Ditado antigo, o pensamento é como o guarda chuva, trabalha melhor quando
está aberto, bom eu também deixo recuar o meu pensamento algumas
décadas de anos, abro-o, para ver se ele trabalha melhor; algumas vezes
encontro-o ferrugento e com dentes da engrenagem partidos ou gastos pelo tempo.
Então procuro desbobinar histórias que me eram contadas em criança,
mas encontro ser difícil dar-lhe o mimo como as recebemos, mas vou experimentar
abrir meu pensamento.
Era uma vez um rei que tinha três filhas quase moças, que muito
amava.
Um dia um dos familiares morreu, deixando como herança um reinado com
recheio de cavalos e exercito, o rei queria entregar esse reinado a uma das
filhas, mas queria saber qual delas lhe tinha mais amor e respeito, então
chamou as duas filhas que eram gêmeas, e fez-lhe uma pergunta.
Dizei-me se me tendes amor, e a que o comparais!..... logo a que nasceu primeiro
respondeu: pai, eu amo-te tanto como amo o sol. O pai todo contente, é
também o que mais amo alem de vossa mãe, logo a segunda um tanto
desolada respondeu, meu pai eu amo-te tanto como a água que me mata a
cede; logo o pai respondeu também é boa resposta, mas não
tão boa como da tua irmã, mas guardarei-te junto da família
como prova de amor, tua irmã receberá o reinado se poder escolher
seus capitães de exercito a meu contento, se o não fizer, terás
tu a oportunidade de o fazer.
Então a que tinha oportunidade ao reinado mandou chamar um escudeiro,
mandando-o publicar um edital por todos os reinados vizinhos onde anunciava
a procura de capitães para o exercito, entre eles aqueles que dessem
melhores provas de bravura e lealdade, e com eles portassem sangue real, se
assim o entendesse poderia ser príncipe consorte, casando com a rainha
desse condado.
Capitães aparceiram de todos os cantos, formando um exercito poderosíssimo
e com grande lealdade à filha do rei aquém lhe foi dado esse condado,
toda esta ambição agradou muito ao pai, mas haveria nisto a resposta
ao coração da princesa?.....sim a resposta estava dada à
ambição e ao orgulho
Entretanto o rei chamou a filha mais nova e fez-lhe a mesma pergunta, dizendo
compara uma coisa o como gostas de mim e essa coisa, mas não sol e a
água, que já foram escolhidas por tuas irmãs.
A princesinha sem pensar respondeu, meu pai, eu gosto tanto de ti como gosto
do sal, o pai deitou lume pelos olhos por ver que sua filha comparava o amor
que tinha ao pai com o sal!
E pensando que esta não era digna da realeza, chamou o escudeiro para
que a leva-se para vem longe do reinado, que a matasse e lhe trouxe-se a língua,
ora o escudeiro era amigo intimo da princesinha, que tantas vezes brincaram
nos jardins do palácio.
Muito longe o escudeiro disse, minha linda menina, trago ordens para te matar,
e levar a tua língua como prova, teu pai é muito cruel e vingativo,
mas eu vou matar a cadelinha e lhe entregarei a sua língua, tu minha
princesinha, ficará só e terás de te defender
Assim aconteceu, mas o escudeiro tinha-lhe ensinado as coisas que se podiam
comer no bosque, e como fazer laçadas a coelhos com fios retirados a
seu xaile de ouro.
Estava a cair da noite e a menina entrou dentro de um carvalho oco e muito grande.
Altas horas da noite ouvira muito uivar, talvez lobos
..sentindo uma coisa
a fustigar-lhe a cara, a menina levantou-se, agarrou no que era, com a força
que nos dá o medo
E puxou contra o tronco do carvalho: o que a princesinha tinha agarrado era
o rabo de um lobo, que com toda a força o puxava e o lobo batia com as
bolas no carvalho que muito lhe doía e o fazia ainda mais uivar. Ela
dizia lobo marau chega aqui o Cu au pau
Já cansada, a menina deixou o rabo, e o lobo fugiu a quatro pernas, deixando
a clareira
Livre de perigos selvagens; pelos buracos que tinha o tronco ela poderia ver
quem se aproximava e a certo momento viu um jovem puxando uma carreta cheia
de carvão, deixando a tiara dentro do carvalho, apresentou-se ao carvoeiro
perguntando para onde iria com tanto carvão, ele lhe respondeu para o
palácio do rei Marlim.
