A Garganta da Serpente
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Terapias Ocupacionais de Hospício

(Condessa de Lis)

- EXERCÍCIO 1: Escreva uma carta para um parente querido demonstrando seus sentimentos em relação aos acontecimentos das últimas semanas.

Eu fecho meus olhos ouvindo ao fundo o uivo do vento...Esparramo meu corpo pálido pela dor numa rede de treliças, na esperança de simplesmente esquecer o tempo... Poderia descansar minha mente cansada...Mente cravejada de dúvidas, de incertezas...não mais a mente revigorante, revolucionária e dinâmica de outrora quando o doce orvalho escorria pelo canto da boca delineando os lábios quentes...

O perfume dos lírios do campo, que a tanto eu havia esquecido...aquele aroma adocicado de tardes úmidas de céu avermelhado pelo recolher do Sol, aroma que faz meu corpo, num súbito descontrole, estremecer num estranho êxtase...De onde surgem tais lembranças?

Ainda absorta em minhas utopias surgidas quando a Lua volta ao seu recanto de dor e solidão, eu consigo sentir o seu andar (desconcertante aos meus desejos) aproximar tua pele da minha, criando uma eletricidade que me deixa imóvel, presa na ânsia de abrir meus olhos e te abraçar... Tê-lo em meus braços por instantes infindáveis, dar fim a tantas noites de procura inóspita...

Tenho saudades de um passado de que eu não posso me lembrar... Um pedaço de minha alma perdida no tempo... Eu olho para a estrada adiante de meus olhos sem saber o que fazer, suplicando de joelhos que alguém esteja ao meu lado, me ajudando, me mostrando por onde andar...mas não há ninguém ao meu redor que possa fazê-lo... A Lua, espectadora de minha desesperança, é a única ciente de minha história... E nem ela pode me consolar... Queria saber de onde vem tanto sofrimento...

Por Deus, eu sinto tanto sua falta e nem sequer consigo ver o seu rosto quando fecho meus olhos... Eu tento escrever cartas na esperança de alguém poder me ajudar, me dizer algo que me faça entender ou mesmo me dê uma pista de quem é você...

Como pode? Não existem lábios que me façam esquecer o gosto de seus beijos, nem a doçura de sua voz... De onde ela vem? Sua doce voz que ressoa a nobreza de grandes deliciosas manhãs... tão aveludada nas palavras ditas à mim...

Minhas lágrimas, que continuam rolando pela minha face, se perdem no meio de tantas outras que fizeram o mesmo percurso durante anos e anos... Confundo-me em minha própria memória quando tento lembrar aonde isso tudo começou...

Eu preciso de consolo...ainda que eu me ache o ser mais desmerecedor de misericórdia, eu daria os pedaços dilacerados de minha consciência mórbida por pequenos minutos do Elixir dos Aflitos... Tem sido anos, vagando por ruas escuras, sempre escuras...Nos becos os gritos dos meus próprios fantasmas aterrorizam-me... Eu não tenho sossego há tanto tempo, que me desmonto nos braços de quem quiser me dar algum carinho, não só por aconchego, mas por não ter forças para fazer mais nada, senão me escorar em quem por instantes me protege.

Parece insano, não? Eu digo... Minhas palavras têm se tornado cada vez mais insensatas, mais tristes e me levando ao mesmo fim...

Eu preciso de ajuda e não sei como e nem a quem pedir...

B.P. - 14 de maio de 2005 (02:06 A.M.)
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