Hoje é mais um dia como qualquer outro, minha íris continua branca,
cega para enxergar a luz da tua ofensa, colérica, mas, deslumbrada com
a patética pastosidade do licor do meu corpo.
Assim, prossigo na viril altitude, chegando no ápice da tua mitocôndria,
te fazendo sentir o meu cheiro, num afago simples e rotineiro.
Meus pêlos eriçados vislumbram a rugosidade epitelial, somatizada
a camurça que sinto se recostar a mim. Sinto o vigor do pressionamento
dos poros, conjugados, em um ritmo ardente com a magnitude da dilatação
dos mesmos, excitando a vida como obra de arte.
Quando suas pirâmides papilares percorrem o meu corpo, ouço e exalo
sons, sofridos, angustiantes, mas para quem não obteve a dádiva
de ser um objeto carnal.
Eu que me expresso contaminado-te com minha ironia, excretada pelos forames que
formam o meu corpo, peço que não rejeite o perfume das flores vermelhas
que eu te dei, hemáceas de cor viva e aspecto fulminante, percorrendo o
ar até chegar a sua retina, aonde podes perceber, toda a clareza e facilidade
com que meus átrios e ventrículos pulsem a vida, para o lugar onde
tudo isso se resume em uma só palavra.