- Abortar?
- Sim, abortar.
- Ficou maluco?
- Maluco é ter filho agora. Você acha que tenho alguma condição?
- Ninguém nunca está preparado. Eles simplesmente vêm!
- Vêm coisa nenhuma. Você é que não tomou cuidado.
- Eu? Está querendo dizer que a culpa é só minha?
- Claro que é. Eu sou homem.
- Olha aqui, Joaquim, não vou abortar coisa nenhuma. Se você não
quiser, eu vou ter esse filho sozinha. Vá para o inferno!
- Peraí, Telminha! Tenta compreender a situação...você
não tem nem onde cair morta, mora com seus tios, de favor. E eu, nem
emprego tenho. Como é que a gente vai sustentar uma criança?
- Sei lá, arranja um emprego, se vira! Você não foi homem
pra fazer? Agora tem que criar!
- Ai meu Deus, meus pais vão me matar!
- Tá com medo do papai agora, é?
- Olha aqui garota, não posso ter filho. Para o seu bem e para o meu,
é melhor abortar.
Telminha não abortou. Hoje, com dois anos de idade, a pequena Heloísa
mora com o pai, Joaquim, na casa dos avós. É a princesa da família,
e gosta de se arrumar toda para esperar a mãe, Telminha, que toda noite
vem dar sua mamadeira e colocá-la para dormir.