momento tão feliz, eu meu querido diário, já estava me afogando em lágrimas, que graças ao meu bom Deus, agora já não eram mais lágrimas produzidas pela mais profunda tristeza, como a que eu estava sentindo á alguns dias atrás,mais eram da mais pura alegria e plena felicidade. No final meu querido e inseparável amigo diário, eu pude uma coisa perceber e entender! Que por mais que os homens criem armas poderosas de destruição em massa, ou que alguns outros se sintam extremamente poderosos por serem ricos, ou por terem cargos ou postos de grande influência e poder político, não há neste mundo uma força mais poderosa, do que a força do amor.

Existem amores...e existe um amor especial, apenas uma vez em nossas vidas... este tipo de amor pertence ao Céu, é incondicional e ele será para sempre... como uma marca cósmica, uma infinita lágrima de alegria e um abraço sem fim! O difícil é descobri-lo, discerní-lo, em meio às tempestades do nosso coração.
Autor Desconhecido

Ser profundamente amado por alguém nos dá força;
Amar alguém profundamente nos dá coragem.

Lao-Tseu

Ao contrário do ouro e do barro, O verdadeiro amor, dividido, não diminui.
Shelley

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