Recolhia-lhe os beijos babados, cobria-se de asco. Ah, como os agonizava. E
em público, a maioria das vezes em plena rua, imagine! E o caminhar de
mãos dadas, dedos entrelaçados, oh, a agonia de seu curvo corpo
junto ao seu corpo recurvo, o insustentável arroto depois do cafezinho,
a dentadura frouxa, e todos os sonhos perdidos, a linda menininha dos tempos
de colégio, a linda mocetona dos peitos a saltar do porta-seios, os perdidos
partidos "esse é o Izaltino, filho de nosso futuro deputado",
o sujeitinho baixotinho, já meio careca, o riso bobão, um dos
muitos que ela desprezou entre a sobremesa e o licorzinho de morango só
ainda não desconfiava e muito menos reconhecia os fios da teia que a
lhe emparedar já começavam
Ai, que o tempo,
O tempo, Deus meu,
É tarefa de Zebedeu.
Ou de uma das Graças. De leve, levezinho, ela o foi tecendo e ela, de
leve, levezinho, nele se foi perdendo
E a dor final aconteceu,
e ela, a partir daí,
Só os beijos babados
Os dedos entrelaçados
Da vida mereceu.