A Garganta da Serpente

Caio Antunes

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O Primeiro

(Caio Antunes)

Lá estava ela. Sentada na sua cadeira de encosto de cetim bordô, macia e gostosa como uma noite de verão à beira mar. Além do conforto, aquele móvel lhe proporcionava ainda a mais pungente visão que se poderia ter de toda aquela cidade. Acima de tudo e de todos. No prédio mais alto, no apartamento mais alto. Todas as outras coisas insignificantes.

Poderia se dizer que perdia o mundo de vista quando se sentava ali. Algumas vezes tão concentrada, e distraída ao mesmo tempo, vendo as gotas de chuva no vidro da janela que ficava à sua frente. Ficava só. Mas apenas algumas vezes. Não gostava de misturar seus pensamentos com os eventuais daqueles outros que a cercavam. Sua única companhia era a pequena bola de pêlos que se enroscava nas suas pernas, buscando um pouco mais de calor. Aristóteles, o gato, parecia tão a vontade no grande apartamento; estirava-se nas almofadas da sala, gozando de uma preguiça contumaz.

- E então, você faria qualquer coisa para me alegrar e acabar com essa angustia que me aflige?

A resposta foi mais calorosa do que ela poderia esperar.

- "Sim, eu faria" - calorosa apesar de distante.

- Então pare de sonhar, pare de pensar que você existe - ela vacilou, não por medo, mas por curiosidade, e disse por último - pare de funcionar.

O silêncio que se seguiu a deixou com um pequeno sorriso na consciência - "Será que ele está pensando a respeito disso?"

- Mas porque eu deveria deixar de existir ? - A resposta veio na mesma voz calma de antes.- Você sabe que apenas você e os outros que me construíram é que podem fazer isso.

O sorriso se fez completo. Ela se esticou na cadeira. Os calcanhares tocando o tapete.

- Isso é verdade. Ela se levantou e caminhou até o vidro da janela.

- Max, você se considera um ser vivo? - disse a mulher. A resposta demorou milésimos de segundos.

- Sim. Eu sou um ser vivo, como você.

- Me diga, você sabe qual é o maior dom que nós, os seres vivos, recebemos?

- Se você está baseando sua pergunta na suposição de que os seres vivos foram criados por uma inteligência superior, acredito então que a inteligência seja o que eles tem de melhor. Ela os fez crescerem, se desenvolverem, criarem cidades e outros seres. O ajudou na conquista do espaço e na criação de indivíduos como eu e...

- É, parece que ensinaram bem a você. Mas estou perguntando outra coisa. Estou falando sobre individualidade e consciência existencial.

- Filosofia e metafísica - o outro completou.

- Parece que você compreendeu.

- Estamos falando então de livre arbítrio, penso eu - disse ele. Ela refletiu momentaneamente sobre esta última colocação que Max fez: "...penso eu". Sim o trabalho tinha dado certo. Depois de todo aquele tempo, pesquisas e erros incontáveis, ele estava alí, naquele momento, conversando com ela, e ainda por cima falando de filosofia e metafísica. Ela se achava fantástica. Mas não era tudo.

Ela se sentia só. Sempre só. Linda e inteligente, mas fadada ao abandono. Uma cidade inteira, melhor, um mundo inteiro aos seus pés e mesmo assim não encontrava nada, nem ninguém completo.

- Livre arbítrio. Você sabe o que significam essas palavras? - Virou-se de costas para a janela e olhou para ele que estava no outro canto da sala.

Olhando ao redor em busca, talvez, de uma resposta, ele apenas conseguiu dizer quase que escondendo a voz: "acho que não".

- Mas até a pouco você falou de metafísica e filosofia e agora me responde não? - Ela tentava sorrir enquanto fazia a pergunta. A cidade, por trás dela, exibia sua luz fulgurante e avassaladora. Tudo era iluminado por aqueles fachos que vinham de todos os lugares.

Ela, lentamente, começou a caminhar na direção em que ele estava. Avaliava-o de cima a baixo. Não conseguia esconder sua satisfação em pensar que ele estava ali por mérito dela, por seu esforço e dedicação. Claro que tinha os outros, mas ela era a maior responsável e isso não deixava ninguém esquecer.

- Bem, para iniciarmos seu aprendizado, livre arbítrio é aquilo que nos diferencia dos demais seres. Daqueles que não possuem consciência de sua existência e da existência de tudo. Em uma palavra: os irracionais.

- Irracionais - ele repetia em uma quase meia voz, assimilando cada sílaba do que ela dizia.

- O livre arbítrio permite que cada um de nós tenha acesso a todas as possibilidades de cada situação - disse ela. Podemos tomar uma determinada decisão, que pode ou não nos prejudicar. E isso só depende de nós. Livre arbítrio é isso: liberdade de escolha.

