A Garganta da Serpente
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Memórias do vidente Antunes

(Cortuska)

Por aquele então eu estava a aprender o trabalho de ladrão. O Lobo, o meu querido mestre, colocava-se acima do andar onde íamos roubar. Os telhados eram quase transparentes para a sua vista: tudo abaixo dele emitia uma tênue luz que lhe servia para saber onde colocar o raio da sua peculiar invenção. Eu esperava ao pé da porta e quando escutava o sibilo de ave rota que ele emitia, entrava através duma nuvem feita de escuridão. Naquela dimensão de silêncio, além de ir metendo os objetos preciosos por baixo da minha roupa, podia escutar um rumor ao redor de mim: os amantes gemendo pausados para não acordar as crianças, os cães sonhando sem sonhos e a luz repousada atrás dos meus passos. Quando tinha terminado a faina voltava para a porta e quase sempre chocava defronte da face do Lobo que me esperava impaciente. Saíamos a correr e chegávamos ao esconderijo que há aquém da parte nova da cidade. O Lobo ficava com o saque que estava por cima de qualquer interesse. Para com os meus, passava-me a noite inteira a lembrar os sonidos escutados e a adivinhar os corpos que podia olhar então perto da minha boca…

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