Decepciono-me ou me decepciono? Comigo mesmo, é claro. Não sei.
Tenho sérios problemas com o uso de pronomes, advérbios, tempos
verbais, concordâncias e sentimentos compartilhados. Coisas da língua
e de língua, já que a minha sempre foi muito solta, mesmo nas
horas impróprias. Sou assim, fazer o quê.
Arrumando os pertences dela, hoje, foi que pude perceber quantas quinquilharias
um casal reúne com o passar dos anos, de saboneteiras a peças
de artesanato. Tudo sem o menor valor, talvez sentimental, talvez; e olhando
para seu corpo descendo de elevador até o fundo da cova, que pensei o
quanto tudo aquilo era ridículo. Nascemos, vivemos e morremos. Sem sentido
demais. Puta clichêzão, tudo bem, tá certo, mas é
real. Pensar que pagamos um dinheirão para ter um jazigo onde eu, ela
e as meninas poderíamos descansar em paz. Maior besteira que já
fiz, diga-se de passagem, porque como todos sabem, morreu: fudeu. Um cemitério
bonitinho, cafézinho, água gelada, ar condicionado na capela,
e a vantagem de um elevador sem escalas com o ticket só de ida. Jesus!
Ela tinha medo até de escada rolante!
Demais. A situação era quase engraçada, se não fosse
um funeral é claro, não sou gelado assim. O caixão descendo
devagarzinho, mansamente, todos chorando, inclusive a cunhada que ela odiava,
uma cena de drama com certeza, e eu, com meus botões, só conseguia
pensar que ela deveria, se pudesse, estar se cagando de medo do passeio de elevador.
Elevador. Eleva dor. É a língua de novo.
Logo após o funeral, como era de se esperar, foram todos para a nossa
- só minha agora - casa. Uma fila interminável de pêsames,
condolências e palavras encorajadoras. Amigos, irmãos, parentes
nem tão amigos assim, filhos, enfim, toda a equipe. A fila parecia interminável
do meu ângulo de visão. A duras penas consegui aproximar-me de
minha filha mais velha, Carol, que em sua tentativa de me consolar, terminou
por se debulhar em lágrimas e teve um princípio de colapso nervoso,
frescura mesmo, em bom português. Um dos convidados (?!), não me
peçam para lembrar quem, teve a presença de mais de um espírito,
para sair-se com essa: "Gente, vamos deixar o homem descansar, ele precisa
se recuperar coitado." Não sei o que se passa na cabeça dos
mais jovens, quando deveria, uma vez que não nasci com esta idade. Nada
contra, paranoia nenhuma com essa questão. Bom, no meu tempo -
coisa de velho, é eu sei - eu desejava saber como seria minha vida no
estágio em que ela se encontra agora, como seriam meus filhos, todos
os três, meninos, claro: Huguinho, Zezinho e Luisinho. Isso com uns 10
mais ou menos, menino precoce, sempre pensando no futuro, pensando, não
planejando, prestem atenção, até porque mais tarde, no
segundo ano por aí, aprendi que quem vive de futuro é cartomante.
Mas tinha tudo já pensado, ah isso tinha. Como só a moça
das cartas é que sabe o que vai acontecer, Carmem deu a luz a três
meninas. Piada do destino. Amo-as de todo meu coração. Só
não engulo a ideia de ter que conviver com os cretinos que elas
arrumaram para dividir suas escovas de dente e outros apetrechos que faço
questão de nem pensar, que é para não perder o sono. Sei
lá, paranoia? Neste caso talvez quase que com certeza. Pois é,
os mais jovens não planejam, pensam, e pensam errado, minhas filhas aí
como exemplo. É duro para um pai, e quem é sabe, ter de conviver
com o cara que está comendo a sua filha; sim a mesma que estava linda
na primeira comunhão, usando o vestidinho de rendinha que a madrinha
deu. O tempo passa e a rendinha continua, só que desta vez com uma conotação
completamente equivocada, pelo menos pra você, meu velho.
