A Garganta da Serpente
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

A Viúva e o amigo espertalhão

(Carlos Rímolo)

Arnaldo andava de um lado para outro muito nervoso. Já tinha ingerido inúmeras xícaras de café naquela manhã, fumado uns 10 cigarros, e não tirava os olhos da campainha e da porta de entrada do seu apartamento. Esperava alguém.

Solteirão, de boas posses, tinha se apaixonado perdidamente pela vizinha, uma jovem viúva de corpo escultural e beleza extasiante, que todo santo dia, por meses, da janela, jogava um possível charme para ele. Nunca tiveram qualquer contato mais próximo, apenas essas trocas de olhares, e isso bastava para ele.

Cara muito tímido com as mulheres, ele pedira a ajuda do amigo Adalberto para conquistá-la, já que o outro era muito hábil neste quesito. Em minutos, o tão esperado toque da campainha acontece. Arnaldo, então, impaciente, abre a porta para o amigo.

-Graças a Deus você veio, Adalberto! Não aguento mais de ansiedade, estou morrendo de amor por essa viúva, meu amigo! É uma paixão louca!

-Você tem que se acalmar e aguardar a hora certa para se declarar, amigo! Temos que ter um pouco de paciência quando o negócio é mulher!

-Mais você não veio até aqui só para me dizer isso, veio?

-Claro que não Arnaldo, vim ajudá-lo nessa conquista como combinamos!

-Ainda bem! Pensei que ia me deixar assim nessa agonia!

Em seguida, após este curto diálogo, os dois se sentaram e passaram a articular um plano de aproximação que tivesse êxito. Ao final de meia hora tinham chegado a um consenso. O amigo se apresentaria à bela viúva dizendo ser um vendedor de joias, e que o vizinho, um seu inconteste admirador e ricaço, era o real proprietário delas e seu patrão. Arnaldo, por sua vez, teria que aparecer em sua janela, como sempre, bem sorridente, para ser admirado pela mulher. Tudo acordado, cerca de vinte minutos depois a campainha do apartamento 302 da viúva é acionada.

-Pois não cavalheiro, em que posso servi-lo? Pergunta ela após abrir a porta. O rapaz fica sem ação diante daquele monumento de mulher à sua frente.

-O que o senhor deseja? Insiste a viúva devido à mudez repentina do outro.

-Bem, bem, me chamo Adalberto e sou vendedor de joias importadas! Se não for incomodá-la, posso entrar? Pergunta ele já refeito da bela surpresa.

-Embora não aja interesse momentâneo, esteja à vontade, entre! Ordena a bela mulher. Chamo-me Laura! Completa.

-Bem, na verdade senhora Laura...!

-Senhorita cavalheiro, apenas senhorita! Agora sou uma viúva, e por consequência não estou mais presa a nenhum homem! Se por acaso me casar de novo, aí sim voltarei a ser uma senhora!

-Desculpe-me senhorita! É que estou aguardando uma remessa de joias valiosíssimas do Egito para hoje, que certamente combinará muito bem com a sua beleza! Gostaria de saber do seu interesse, e se poderia vir mostrá-las mais tarde? São peças lindas e raras!

-Por mim tudo bem, mas quem me garante a autenticidade dessas joias?

-Aí que se encontra o motivo mais forte desta minha visita, senhorita! Poderia vir aqui em sua janela e olhar em frente, por gentileza?


Curiosa e sem entender, a viúva levanta-se e se dirige à janela e vê aquela cara de todos os dias sorrindo para ela.

-Não entendi, cavalheiro! O que vejo de minha janela é apenas a figura feia de sempre, bem deprimente, com um sorriso amarelo em minha direção, no qual retribuo por educação!

Vendo que o possível caso do amigo com ela havia terminado ali naquela declaração, e que nem adiantaria dizer ser ele um seu admirador, e mentir de que seria o rico proprietário das pretensas joias, Adalberto resolveu então adiantar o seu lado, já que a viúva era uma mulheraça. Após mais alguns papos regados a elogios e intimidades, com o terreno bem preparado, ele se despediu dela e foi de encontro ao amigo. Em minutos já estava junto a Arnaldo.

-E aí, fui bem à janela? Conseguiu ajeitar ela para mim? Pergunta ele ansioso.

Matreiramente o outro colocou em prática seu novo plano.

-Bem amigo, ela realmente está apaixonada por você, mas está te achando muito apressado, nervoso e pediu um tempo! A notícia boa de momento, mas cansativa para mim, lógico, é que ela quer que eu vá lá todos os dias falar de você, contar tudo, meu camarada!

-Pôxa, é verdade mesmo Adalberto, é verdade? Ela quer saber tudo de mim?

-A mais pura das verdades! E pode ter a certeza que todos os dias estarei por aqui a visitando e preparando o terreno para você, e dentro de uns 06 meses no máximo estarão se casando! Pode acreditar, meu amigo! E eu serei o padrinho desse casamento, podes crer!

-Pôxa, Adalberto, você é um amigão! Nem tenho palavras para agradecê-lo!

-Olha Arnaldo, esqueça isso, os amigos são para essas coisas!


E a partir daí, Arnaldo passou a ficar mais vezes na janela e torcer, enquanto ele, às escondidas, se saciava nas curvas da bela e apetitosa viúva no pequeno sofá de seu apartamento.

-Nem todos têm a minha sorte de ter um verdadeiro amigo! Pensava alto o outro, debruçado na janela, com um sorriso estampado nos lábios, mais feliz do que pinto no lixo.

menu
Lista dos 2201 contos em ordem alfabética por:
Prenome do autor:
Título do conto:

Últimos contos inseridos:
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente
http://www.gargantadaserpente.com.br