A Garganta da Serpente
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Página de Um Diário Perdido

(Condessa de Lis)

...e a névoa desce enquanto observo a noite da janela. O caramanchão que em outras épocas seria tão belo quanto o alvorecer, se alia à minha melancolia e dá um toque ainda mais gélido à noite.

Fico aqui pensando em minha vida e tento, um tanto que desesperadamente, encontrar uma razão para essa revolta. "Pobre menina rica"...é a única expressão que me vem à mente.

Sou cercada por tantos caprichos quanto uma menina de 20 anos pode ser...me distraem as inovações, modernas máquinas de meu tempo...ao passo que são meras folhas saltitantes nesse turbilhão de informações em que vivo.

Interessante elas não me divertirem mais do que alguns minutos...E então se tornam completos estorvos aos quais meu interesse despreza. As próprias pessoas...num instante seres tão fascinantes...noutro, chateações sem qualquer graça.

De onde será que vem essa insatisfação? Seria inerente do ser humano? Indago para a noite sem estrelas e nada escuto em resposta.

Minhas próprias palavras, frutos da vontade que tenho de escrever o que sinto, são vítimas da monotonia e se perdem na banalidade do texto. Me soam forçadas por mais que eu saiba que são o mais puro retrato de meu inconsciente, que não fala para ninguém senão para mim mesma.

As angústias, as amarguras...se mascaram ou são máscaras da solidão e da tristeza que sinto. Injustificadas quando se tem 12 anos, eternas aos 15, insuportáveis aos 20.

Esse meu estado de espírito desmente a teoria dos que acreditam que para ser feliz é necessário saber o que se quer da vida...mentira! Eu sei o que quero e ainda assim me debato na cama, relutante em aceitar que isso possa me fazer feliz....Não me faz!!

O incenso de jasmim e a vela que uso para poder ver as linhas por onde escrevo, ainda estão acesos...e o frio começa a ficar notável às 3:11 da madrugada...mas o sono não me seduz...e sejamos sinceros...o que me seduz nos últimos tempos?

A mesmice da vida e a falta de perspectivas de mudanças são incoerentes ao meu estilo de viver...se é que posso chamar assim...Por mais que as figuras mudem de lugar, elas continuam sendo as mesmas...

Hoje é isso que procuro: mudanças...na forma de pensar, na forma de me relacionar, na forma de ver o mundo...Sendo honesta comigo mesma, mudanças nessa forma de viver para que deixe de ser apenas sobrevivência contínua e tórrida....

(B.P. - 11 de maio de 2005)

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