Acho que vou doar esta merda toda. Carmem gostaria que eu fizesse isto. Mas
peraí, gastei uma boa parte dos últimos anos justamente não
fazendo o que ela gostaria que eu fizesse, e agora vou manter o ritmo. Vou exorcizar
os demônios velados de um casamento frustrado, queimando todas as suas
coisas querida. Uma enorme fogueira, ardendo e ardendo, até queimar os
adultérios, as visitas à casa da sogra, as estúpidas viagens
que eu não queria fazer, todo o dinheiro gasto inutilmente em tantos
anos de casados. É isso. "Cadê o álcool?" Se pelo
menos o telefone parasse de tocar...
- Alô?
- Agenor, é o Renato. Tá segurando bem as pontas?
- Defunto não tem ponta Renato.
- Você meio que esperava né? Nessa idade em que nós estamos...
é foda.
- É eu sei, eu sei. Por hora só quero relaxar, esquecer.
- Tudo bem. Se precisar, me liga. A Suzana tá mandando um abraço.
- Outro. Tchau.
Que vida. Grande homem que sou. Por um motivo que nem mesmo sei, não
consegui e não consigo derramar uma lágrima. Minha senhora se
foi e eu aqui pensando onde vou jantar hoje. Não sei mesmo o porquê
de ter esta capacidade ou incapacidade de chorar em enterros e ou desgraças
mundiais, quando em contrapartida, saí do Titanic com os olhos vermelhos
e choro em final de novela. Já faz dois anos que dispensamos nossa empregada.
Carmem atendendo a meus insistentes pedidos, acatou a possibilidade de vivermos
sem a presença de um lacaio particular. Jamais aceitei a ideia
de ter um estranho em seu lar, fazendo besteiras que você mesmo, com toda
certeza, poderia levantar a bunda e fazer, além do que, essa cultura
de empregada existente no Brasil é de um mau gosto terrível e,
por que não, criminosa. Por exemplo, uma que acredito que todos já
tenham ouvido: "A Dinda é como um membro da família."
Tá bom. Estranho, o fato de somente eu ter reparado, ao longo dos anos
de servidão dedicada, que a tv dela estava com defeito ou que o muquifo
em que ela dormia era mais próximo de uma cela do que de um quarto, ou
ainda, ser o único a se impressionar e pressionar para que ela jantasse
a mesa, junto com todos e não na cozinha, senzala moderna. "Amor,
agora ela quer um aumento, pode?! Essa gente vou te contar... devia era estar
agradecida por ter um emprego, um lugar para dormir, é mole?!" Essa
era Carmem. Seus maiores problemas englobavam decisões importantes do
tipo em que lugar passaríamos as férias das crianças, qual
salão de beleza agora estava na moda e qual shopping tinha uma liquidação,
sempre imperdível claro.
O engraçado é que não foi sempre deste jeito, Carmem era
uma mulher exuberante quando a conheci, ou era só paixão, sei
lá. A vida era outra. Saída recente da infância e entrada
relâmpago na adolescência, descoberta de João do Rio, até
a faculdade e os franceses. Cheio de ideais e cachaça com mel. Nascido
e criado em apartamento, escapei por pouco de ser otário (acho), meio
que no asfalto meio que no morro fui forjando meu modo de ser, assim sem jeito
para ser malandro, algo mais para um híbrido de malandro-otário,
se é que existe tal combinação. Ainda no tempo em que se
casava virgem (as mulheres, claro), bonde e um monte de outras coisas. Telefone...
- Alô?
- Papai, lembrei de um detalhe, não discutimos sobre uns pertences de
mamãe, que eu gostaria de ficar... umas coisas em barro, lá de
Minas acho... e também umas porcelanas, coisa boba sabe? Mais como recordação
mesmo entende? Ah, tem também uma baixela linda que foi de vovó
e...
- Priscila eu vou doar tudo.
- Mas papai, o senhor não pode fazer isto. Muita gente da família
tem interesse nestas coisas...
- Dane-se. Eu vou doar tudo.
- Papai, o senhor está abalado, eu entendo, mas dar tudo, assim, é
uma sandice, o senhor tem certeza de que está bem? Olha. Estresse pós-trauma
é super normal, por que o senhor não vai pra Friburgo dar uma
descansada e aprovei...
