Eu sou a andorinha que não saiu de onde deveria ter saído. Nasci
de um arremesso ao ar. Vim de um homem com duas patas, boca falante, cara de
gente, que pensava não saber voar. O ex-mágico da taberna minhota.
Alguém que solta bichos. Ora, bonitos, ora, horrendos. Bolas uivantes
de pelo, emaranhadas em patas brancas rajadas de azul, que repentinamente se
transformam nas minhas penas. Coelhos alados que desenham as asas do meu corpo.
Joaninhas pintadas de rosa, laranja e verde-limão que vejo na cavidade
dos meus olhos. Maritacas roxas, de pernas em espiral, carimbadas com logotipos,
fortemente atuantes no meu canto.
Nos dias escuros, morro a qualquer momento e imediatamente revivo a partir das
mãos do ex-mágico. Mas não tão interessante como
me apresento hoje. Quando o sol aparece, me empolgo na minha jornada, acompanhada
por muitas outras andorinhas que nascem dele.
Aí sim, venho formosa e sigo em correntes que me fazem um pássaro
de verdade. É neste instante que invento uma rasante sobre a cabeça
do ex-mágico. Ele olha para cima e me admira profundamente. Mesmo sem
saber de onde vim.