Estava cansada e deitei-me numa cama que achei num quartinho que ficava na
passagem do corredor. Ela veio e continuou conversando comigo, não me
lembro como, nem quando a minha cabeça encontrou as suas pernas e fez
delas um travesseiro. Os seus dedos percorriam suavemente os meus cabelos e
assim acho que adormeci ou pelo menos cochilei. A festa continuava, outras pessoas
vieram até o quarto e conversavam com ela, Marina. Eu mal a conhecia
mas deixava a minha cabeça repousar em seus joelhos e me sentia calma
como ao final de uma batalha.
Cheguei antes dela, costumo ser pontual até para uma festa. Chega a ser
deselegante. Mas ali não tinha muita importância tudo isso, digo
a elegância. Quando ela me viu disse, num gesto teatral mas gracioso 'Professora!`
e não me largou mais. Não sei mais de que falamos mas conversamos
a noite toda. Os olhos dela brilhavam. Sempre me sinto perdida em festas mas
de vez em quando vou. Nessa eu decidi ir por causa de um aluno da escola- não
era aluno meu - que estava me paquerando. Aliás a festa era na casa dele.
Chegando à festa me desinteressei dele. Acrescento que a minha idade
não era muito diferente da dos alunos do curso noturno da escola. Para
que não me julguem mal.
Eu já tinha visto Marina na escola porque ela era meio líder,
desses estudantes que não passam desapercebidos, mas ela não era
minha aluna, era amiga de uma das minhas alunas que me adorava. Era uma escola
de periferia, com um público (hum, público?) dito carente. No
último dia de aula ela, Marina, entrou na sala e pediu que eu assinasse
a sua camiseta. Era o seu último ano na escola e ela queria guardar a
camiseta assinada pelos professores e colegas como lembrança. Muitos
estudantes fazem isso, ou faziam. Eu mesma tinha uma dessas camisetas assinadas
como lembrança da oitava série. Deve ter ido parar no lixo. Minha
mãe considera tudo isso frescura ou desperdício. Depois disso
só revi Marina na festa. Lá pelas tantas, antes de nos separarmos,
eu acho, ela perguntou se eu jogava vôlei. Ai que eu não jogava
pôrra nenhuma, sempre fui péssima em esportes, fugia das aulas
de educação física como o diabo da cruz, detestava todos
os esportes mas em especial os esportes de equipe 'Pega essa bola zé
mané!`'Mas que pamonha, é a sua vez de arremessar, de lançar,
de..` Nem os termos eu conhecia. Enfim, as minhas experiências na área
não tinham sido muito animadoras. Não expliquei tudo isso a Marina,
só disse que não sabia jogar e então ela disse 'Eu
te ensino` e pegou o meu número de telefone. Telefonou e eu não
quis jogar vôlei, disse que tinha que pintar o meu quarto, ela disse que
podia me ajudar. Fui buscá-la e pintamos juntas as paredes, dei-lhe um
short da minha irmã e fizemos foto da bagunça, ela na escada e
eu sentada no degrau logo abaixo, apoiada nas pernas dela. Ela tinha umas pernas
muito fortes, de jogadora de vôlei. Nunca mais a esqueci. Quando ela se
foi cheirei o short que ela tinha usado e gostei. Viajei e tentei pensar em
outras coisas mas ela sempre me vinha a cabeça. Eu tinha vinte e um anos
e nunca tinha visto uma mulher de maneira 'erótica`- por assim
dizer -. Uma vez eu tinha sonhado que estava transando com uma mulher, eu não
via o rosto dela mas era bom. Quando acordei achei estranho mas não pensei
mais naquele assunto. Quando era criança eu costumava brincar de casinha
com minhas primas, especialmente a Mercedes que hoje é uma jamanta. A
minha mãe não nos
permitia brincar com os primos se não fosse sob o seu olhar vigilante,
mas aí, quando brincávamos de casinha uma de nós tinha
que ser o marido. Algumas vezes levamos a brincadeira adiante e nos tocamos
por umas frações de Segundo. Um dia entramos numa furreca velha
do meu tio (a gente chamava assim o carro dele que nem andava mais) e Mercedes
dirigia, quer dizer, rodava o volante para lá e para cá e eu era
a mulherzinha do lado, ou talvez fosse o contrário. Nesse dia, nos beijamos
rapidamente, muito rapidamente e
rimos e saímos correndo da furreca do meu tio porque ele odiava crianças
e se nos surpreendesse ali, estaríamos fritas. Uma outra vez a gente
se deitou, como marido e mulher e nos tocamos os pés, as mãos..Nunca
fomos muito longe. Essas eram as minhas únicas experiências eróticas
com mulher, quer dizer, não difere muito das outras mocinhas. Nos encontramos,
Marina e eu, fomos ao cinema, fui à casa dela muitas vezes. Ela tinha
dezessete anos. A mãe dela não gostava desses encontros e quando
ficávamos conversando até tarde dentro do carro ela gritava com
sua voz esganiçada: 'Marina, vem pra dentro que já é tarde!'
No começo ela, a mãe me respeitava um pouco porque eu era 'uma
professora`, mas depois, quando entendeu que alguma coisa estava acontecendo
ali, mudou de ideia. É certo que Marina ainda era jovem, mas para
trabalhar e carregar nas costas quase toda a responsabilidade familiar, ela
não era. Ela era muito madura para a idade e muito responsável.
Um dia chovia muito forte e nós estávamos estacionadas em frente
a casa dela. Nós apenas nos olhávamos e não falávamos
de nada. Toquei os seus dedos, toquei a sua boca e colei levemente os meus lábios
aos seus. E assim permanecemos durante quase nove anos.
(.....a seguir, cenas dos próximos capítulos............
"Agora que temos a nossa casa, é a chave que sempre esqueço,
vem cá, meu bem, que é bom te ver......)