Beatriz, mãe e avó, devia ter no máximo 50 anos. Estava
sempre de bem com a vida, como se jamais tivesse enfrentado qualquer adversidade.
Eu a conheci há muito tempo, em um laboratório de produtos oftálmicos,
onde eu trabalhava como assistente executiva de diretoria. Beatriz exercia o
modesto cargo de auxiliar administrativa, pois não tivera chance de preparar-se
melhor em sua juventude.
Apesar de toda aquela alegria, sabíamos que Beatriz, ou Beata, como
a chamávamos, tinha problemas e muitos. No entanto, nunca a vimos reclamar.
Vivia sorrindo. Beata era um anjo de luz dentro da empresa. Seu "bom dia"
enchia de sol o ambiente.
Quando Beatriz via as pessoas tristes, principalmente nós, os mais jovens,
sempre dizia: "Não se queixem das pedras que lhes são colocadas
no caminho. Ainda que elas machuquem seus pés e lhes dificultem a jornada,
são essas pedras darão impulso para o seu crescimento espiritual,
para que suas almas se aproximem de Deus."
Conselheira, Beatriz continuava: "Quando se virem diante de um problema,
ajoelhem-se e agradeçam ao Senhor por lhes dar a oportunidade de crescer
um pouco mais, até que possam, um dia, ter crescido o bastante para poder
olhar nos olhos de Deus".
Embora nossa juventude ainda não nos tivesse trazido sabedoria, podíamos
ver que Beatriz era sincera em tudo o que dizia, pois acompanhávamos
sua vida, seus problemas e o seu sorriso constante. Eu a admirava muito, sentia
por ela um grande afeto, mas não tinha maturidade para seguir o exemplo
de sua conduta de indestrutível bom ânimo.
Depois, a vida nos dispersou. Eu saí daquela empresa, outros saíram,
Beatriz aposentou-se e eu nunca mais soube dela. Se eu procurar nos meus guardados,
deverá haver uma foto de Beata, com seus cabelos prematuramente brancos,
que ela se recusava a tingir, sorrindo, feliz, por estarmos na sua casa naquela
festa de aniversário.
Neste momento, escrevo em completa nostalgia. Quisera poder dizer à Beata
que tudo o que ela disse é a mais sábia verdade. Só agora,
depois de tantos tropeços e prantos, sou capaz de entender sua lição
de vida.
Fico tentada a buscar os velhos amigos, de quem eu nunca mais soube e perguntar
por ela. Mas já se passou tanto tempo que Beatriz deve estar, com seu
melhor sorriso, olhando, para todo o sempre, bem lá no fundo dos olhos
de Deus...