A Garganta da Serpente
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Então é Natal

(Darlon Carlos)

Fiquei imaginando uma forma que não fosse tão previsível da muitas mensagens de natal que enchem os e-mails neste período do ano. Mensagens como feliz natal e próspero ano novo! Que, em muitas ocasiões, não condiz com os reais sentimentos internos das pessoas. Então, o que dizer?

Se formos ver os que têm acontecido no mundo nos últimos tempos iremos achar que não temos muito que comemorar. A Guerra no Iraque que já dizimou inúmeras pessoas, a fome e a epidemia de AIDS na África, conflitos na Ásia, violência em nosso país e o medo em todas as esquinas. O que temos de fato para comemorar?

Estou agora com minha pequena agenda de números de telefone. Faz tempo que a tenho. Passo as folhas e vejo nomes de indivíduos que não me lembro mais ou não lembro totalmente. Que esqueci e com toda a certeza eles devem ter me esquecido também. Alguns irei descartar enquanto outros me faz pensar em tempos antigos e em um passado não tão longínquo assim.

Como se fosse o corredor da escola. Sabe aquele corredor que nos acompanhou por tanto tempo. Colegas de classe que ficaram em repetência ou, então, que ficaram em uma outra turma. Com o passar do tempo tornam-se somente rostos entre a multidão; mais uma face no corredor.

Quantos daqueles que conhecemos neste caminho tornaram-se um semblante entre a multidão. O meu próprio rosto não se tornou mais um para muitas pessoas. Será que de fato somos mais do que números?

Talvez o que nos falte seja a ausência de perspectiva. Uma nova perspectiva da realidade. No famoso filme, Sociedade dos Poetas Mortos, o professor pede para que seus alunos subam nas mesas para que tenham uma visão diferente das coisas. Aprendam a ver o mundo com outros olhos. O que não é tão fácil quanto aparenta. Demanda desprendimento do mundo bidimensional em que vivemos para sermos transportado para um tridimensional. Pois achamos que vivemos em um mundo tridimensional, mas não temos uma visão que compactue com isto.

Edward W. Said em um dos seus artigos comenta como na Faixa da Gaza tem sido usado F-16 para bombardear civis inocentes, todas as saídas são controladas por Israel que deitem o fornecimento de água, os palestinos foram reduzidos a 60 por cento de desemprego e uma taxa de pobreza de 50 por cento. Metade das pessoas de Gaza e da Cisjordânia vive com menos de dois dólares por dia! Não vemos isto na televisão e nem em noticiários de jornais. O Ano será novo para estes?

Mas estes se encontram longe e todo e qualquer tipo de manifestação humanitária feita a eles é visto, por muitos, como antissemitismo. Demonstrar solidariedade no mundo que temos criado para a nossa descendência esta se tornando algo perigoso. Da mesma forma que demonstrar solidariedade para com os judeus perseguidos durante a Segunda Guerra Mundial também o era.

O ônibus que foi queimado da linha 350 no Rio de Janeiro, deixando várias pessoas feridas e algumas mortas. A chacina na Baixada Fluminense que matou 30 indivíduos muitos deles vindo do trabalho. As balas perdidas que atingem cada vez mais o povo invalidando os sonhos. O que tudo isto reflete?

O que, talvez, esteja acontecendo não seja a falta de solidariedade. Mas, estejamos perdendo a perspectiva da nossa humanidade. Deixando nos bestializar totalmente. Não devemos esperar o fim do ano para nos lembrar que somos humanos, trocar gentilezas, presentes e festas. Vamos nos lembra que podemos ser simplesmente seres normais e humanos, não caídos, mas em ascensão. Pois, de Caim, Herodes e Judas o mundo já está cheio não necessitando de mais nenhum.

Bom final de ano para todos.

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