in NUVENS CIGANAS
Pé ante pé, entrou. As pegadas minúsculas denunciavam no
tapete felpudo a invasão.
Instalou-se na imensa poltrona, enterrou o gorro vermelho e ali permaneceu de
olhinhos miúdos à espreita.
A menininha cantarolando jogou a boneca no canto e aproximou-se, indefesa.
Subiu para perto.
- Você é de verdade?
- Não! - sussurrou de canto de boca.
- Eu sabia - ela respondeu. Sorriu. E deu-lhe a mão.
Estranhou ser tão pequena, examinou-a. Apertando docemente, e sentindo-a
fofa, e se acomodou.
Passaram-se minutos eternos. Um sentimento bom inundou o ar como bolinhas de
sabão.
Cantaram a música do carneirinho e a menininha adormeceu.
Ele enxugou o sangue, deslizou bem devagarinho e conseguiu descer sem nenhum
ruído. Pé ante pé saiu.
(Reunião do Grupo de Contistas de São Paulo - dezembro,05)