A Garganta da Serpente
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Vermundo e Marbranca

(Cortuska)

O ar da tarde ardia. O feiticeiro falava com as aves, que ascendiam empurradas pelo fogo exalado daquela terra seca. Somente uma delas desceu para escutar a voz do Vermundo. Passou tão perto da lua que nas suas asas ficaram presas fitas prateadas que cegaram os olhos do mago. A sua voz continuou a sussurrar as palavras até que sentiu na sua face queimada o suave bater da ave. Então calou e foi Marbranca quem sibilou as palavras mais transparentes. Voz de ave, presságio do céu.

As pálpebras fizeram-se luz e as asas, mãos que afagaram os lábios ainda possuídos de Vermundo. Marbranca, ave mágica, traspassou com um voo imóvel o peito arrebatado até deixar no centro a semente duma flor. Depois, o silêncio do sono.

A chuva empapou a terra e os corpos. Fez brotar o azul dumas pétalas, os espinhos doces do caule. Durante nove noites as raízes prenderam profundas, fazendo dos dois um só chão fértil, onde começa a vagarosa conquista do ar.

Marbranca foi a paciência e a espera, Vermundo a ânsia secreta da lua. Juntos gestaram uma vida feita de estações, que tudo o tocava, que tudo o abraçava. O pranto e o riso. O gozo e a estilha. Mas nunca mais o ar abrasou.

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