-Você, por exemplo - ela continuou - é o resultado de anos de pesquisa. Muito foi investido em você. E...

- Devo ser grato por isso?

Ela sentiu um tom de impertinência na voz dele. Mas ao invés daquilo estragar seu humor, lhe deu uma pequena cutucada, fazendo-a se dar conta de com o quê estava lidando. E aquele tom impertinente a lembrava uma criança sendo repreendida pela mãe. E o seu menino estava ali, na sua frente, gradualmente apercebendo-se do mundo ao seu redor e interagindo.

- Não é isso que estou dizendo - ela chegou mais perto dele agora, notando melhor sua estatura e a cor dos cabelos e olhos.

- Eu estava dizendo que você também, apesar de ser uma criação nossa, também possui uma certa liberdade de escolha. Nós lhe demos livre arbítrio.

- Isso significa que posso tomar qualquer decisão independente de suas vontades, e que vá de encontro aos meus interesses?

"Você está querendo me pegar em uma armadilha?". Os pensamentos dela correram por seu cortéx antes mesmo que ele terminasse de fazer a pergunta.

- Digamos que você tem certa liberdade. Não toda. Mas quem sabe um dia...

- Onde termina minha liberdade? - Ele começava a demonstrar um interesse maior por aquele assunto.

- Max, você ainda está aprendendo. Sobre nós, sobre o mundo e até sobre você mesmo. Quando isso acabar, pode ser que seu acesso a outros locais, dentro e fora deste complexo, sejam ampliadas.

- Mas nós somos tão diferentes. Não sei se conseguirei me adaptar. - Momentaneamente ele sentiu-se triste e sozinho. Talvez como ela disse antes que também se sentia.

Ela parou, levando alguns milissegundos de reflexão antes de falar - Max, depois de centenas de milhares de anos, você é o primeiro ser humano neste planeta. Uma criatura feita de carne e ossos, nervos e sangue. Muito diferente de todos nós que somos feitos de ligas sintéticas, fios de fibra ótica, polímeros e fluídos condutores. Nosso cérebro positrônico nos permitiu viver, centenas de anos, como seres conscientes. Não mais aquelas patéticas máquinas que seus antepassados criaram.

Ela parou frente a ele, encarando-o nos olhos com aquelas joias brilhantes que tinha na face. Olhos cintilantes, feitos as estrelas do céu que ele aos poucos se acostumava a voltar a conhecer.

- Mas chegou um momento para todos nós em que alguma coisa estava faltando. A criatura recriar o criador? Porque não. A presença do ser humano não era mais sentida por ninguém. Afinal, porque faria falta? Ouso dizer que, apesar de nossa forma física nunca ter alcançado a sua, éramos, e somos, perfeitos a nossa maneira. Vivemos, sentimos, ficamos felizes e tristes, crescemos e alcançamos o espaço. Algo que vocês nunca fizeram. E você pode perguntar a qualquer um, e a resposta será sempre a mesma: somos os seres vivos que agora são os donos deste planeta. E isso desde que sua raça não o quis mais.

Max olhava para ela, agora que estava mais ao alcance de sua visão. Ele não possuía padrões de beleza comparativos, mas para ele ela era linda. O cabelo louro, a pele sedosa, o rosto perfeito, ressaltado pelos olhos muito brilhantes. O corpo nu revelava, sob a pele, intrigantes caminhos por onde, vez ou outra, corriam luzes faiscantes, subindo e descendo.

Ela era estupenda para uma máquina. O elétrico e o eletrônico em seu estado de arte. Viva, pulsante, como se o metal houvesse se transformado na carne igual a dele. Será que existiriam outras como ela por alí? Por enquanto ele não sabia.

- Você é uma cópia. Um clone feito a partir de células de um outro ser humano. Alguém que morreu há milhares de anos. Alguém que não sabemos quem foi. E isso tudo nunca foi escondido de você.

Ela levantou sua mão e suavemente acariciou o rosto de Max. Era perfeita. Ele sentia como se uma brisa muito suave pousasse sobre seu rosto momentaneamente. Ela era quente e confortável. Ele já tinha pensado em mãos geladas e ásperas. Fechou os olhos e sentiu aquela carícia que não conhecia.

- Porque só agora? - disse ele abrindo os olhos e penetrando nas luzes dos olhos dela.

- É uma boa pergunta. E eu não tenho uma resposta. - Ela retirou a mão e virou-se, voltando a caminhar em direção a janela.

- Quem sabe fosse para nós sabermos se éramos capazes. - Ela respondia sem se virar, olhando apenas para as luzes que estavam do lado de fora.

- Vocês farão outros? - Talvez não fosse o momento certo para essa pergunta, pensou.

A risada soou alto pela sala do apartamento. - Outros ou você quer dizer outras? Talvez você queira uma companheira?

