A Garganta da Serpente
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Anjo de luz

(Dorcila Garcia)

Beatriz, mãe e avó, devia ter no máximo 50 anos. Estava sempre de bem com a vida, como se jamais tivesse enfrentado qualquer adversidade.

Eu a conheci há muito tempo, em um laboratório de produtos oftálmicos, onde eu trabalhava como assistente executiva de diretoria. Beatriz exercia o modesto cargo de auxiliar administrativa, pois não tivera chance de preparar-se melhor em sua juventude.

Apesar de toda aquela alegria, sabíamos que Beatriz, ou Beata, como a chamávamos, tinha problemas e muitos. No entanto, nunca a vimos reclamar. Vivia sorrindo. Beata era um anjo de luz dentro da empresa. Seu "bom dia" enchia de sol o ambiente.

Quando Beatriz via as pessoas tristes, principalmente nós, os mais jovens, sempre dizia: "Não se queixem das pedras que lhes são colocadas no caminho. Ainda que elas machuquem seus pés e lhes dificultem a jornada, são essas pedras darão impulso para o seu crescimento espiritual, para que suas almas se aproximem de Deus."

Conselheira, Beatriz continuava: "Quando se virem diante de um problema, ajoelhem-se e agradeçam ao Senhor por lhes dar a oportunidade de crescer um pouco mais, até que possam, um dia, ter crescido o bastante para poder olhar nos olhos de Deus".

Embora nossa juventude ainda não nos tivesse trazido sabedoria, podíamos ver que Beatriz era sincera em tudo o que dizia, pois acompanhávamos sua vida, seus problemas e o seu sorriso constante. Eu a admirava muito, sentia por ela um grande afeto, mas não tinha maturidade para seguir o exemplo de sua conduta de indestrutível bom ânimo.

Depois, a vida nos dispersou. Eu saí daquela empresa, outros saíram, Beatriz aposentou-se e eu nunca mais soube dela. Se eu procurar nos meus guardados, deverá haver uma foto de Beata, com seus cabelos prematuramente brancos, que ela se recusava a tingir, sorrindo, feliz, por estarmos na sua casa naquela festa de aniversário.

Neste momento, escrevo em completa nostalgia. Quisera poder dizer à Beata que tudo o que ela disse é a mais sábia verdade. Só agora, depois de tantos tropeços e prantos, sou capaz de entender sua lição de vida.

Fico tentada a buscar os velhos amigos, de quem eu nunca mais soube e perguntar por ela. Mas já se passou tanto tempo que Beatriz deve estar, com seu melhor sorriso, olhando, para todo o sempre, bem lá no fundo dos olhos de Deus...

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