A Garganta da Serpente
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Nunca Fale com Estranhos

(Darlon Carlos)

O corredor era de tijolos vermelhos, todos deitados, como um muro de uma masmorra, descia em espiral sempre com as luzes diminuindo como se fosse a boca do Tártaro, feito para engolir todos aqueles que não acreditaram na vinda do Messias, os gritos eram fracos, quase imperceptível de forma que o homem alto que levava a menina não se preocupava em fecha-lhe a boca.

A adolescente cambaleava de um lado para outro, como se fosse um boneco de mola, os olhos estavam semisserrados como se tentassem se manter abertos, a voz era débil, como de uma gata que por falta de alimento dava os últimos miados. Os dois chegaram a uma enorme porta de ferro, o homem lançou a jovem em um canto, caiu como um pequeno saco de frutas, abriu a porta que fez um som de gemido a muito preso, pegou-a e lançando-a para dentro da cela, fechou a porta e a viu da a ultima olhada. Fez-se penumbra!

Ficou deitada, chorando, olhando as trevas que se faziam ao seu redor, só conseguiu identificar um som que vinha do fundo da cela, fraco como de um murmúrio que se confundia com a falta de luz, uma frase que não conseguiu entender direito. Perguntou quem estava ali, tentou se levantar uma vez caiu, tentou de novo, caiu, mais uma vez, caiu, ficou deitada tentando entender o que acontecia. Não compreendeu nada! Por fim se levantou de novo, com sofreguidão ficou de pé, tentou tatear para chegar até a voz, mas não achou nada.

- Quem está aí? Perguntou a jovem, segurando a parede para não cair de novo.

- Minha mãe disse para nunca falar com estranhos. Uma voz ádvena, como se tivesse vindo de todos os lugares, a jovem tentou identificar de onde o som vinha mais não conseguiu. - Minha mãe disse para nunca falar com estranhos. Repetiu novamente a voz.

- Me ajude, por favor, quem está ai, me ajude! A jovem tentou procurar a origem do som, mas nada.

- Eles te pegaram também? Eu sei, foi assim comigo. Eles me pegaram também. Foi assim comigo.

- Quem está ai, me ajude, me ajude!

- Minha mãe sempre falou para eu nunca falar com estranhos, mas naquele dia foi diferente, ele me notou eu que sempre fui a mais feia da turma, mas naquele dia ele me notou e veio falar comigo. Pensei que fosse com outra pessoa, outra das meninas que estavam comigo, mas não, era comigo. Falou de como eu estava bonita. As minhas amigas ficaram atônitas, nunca esperavam que ele fosse falar comigo, eu que era a mais desengonçada de todas, a mais feia, a mais tímida, mas, mesmo assim ele veio falar comigo. Foi incrível, comentou sobre as coisas mais fantásticas de assuntos que nunca tinha ouvido antes, ele me falou de uma forma com um jeito que eu fiquei encantada. Fomos para outro lugar, menti para minha mãe, falei que ia para a casa de uma amiga minha, mas não era verdade, fui com ele para outro lugar e lá tive uma tarde incrível, de uma maneira que nunca tive antes. Minha mãe sempre disse para não falar com estranhos, mas ele era diferente não sei se era pelo cabelo dele, louro, todo encaracolado como de um anjo, os lábios eram finos e bem formados, o nariz era aquilino, os olhos azuis de uma profundidade mirabolante, um sorriso amplo e sincero que me fazia ter todas as esperanças do mundo. Falou-me de um livro onde tinha tudo o que a gente queria saber sobre o mundo e além dele, eu nunca tinha tido uma conversa como aquela, em que todas as minhas perguntas eram respondida de forma tão completa, não como meus pais falavam, como se eu fosse uma criança, mas como se fosse uma mulher adulta sem pensar em minha imagem, no meu jeito, nos meus óculos. Mas, o que ele via era a minha pessoa, o que eu realmente era. Ledo engano!