- Tchau, Priscila.
- Papai!
- ...
Priscila sempre foi assim, chegada a um teatrinho meio absurdo. É a
do meio, se acha preterida por não ser primogênito nem caçula.
Tem mania de perseguição, neurose mesmo, tipo todos contra mim
e o escambau, a culpa não é minha dela ter nascido entreatos.
Em contrapartida é amais comedida, não do ponto de vista emocional,
mas do financeiro, não é dada a excessos (graças!) e carrega
seu "solitária" a tiracolo como as demais. Também é
a mais bela, compensação divina, acho, e o genro "brinde"
é o menos "solitária" dos três, até suporto
ele. Mas irrita-me seu jeitinho "gente boa até os ossos", acho
que por ser de boa família, muitos irmãos e tudo o mais, e além
de tudo é o temporão: o Carlinhos. Pseudônimo de João
Carlos, o Carlinhos surfista. Adorado pela família, o genro que toda
sogra gostaria de ter; tem carisma o garoto, devo reconhecer, mas... tem saúde
transbordando, e isso sempre foi ponto contra, para mim pelo menos, que sou
de uma geração em que a palavra dieta aplicava-se aos hábitos
alimentares dos animais das aulas de biologia, e que, engordurava os dedos ,
estômagos e mentes, com frituras, gorduras e escritores malditos respectivamente.
Ecologia e trabalho social? Que nada, nosso lema foi drogas, álcool e
"transgressão", então, toda essa ditadura da saúde
e culto ao corpo... cada um na sua, creio.
Estou pensando em jantar em um barzinho, desses que servem uns petiscos que
são uma refeição, dependendo da fome, adverte o garçom
solícito. É, é isso mesmo. Dirigindo pela cidade, me dá
na telha, inconscientemente ou com a ajuda do meu próprio grilo falante
sei lá, ir ao barzinho mais distante de minha casa, pra espairecer. Carne
de sol na tábua e manteiga de garrafa, o kit completo, inclusos aí
o chope, farofinha e 10% opcional, sem dúvida. O bar é um "pé-sujo"
sofisticado, incongruências cariocas e da língua, mais do termo,
vá lá. Carmem odiaria este lugar, em sua homenagem e em respeito
por sua partida tão breve - nem tanto - é que vou comer aqui mesmo.
Como diz o dito popular: "O que é do homem o bicho não come".
Nunca soube muito bem o que isto quer dizer, mas sei que tem a ver com comida,
funerais e bichas de piadas. O garçom traz o primeiro chopinho e faço
meu pedido, Carmem odiaria, o copo meia-boca, os talheres de segunda e o guardanapo
que se rasga antes que você consiga tirá-lo, Carmem odiaria. Quanta
pompa desnecessária meu Deus, e pensar que sua família estava
em uma pindaíba de dar gosto, ou desgosto, para seus pais, já
que ela mantinha sua vida a seus modos de forma bem normal, ou seja, gastando
meu dinheiro por conta. Carmem, leve, solta e despreocupada, no geral sem noção.
- Tudo muito fácil. Era o que ela mais ouvia, mas ninguém podia
culpá-la, assim como só posso lamentar por minhas filhas e seus
caprichos. Tudo muito chiquérrimo e elegantérrimo, bacaníssimo
e maneiríssimo e super gente fina "né gentêê?"
Superlativos e penteados, minha Carmem, carioquíssima. Vem daí
minha implicância com Carlinhos "gente boa", compreendem? Demais
a mais, ele é o que menos vejo. - Sou ranzinza, me acho sim e daí?