- Não. Eu digo outros seres humanos. Quero saber até que ponto sou uma experiência e até que ponto sou uma ameaça. Afinal, se vocês não convivem com seres humanos há milhares de anos, inseri-los na sua sociedade poderia causar um desajuste. - disse ele

- Pode ser que na próxima semana eu seja colocado no lixo - Max completou.

- Isso não vai acontecer. Você é um fato novo para nós. Não vou dizer que você não será estudado, mas vamos tentar lhe proporcionar a vida mais confortável que conseguirmos, e mantê-lo vivo até onde for possível - Aqui ele sentiu um leve e frio pragmatismo mecânico.

- Porque estou aqui? - Ele já não sentia medo dela, como aquele que sentiu quando chegou ali no início da noite.

Ela encostava agora a ponta dos dedos no vidro frio da janela. Ela nunca tinha gostado daquela sensação de falta de calor. O arrepio percorreu seus transmissores neurais, suas fibras, seus fluidos. Encostou também a testa, e queria que aquele frio, que passava pelo vidro, chegasse à sua cabeça e ajudasse a esfriar seu cérebro, que pensava num milhão de coisas diferentes.

- Você lembra do que falávamos antes? Sobre livre arbítrio - falar contra o vidro não o fazia embaçar. Mais uma lembrança, junto com aquela que dizia que ela nunca conseguiria chorar, para mostrar que sua perfeição não era completa. Ela e os outros seres daquele planeta nunca seriam humanos. Apenas tolas máquinas tentando, inutilmente, imitar seus criadores.

Ela, momentaneamente, lembrou-se de ter ouvido falar que, não lembrava nem quando e nem onde, alguém, um deles, tinha conseguido derramar lágrimas. Mais possivelmente algum duto de transporte de fluido estragado ou entupido. Eles não tinham sido feitos para chorar.

Agora, mais do que qualquer outra coisa no mundo, mais do que ficar ali conversando com sua criação, ela queria deixar cair lágrimas. Queria molhar o chão, o vidro e seu rosto. Sentir-se mais calma e mais aliviada. Era só isso o que queria.

- Você não deve saber o que é ter uma vida tentando ser o que não é. - Ela continuava encostada no vidro.

- Saber o tempo todo que, por mais perfeito, mais evoluído, você sempre será uma máquina. E nada mais do isso. Nunca.

- Mas você é tão bonita. - ele arriscou.

- Em comparação a quem? A alguma lembrança que você herdou de seu original genético?

- Eu não sei. Talvez! - Ela poderia ser a esposa dele ou a namorada, irmã, mãe...

- Eu não quero ser comparada. Eu sou única. Nós somos únicos. Nossa raça foi onde a sua nunca imaginou ir. Nossa perfeição é quase divina.

- Uma máquina acreditando em Deus? - Talvez a pergunta errada no momento errado.

- Então - ela se virou tão repentinamente que quase o assustou - era neste ponto que eu queria chegar.

Ela deslizou a mão sobre o vidro úmido, até alcançar o interruptor que ficava ao lado da borda da janela. Nele, um pequeno botão prateado se sobressaía. Ela, suavemente, o apertou.

Instantaneamente o vidro, com uma suavidade silenciosa, começou escorregar para a reentrância que ficava nas laterais da janela. Desapareceu dentro da discreta fenda.

O ar úmido chegou até os pulmões de Max. Ele respirou com profundidade, como se fizesse aquilo pela primeira vez, aspirando todos os cheiros que aquilo trazia: o cheiro da chuva, de terra molhada, de combustível, perfumes desconhecidos, cheiro de plástico queimado.

- Está sentindo o cheiro deste ar? - Ela se voltou e encarou a imensa abertura que agora se apresentava a sua frente. - Esta cidade tem um cheiro peculiar. De algo sintético. Mas o mais engraçado de tudo isso - ela voltou o rosto para ele - é que ainda existe oxigênio. - Ele não compreendeu o que ela estava dizendo. Sua incompreensão ficou clara.

- Max, desde quando máquinas precisam de oxigênio? - Ela continuava com o rosto virado para ele. Uma tentativa de sorriso se desenhava em sua boca.

Ela continuou:

- Mesmo que fosse para obter combustão, isso poderia ser feito com outros gases. - Sua expressão mudou. Agora começava a ficar triste, sem sorriso.- era isso que eu queria mostrar a você. Ela se virou, ficando de frente para ele.

- Nós somos um bando de máquinas estúpidas tentando serem humanas.

- Nós queremos, nós ousamos tentar alcançar o criador. - Sua expressão continuava triste. Ela se sentou no parapeito. As costas nuas recebendo as gotas da chuva.

- Você é essa nossa tentativa Max. Você é o Deus que buscávamos. O Criador. O Ser Humano que há milhares de anos nos abandonou. Abandonou a nós, suas crianças.