Ele me falou de um livro que era o complemento de todos os livros, incluindo a Bíblia, onde toda as informações que precisamos para saber sobre as coisas profundas. simulacro: o livro sagrado dos mortos, me iludir achando que era somente mais um pesquisador falando sobre o objeto de sua pesquisa, mas não, ele precisava de alguém para entregar este livro para um amigo dele, pois ele tinha um compromisso e não poderia ir. Como ele me convenceu, até hoje eu não sei, talvez foi seu sorriso. Mas fui, e levei o livro comigo, era pesado de forma que minha curiosidade foi crescendo de forma que eu queria saber cada vez mais sobre como era aquele livro, minha mão ficava coçando em contato com o pacote. O que aquele livro falava?

Cheguei no endereço que ele me deu, a casa era totalmente diferente do que eu conhecia. Um casarão que era uma mistura de arte Barroca com Neoclássico, onde começava uma e terminava outra era algo difícil de dizer. Mas era uma combinação fascinante que me levou a certas indagações, toquei a campainha, quem me atendeu foi uma senhora muito gentil e delicada, com um sorriso que fez com que eu me acalmasse. Entrei, a casa por dentro era decorada com uma variedade de esculturas de deuses estranhos com imagens de santos católicos, mas com tamanho bom gosto que fiquei admirada daquilo tudo não se estranho as vistas. Fui conduzida até o escritório de um senhor já com uma idade avançada, o qual me recebeu muito bem, me fez sentar em uma poltrona macia e me falou do conteúdo do pacote, de um livro escrito há muito tempo por um árabe que tinha muito conhecimento sobre as coisas ocultas, me revelou como o livro tinha ficado perdido por um bom tempo, até ser encontrado por uns pesquisadores que levou para o Novo Mundo, e assim, ficou a cargo de uma ordem de místicos que tinham uma Biblioteca onde só os iniciados em artes oculta podiam usufruir. Tomei chá de camomila, e ouvi mais histórias sobre deuses e monstros, homens e mulheres que tinham dedicado toda a sua vida ao conhecimento de coisas que eram muito perigosas em tempos antigos, e que hoje, são consideradas estranhas. Fiquei fascinada, como aquele homem conseguia transitar de uma era para outra com tamanha desenvoltura, de uma ciência para outra, de uma ideia para outra. Senti-me estranha, como se o chão estivesse faltando aos meus pés, minha visão ficou turva, cai no chão, como uma criança que esta aprendendo a andar. Neste momento, o homem idoso, falou que faltava ao livro algo que demandava tempo e um material especial, uma nova encadernação de luxo. Foi quando o homem que te trousse para cá, me pegou e me lançou aqui.

Neste momento a jovem que tinha sido trazida a pouco, conseguiu se manter de pé, os olhos já tinham se acostumado à penumbra e tentava ver de onde vinha à voz que conversava com ela, mas nada. Encostou-se à parede, respirou fundo, forçou a voz para ver se conseguia dar um grito forte, mas nada. Sentiu um toque em seus cabelos, teve um sobressalto, sentiu um toque no ombro, tentou segurar a mão da pessoa, sentiu um toque no ceio, e novamente teve um sobressalto. Ficou encostado na parede de novo, e se entregou ao desespero.

- Minha mãe sempre disse para não falar com estranhos! Você trousse um livro para ele? - Perguntou a voz misteriosa.

- Sim trousse, respondeu a menina.

- Então eles vão fazer com você o mesmo que fizeram comigo.

- E que eles fizeram com você? - Perguntou a jovem timidamente.

- Isto! - Escalpelada, com a carne a mostra, sem nenhuma parte da pele sobre o corpo, com as veias a céu aberto, a carne vermelha, o líquido que corre em nossa veia se derramando pelos poros, as mãos pegajosas, que agarravam o rosto da menina, os olhos verdes em uma moldura de carne em estado de putrefação. A língua que saia de uma boca com os dente a mostra. Aquele esqueleto coberto com uma carne flácida, caída, morrendo, segurava a menina, que desesperada tentava se libertar. E, o ser dantesco, lhe deu um longo beijo, os lábios bonitos e finos da menina, tocaram nas gengivas pútridas da jovem. - Minha mãe sempre disse para não falar com estranhos.

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