Acredito que é um tipo de sintoma ou característica inerente às
pessoas sensatas. Acima de tudo, sempre fui pé no chão, com exceção
da criação das meninas, já ficou claro, e de minhas amantes
de 20 anos (de idade) que servem para tornar a vida de um homem mais suportável,
não há quem discorde, vide Nélson Rodrigues. E o fluxo
corria bem, como a menstruação das meninas tornando-se mulheres
e o ritual e a corte, culminando com um "solitária" pedindo
a mão do seu, meu bebê. Pois é. Depois são os jantarzinhos
e reuniõezinhas, assim mesmo no diminutivo, "tão meiguinho
ele né papai?" Próximo estágio aproximação
das famílias, que não raramente se aturam em nome do sagrado matrimônio,
depois domingos e bebedeiras com o pai do "solitária" e enterrar
sua companheira após ter visto dúzias delas serem soterradas.
Ê vidinha.
E a carne de sol que não vem. Vou pedir uma cachacinha, da boa, lá
de "Minasss", ressalta o Rui garçom, a esta altura meu amigão.
Adoro os garçons, acho que em função da máxima o
cliente tem sempre razão; não, não só por isso,
mais porque um bom garçom é como um bom barbeiro: quem tem, não
troca. Lembranças que me trazem esta mesa de bar, não esta especificamente,
mas as mesas em geral, de bares - obrigado Reginaldo, o Rossi - as de ferro,
de armar, enfim, me lembro como, quando de minha infância, ia às
festinhas e comia docinhos e salgadinhos, empadinhas e "em-Padílias"
e outras ciganas menos famosas das festividades negras ou afro, polidamente
falando, uma vez que sou filho de Ogum e não tenho medo de nada.
Carmem se vai deixando uma lacuna enorme e diversas picuinhas mal resolvidas
- ainda não havíamos decidido a nova cor da cozinha - e, junto
dela seguem uma torrente de remorsos e arrependimentos póstumos, nunca
tardios, que tenho certeza me consumirão pelas beiradas antes que eu
esfrie ou pense em pagar a conta. Não me arrependo, mas amendrotado fico,
com as possibilidades que surgirão ou não, só Deus sabe,
sei lá, não posso mais lidar com este tipo de emoção
e novidade; minha vida caminhava exatamente do jeito que eu queria, sem grandes
reviravoltas, era mais um jovem privilegiado que não sabia o ser, e sabia,
em minha confusão, onde tudo se encaixava, e traçava meu legado
entre loucurinhas de verão e amores descartáveis uma vez por mês,
como o recomendado. Então... conheço ELA, e um espectro sinistro,
porém terno, paira sobre minha cabeça, assim como os viadutos
sobre as dos mendigos, e de repente, um turbilhão de emoções
até então inéditas, me toma de assalto e de surpresa, e
vejo a vida que eu conhecia, mergulhar em um caos de vidro, não retornável,
e vejo-me afogando e sem condição ou previsão de salvação,
por mais que nade, não posso alcançar a superfície, eu
estava, estou , estou apaixonado. Melhor pedir a conta. Ainda bem que me lembrei
de desligar o celular, acho que mais um amigo com conversa de viúvo e
seria o fim de meu ressequido humor. Apesar de ser opcional, deixo uma boa gorjeta,
Carmem deixou-me deveras benevolente, ou talvez ele realmente mereça,
quem vai saber? O caminho de volta para casa é um tanto quanto longo,
tempo suficiente para aplacar meus raivosos rancores, contradições
e neuroses com relação à relação e o relacionamento
com minhas filhas, mas não. Prefiro deixar quieto, não sou bom
em aspectos psicológicos, Dostoievski já o fez e bem melhor, seja
feita justiça, então deixa quieto. Vejo as coisas pela ótica
Old Bull Lee: "... uns são filhos da puta e outros não".
Infelizmente encontro-me no primeiro time, titular absoluto e artilheiro, até
aí tudo certo, o grande lance foi ter transmitido por osmose, contaminado
na verdade, minhas filhas e minha mulher com este mal, surgido ainda nos primeiros
anos de vida, inteligente, ao partir o primeiro coração, e pior
que não ter sentimento sobre o caso, foi ter matado a ninhada de gatinhos
branquinhos e fofinhos da gata de Rosângela - o coração
partido - minha coleguinha de creche integral. Ano vai, ano vem e aqui estou,
o mesmo de sempre.
