A Garganta da Serpente
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A velha

(Eduardo Borsato)

Casa de Abigail. Tardinha. Ela, no quarto, agoniza. As visitas, duas vizinhas, na sala.
- Sentiu o cheiro?
- Credo!
- Aquela doença.
- Credo!
- Está lhe comendo o rosto.
- Credo!
- Viu, não viu?
- Onde a coragem?
- Até a língua. Sobrou só um cotoco.
- E tratamento?
- Bem que tentaram.
- Tudo?
- Espiritismo.
- Tudo?
- Sessão de descarrego.
- Tudo?
- Vidas passadas.
- Tudo?
- Sabe no queu acredito? Sabe?
- Hun?
- A velha.
- A velha?
- Maus tratos.
- Mas morta?
- Volta.
- Volta?
- Todos os dias. Não ouve?
- Não...
- Morando aí do lado?
- Bom...
- Dez e meia. Em ponto.
- Durmo cedo.
- Logo depois da novela. Não vê?
- Meu marido implica.
- Amarrava a velha numa cadeira.
- Coitada.
- Amordaçava a velha.
- Coitada.
- Pra levar homem pro quarto.
- Verdade?
- Toda noite um diferente.
- E a velha?
- Urrava. Que mais?
- Que horror.
- Acabou morrendo. Coração. Fulminante.
- E ela?
- A filha? Caiu doente. Logo, logo. No enterro já passava mal.
- Castigo?
- A velha vem comer ela. Cada dia um pedaço.
- Nossa!
- Começou pelo rosto. Agora...

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