A Garganta da Serpente
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O anão

(Cármen Rocha)

in NUVENS CIGANAS

Pé ante pé, entrou. As pegadas minúsculas denunciavam no tapete felpudo a invasão.

Instalou-se na imensa poltrona, enterrou o gorro vermelho e ali permaneceu de olhinhos miúdos à espreita.

A menininha cantarolando jogou a boneca no canto e aproximou-se, indefesa.

Subiu para perto.

- Você é de verdade?

- Não! - sussurrou de canto de boca.

- Eu sabia - ela respondeu. Sorriu. E deu-lhe a mão.

Estranhou ser tão pequena, examinou-a. Apertando docemente, e sentindo-a fofa, e se acomodou.

Passaram-se minutos eternos. Um sentimento bom inundou o ar como bolinhas de sabão.

Cantaram a música do carneirinho e a menininha adormeceu.

Ele enxugou o sangue, deslizou bem devagarinho e conseguiu descer sem nenhum ruído. Pé ante pé saiu.

(Reunião do Grupo de Contistas de São Paulo - dezembro,05)

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