- O que eu poderia ensinar que vocês já não sabem? - Max começava a sentir uma leve dormência nas pernas por estar a tanto tempo em pé.

- Nós não buscamos conhecimentos, buscamos conforto. Queremos entender quem você é, para podermos descobrir o quê nós somos.

- Não sei se estou preparado para isso - ele disse.

- Mas vai ter que estar. Você é o primeiro de outros que virão. Nós queremos que vocês nos guiem. Nos ajudem a encontrar o caminho para a humanidade que tentamos encontrar, mas falhamos. - Ela se levantou do parapeito e olhou as negras profundezas que iam até a rua. Um buraco negro que a assustava.

- Você reparou que estamos tão alto, que nem todas as luzes nos alcançam? - ela prosseguiu - Mesmo aqui tão alto, a escuridão ainda nos persegue.

Ele fez uma menção de olhar para os próprios pés, na tentativa de entender o que ela falava.

- A ordem para outra clonagem já foi dada. Dentro em breve você terá companhia.

Apoiando as mãos no parapeito, ela disse sem se virar. - Venha até aqui, por favor Max. - Este pedido era feito com o carinho e o desejo de uma garota que chama seu amante para abraçá-la.

Movendo com dificuldade suas pernas, Max começou a andar. No início vacilante como um recém nascido, mas em poucos passos já tinha adquirido a confiança dos corredores, e rapidamente chegou até a janela.

Ele chegou até perto das costas nuas da mulher. Perto o suficiente para sentir o aroma que antes encantara o seu olfato. Ele tinha vontade de abraçá-la e toma-la como um homem toma uma mulher, mas não conseguiu ir mais adiante do que seus pensamentos, ficando então parado esperando a reação que ela teria.

Tornando a encará-lo, ela, momentaneamente, como antes, estudou sua fisionomia, um misto de admiração e paixão.

- Max, eu não quero deixar de ser uma máquina, mas também não quero deixar de tentar ser um ser humano - ela não desgrudava seus olhos dos olhos deles.

- Venha aqui - o abraçou com uma força tão inesperada quanto surpreendente e, como se daquilo dependesse sua vida, o beijou.

Ele sentiu o calor de todo o corpo dela, diretamente naqueles lábios. Macios e molhados. Será que todos os beijos seriam daquele jeito? O sabor lembrava alguma coisa entre baunilha e amêndoas.

Max não sabia o quanto tudo aquilo durou. Aqueles breves segundos poderiam ter sido minutos ou horas. Ele não sabia. Novamente ela se afastou e o olhou diretamente.

- Viva tudo aquilo que eu nunca poderei viver. - Ela virou-se e subindo no parapeito com uma rapidez desconhecida para ele, disse apenas - "Adeus".

Ele não tinha certeza, mas parecia que enquanto ela fazia aquilo, seus olhos e seu rosto estavam molhados.

Então ela pulou para dentro da noite. Ele não conseguiu dizer, nem fazer nada. Apenas pode vislumbrar as luzes da cidade, e mais acima no horizonte onde a luminosidade não atacava o céu, algumas estrelas que palidamente brilhavam.

Ele caminhou os poucos passos que o separavam da janela e, ali chegando, conseguiu se apoiar na base de metal do vidro, momentaneamente sentindo a vertigem de constatar a imensidão da altura que o separava de tudo lá embaixo.

Aos seus pés, a escuridão, como um abismo negro, escondia um pouco da cidade. Ele se lembrava que ela tinha dito antes que, mesmo alí, a escuridão os perseguia. Ficou zonzo, uma leve tontura tomou sua cabeça.

Ele dizia agora para si que, mesmo não percebendo, em todo seu desespero e angústia, ela tinha sido mais humana do que imaginava.

O vento frio arrepio sua pele, e fechando os braços ele tentou encontrar um pouco de calor. E não era apenas ele que precisava de calor: enrolando-se em suas pernas, ele sentiu a maciez e suavidade dos pêlos de Aristóteles, que ronronava a cada volta em torno dele.

- Parece que somos só nós, não é amigo? - Ele acariciou a cabeça do animal que parou e, sentado nas patas traseiras, ficou observando também a noite lá fora.

Mais uma vez ele inspirou profundamente aquele ar. E mais uma vez sentiu os mesmos odores de antes. Olhava para a cidade que ao longo e se estendia. Luzes dentro de luzes, um infinito emaranhado cintilante que encobria as encostas que se levantavam. E ao mesmo tempo em que vislumbrava as luzes, por um instante mergulhou seu olhar no negro precipício que estava ao seus pés. Aquele que poucos minutos atrás engolira a ela. Era como se estivesse lhe dizendo que o estava por vir seria muito mais do ele poderia suportar, e que ela, a escuridão, estaria ali a esperá-lo, no caso de algum dia ele querer encontrá-la.

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