- Está aqui e tem lá os seus motivos.
- É tudo que tens para dizer?
É o patrão da Glória buscando um meio de livrar-se da
preocupação que uma gravidez provoca.
Mas era tudo sim que havia para dizer. Racionalizar não faz diferença
alguma nesses casos.
Pensar no futuro? Isso sim! Toda a ocitocina que seu corpo fabricasse de agora
em diante lhe produzia um efeito pulsativo. Ela pulsava numa direção
que desaguava na vida. Fosse o que fosse, Glória tinha agora motivação
para viver.
Terminava de passar o café e servia duas xícaras, olhando suas
roupas íntimas secando na varanda. Um silêncio percorreu o aposento
junto de uma lufada de vento vinda de fora, um rugido de asfalto. O trânsito
fluía lá embaixo.
- Açúcar ou adoçante? - Glória perguntou olhando
a cinta de banha de Rogério.
- Adoçante. - respondeu, distraído, lembrando do marasmo que o
acometia quando pensava em exercícios físicos. - Estou de dieta.
E mirando a exposição das coberturas íntimas da guria:
- Aquelas coisinhas vão deixar logo de servir. Se tu atrasar o aluguel
da pensão, juro que te boto da porta para fora.
- Eu me viro.
- Todas dizem isso! - debochou o pachorrento.
- Me viro mesmo. - e Glória era pura tranquilidade. - Fetiche é
a natural das perversões masculinas; pode deixar que eu tomo no cu.
- Combinado.