Quando eu cheguei perto da loja, aquela senhora vinha tão apressada que
deu-me um esbarrão involuntário. Sem jeito, desculpou-se e seguiu
em frente, com passadas tão rápidas que eu não pude evitar
de ficar olhando. A mulher virou na primeira esquina e desapareceu da mira do
meu olhar. Fiquei conjeturando o que levaria uma pessoa a andar assim, tão
açodada, como se cada minuto gasto fosse o último.
Eu nunca consegui andar assim. Mesmo tendo vivido mais de vinte anos em São
Paulo, sempre andei calmamente, até destoando daquele burburinho que
tanto me encantava. Eu caminhava entre aquelas pessoas de passos acelerados
como se estivesse ali a passeio. Não era proposital. Era meu jeito de
ser. Ainda é.
Mergulhada em meus pensamentos, passei diante da loja de CD's e nem percebi.
Quando fui notar, já estava a uns cem metros adiante. Soltando um suspiro
de autocensura, comecei a fazer o trajeto de volta.
Mal havia dado alguns passos e percebi uma aglomeração logo adiante.
Parecia ser em frente da loja de CD's. Com certa cautela, fui me aproximando.
Logo ouvi o barulho de sirenes e pude ver a ambulância e a viatura policial
que estavam chegando.
Intrigada, perguntei a um senhor o que havia acontecido. A loja de CD's
havia sido assaltada há poucos minutos, disse ele. O caixa estava em
estado grave e uma cliente havia sido mortalmente atingida por dois tiros. O
assaltante fugira.
Saí dali consternada, pensando se as coisas acontecem por acaso ou se
tudo está predestinado. Não fosse aquela mulher apressada que
me desviara os pensamentos e me fizera não entrar na loja naquele instante,
poderia ter sido eu a pessoa atingida.
Não pude deixar de pensar se havia sido o acaso que me fizera driblar
a morte, como naquele filme ou, simplesmente, minha hora não havia chegado...
Quando deixei o local, nem ao menos me lembrava de que saíra de casa
só para comprar o último CD dos Titãs. Senti meu corpo
todo arrepiado de frio. Olhei para o termômetro da praça, que marcava
35°C.