Coisa que ela nunca tinha ouvido falar: mas a princesinha logo disse ao carvoeiro;
troco todas as minhas roupas meu ouro, e ainda te dou um beijo por teus farrapos
tua carreta e teu carvão, o carvoeiro que nunca tinha visto roupas tão
bonitas e rapariga tão meiga a oferecer-lhe um beijo, disse logo que
sim, ela entrou dentro do carvalho para se despir e assim fizeram a troca.
A princesinha fez-se pintar com o carvão vestiu os andrajos do carvoeiro,
e vai de puxar a carreta para o palácio do rei Marlim; já ali
com o carvão, perguntou se haveria um trabalho no palácio pois
não tinha leira nem beira a não ser a seu buraco onde fazia o
carvão, o rei estava mesmo procurando um moço para ajudar o cozinheiro
real.
Ela muito envergonhada disse, talvez que eu possa fazer o lugar de um moço
mas eu sou uma donzela.
O rei sabia bem que debaixo daqueles andrajos que se agasalhava o corpo real
da mais bela princesinha
O rei Marlim tinha visto o desbobinar na fonte do amor, tinha visto a sorte
e negrura da princesinha, e sabia de seu desgosto por não ser compreendida
por seu pai, e a sentença a que for a deitada, se não fosse a
grande amizade do escudeiro que foi o seu brinquedo de criança, aquele
que a adormecia contando-lhe historias de embalar e cantigas de ninar.
Foi considerada ajudante do cozinheiro real, recebeu quarto de princesa, onde
poderia tomar banho e cuidar de sua beleza; a Marlim nada escapava, os olhos
de seu filho não deixavam de poisar sobre a beleza daquela moça;
Marlim sabia, Marlim era sábio e grande mágico.
Semanas depois
Marlim convidou todos os reis da redondeza para o jantar que seu filho pediu;
para anunciar e pedir a mão da donzela que tanto amava, mesmo com vergonha
de nunca lhe dirigir uma palavra, o moço estava enamorado.
Sempre que podia, o moço entrava na cozinha Real e pedia para ajudar
a lavar os potes mais difíceis, sua intenção era estar
junto daquela por quem seu coração tanto batia; a princesinha
sempre lhes lançava um olhar furtivo mas meigo.
O dia do jantar chegou, o cozinheiro real sem se poder levantar com uma febre
terrível
coube à princesinha a obrigação e
honra de fazer o jantar, mas teve de pedir ajuda ao filho de Marlim que aceitou,
em troca de um beijo da princesinha em recompensa, ela não resistiu a
seu desejo, e esse beijos durou uma interinidade, porque entre os dois havia
amor nunca confessado.
Então a princesinha contou ao filho de Marlim, àquele moço
adorável, toda a sua tragédia, e o porquê ali estava como
ajudante de cozinheira; ele logo insinuou a maneira de ensinar seu pai e suas
irmãs.
Toda a comida para eles levaria todos os temperos menos o sal; o jantar foi
servido com grandes vivas; todos os convidados davam vivas aos cozinheiros e
queriam ver quem preparou tão grande delicia, menos seu pai e suas irmãs
que não poderão comer de tão mal peladar que tinha a comida
de seus pratos.
Os cozinheiros vieram receber as honras, de braços entrelaçados
apareceram os dois jovens, repararam, que haviam pratos cheios; então
munidos com um saleiro vieram por o que faltava nos pratos dos familiares
.
Sal , Sal, e assim o rei realizou o grande erro que tinha cometido, e verificou
que suas ordens foram desobedecidas, mas afinal sua filha tinha muito razão
de escolher o sal em comparação a seu amor pelo pai, este verificou
que sua estupidez o cegou.
Marlim deixou os dois jovens cheios de amor governar o reinado, e segui viagem
com seu criado Califa no seu quest. de maior e mais famoso mágico que
viveu à face da terra.
Os dois jovens viveram muito felizes no seu reino, tiveram muitos filhos, e
sempre na sua vida compararam o sal ao amor, nunca haverá amor sem uma
pitadinha.