Carmem querida, penso agora em nosso casamento, nos nossos erros e também
nos acertos, que não foram poucos por incrível que pareça,
e pensar e refletir agora, com generosas doses de mineira "da boa",
me faz admitir que fui o egoísta da história, com minhas manhas
e estratagemas de defesa, que visavam primeiro o ataque, e afastavam as pessoas
que realmente me amam e amaram. Uma série de cagadas homéricas
e intermináveis, promessas falidas, que resultaram em uma previsível
tentativa de ocultar nossas degenerativas doenças matrimoniais, quando
na verdade, pra falar a mais sincera, o único doente era, sou eu. Nadei
sim, mas nunca em busca da superfície, como costumava me enganar, mergulhei
para águas cada vez mais profundas, um escafandrista louco e cego de
orgulho, procurando abrigo de pressões perfeitamente suportáveis
e normais da união, para refugiar-me em ambientes remotos e hostis dentro
de minha própria consciência, no afã de aliviar a asfixia
emocional que toda a instituição, a situação em
si, me trazia. Entenda, estar casado, nos tempos de solteiro, era meu maior
temor, e vir a apaixonar-me deste modo, foi algo que detonou de sopetão
minha fobia a relacionamentos duradouros, sentia-me fragilizado por não
saber como manejar todo o maquinário romântico e espiritual disponível,
assim sem mais ou menos, só ali e pronto. Vulnerável, logo eu
que tudo sabia, que tudo podia, não, não achava que pudesse vir
a aguentar, mas éramos jovens e a ponta de medo se tornou pavor
e o resto é vida, e as meninas e os empregos etc. O que os homens chamam
de amor, para mim é fraqueza, ou era? Poderia ter sido facilmente resolvido,
bastariam boa vontade, um hobbie e alguns anos de análise, mas contentei-me,
acomodei-me e preferi arruinar a minha, mais a sua, vida. Pai ausente, marido
infiel e notório sonegador de impostos, lindo! Enquanto que você
querida, em sua futilidade, era de uma inocência infantil, e foi justamente
o que me chamou a atenção naqueles primórdios de namoricos
e encontros às escondidas. Jamais mudei ou me transformei, toda minha
vida é uma farsa, sendo racional, mas este é o tipo de conclusão
que deixo junto com as prestações do apartamento, do lado esquerdo
do meu travesseiro, vai ver esse é o meu verdadeiro mal. - Ego enorme
e autocrítica em falta. Pudera eu voltar o tempo e fazer de outro modo,
do modo ideal; não há como cobrar compensações de
alguém que não eu. Desculpas nada sinceras e mascaradas demais
para serem levadas a sério, quantas farpas disparadas, quanto pesar suportado
em nome da família, aquilo tudo era camuflagem - a futilidade - está
claro agora, amor. Certa vez ouvi dizer que um homem sofre de amor ao menos
duas vezes em toda sua vida. Achava-me imune a essa ferrugem que corrói
o coração, o cérebro e a autoestima, uma vez que, sempre
rezei pela cartilha de que quem ama não tem amor próprio. Até
hoje. Até me dar conta de que amava minha mulher. Amar na acepção
plena do verbete: AMAR. Pena só ter descoberto agora. Perdão,
perdão, perdão, perdão...
Tão estranha a casa assim, sem Carmem acordada, me esperando excitada
com alguma peça à venda no canal de leilão. Vou fazer um
café, preto e forte. É, as coisas não saíram como
o planejado, não alcancei a superfície nem a salvação
ou redenção ou o que quer que seja, desabafar também não
foi tão benéfico assim, esperava maior conforto, perdão.
Estou vivo e tenho minhas filhas, meus genros "solitárias"
para servirem de parceiros para as partidas de buraco, e estou aposentado e
ainda é verão, tenho também meus netos e tv a cabo, telefone
sem fio com secretária eletrônica, que aliás tem um recado,
melhor checar. BIIIIPP! "Alô? Papai sou eu..." Priscila. Começa
tudo de novo, mas não hoje, hoje vou digerir as informações
e recordações, minha saudade e claro: a carne de sol. Carmem,
Carmem... tchau, tchau, querida.