Há dias que ficamos a esperar. Falo no plural, enquanto que neste quarto,
estou só a digitar. Abro uma revista literária. Leio um conto
que acho chato. Leio um poema tão caprichado e pulo para a seção
de links. Será que encontro outro algo?
Dou de cara com uma foto. Arte feita em solo. Um artista pega um cortador de
grama e desenha algo enorme e feio num gramado. Arte feita especificamente para
um lugar. Tem um nome importado para isso. Eu não quero digitar o nome.
Pode ser uma birra. Pode ser que eu ame pouco as palavras. Afinal, eu só
arranho em inglês e meu português é pobre. Meu vocabulário
seria o básico arroz, feijão e bife. Não que eu não
leia gente cheia de palavras, mas não as uso, porque não as guardo.
Mas como eu gosto daquele poema em que li volutas, palavra que nem sei o significado.
Li o poema faz anos. Guardei o poema. Releio ele com frequência e
ainda não procurei o significado de volutas no dicionário. Eu
tenho mais de um dicionário à minha disposição.
Essa semana eu perdi a casa do meu jogo. Essa semana eu perdi a capa dos meus
velhos pertences. Eu não sei o porquê desta perda, mas ela se deu.
Não houve choro. Tive que mudar. Não consegui solucionar meu problema
e ninguém me ajudou a solucioná-lo. Mudei e me enchi de vermelho.
Uma nova organização para coisas desnecessárias.
E começo a ler uma revista que está escrita em espanhol. Compreensão
regular. Estou numa seção que se chama resistências. Leio-a
e escrevo. Escuto música, uma hora de som que baixei da Internet, um
dj. Vou preenchendo o espaço em branco da folha do computador, meio que
ao acaso. Será que o leitor se sentirá enrolado se eu chegar ao
final da folha? Posso dizer que estamos a viver uma aventura.
Meus ouvidos agradecem a Terry Lee Brown Jr. Minha coluna reclama e minha bunda
também. Eu digito sentada e não numa sentada só. Já
faz um tempo que me dedico a essa aventura. Posso apagá-la num piscar
de olhos. Posso tentar chegar ao fim da página. E retroceder? Como se
daria retroceder neste caso?
Não há tempo para pensar como seria. Já estou quase lá.
Queria poder chamar de lar. Mas ninguém diz, ou não se costuma
dizer, que cheguei ao lar. Vejo o fim da página. Minha relação
com você leitor termina aqui.