A Garganta da Serpente
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A ex-Miss

(Eduardo Borsato)

Recolhia-lhe os beijos babados, cobria-se de asco. Ah, como os agonizava. E em público, a maioria das vezes em plena rua, imagine! E o caminhar de mãos dadas, dedos entrelaçados, oh, a agonia de seu curvo corpo junto ao seu corpo recurvo, o insustentável arroto depois do cafezinho, a dentadura frouxa, e todos os sonhos perdidos, a linda menininha dos tempos de colégio, a linda mocetona dos peitos a saltar do porta-seios, os perdidos partidos "esse é o Izaltino, filho de nosso futuro deputado", o sujeitinho baixotinho, já meio careca, o riso bobão, um dos muitos que ela desprezou entre a sobremesa e o licorzinho de morango só ainda não desconfiava e muito menos reconhecia os fios da teia que a lhe emparedar já começavam

Ai, que o tempo,

O tempo, Deus meu,

É tarefa de Zebedeu.

Ou de uma das Graças. De leve, levezinho, ela o foi tecendo e ela, de leve, levezinho, nele se foi perdendo

E a dor final aconteceu,

e ela, a partir daí,

Só os beijos babados

Os dedos entrelaçados

Da vida mereceu.

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