A Garganta da Serpente
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Um dia de Pesca

(Armando Sousa)

Amigos leitores, hoje vou voltar em pensamento à terra berço de meus filhos e lugar onde me senti feliz por um quarto de século; apesar de não haver um jornal em língua Portuguesa ou uma estação de radio; minha casinha do nordeste,(Elliot Lake) onde a neve era companheira inseparável desde o fim de outubro ao meio de abril, sempre se enchia de amigos em tempos de festas natalícias, quando a neve caia e os cantos do natal se ouviam pela ruas levando com os cantares a alegria e desejos de festas aconchegantes; os dias principiavam a crescer, março, dias maiores certos dias as neves já derretiam em reguinhos e a gente já se podia bronzear nos reflexos da neve, certos anos mês de maio ainda via neve cair, ficando a gente de boca aberta de cansada de tanta neve.

Um dia estando no fim do mês Maio à volta do ano 1975, foi num sábado, tinha chegado cansado do trabalho da mina, os pulmões a abarrotar de sílica, queria aliviar-me do fumo e cheiro a gás.

Nesse dia meu companheiro de pesca foi meu filho Idalino, dia que nunca mais esquece na nossa vida pelas razoes que vou contar. Cerca das seis e trinta da manha estavamos a caminho, teríamos uma paragem para pegar nos minous que serviriam de isca.

Era quase dia, logo ao sair da cidade antes da subida da torre de TV teve de parar para não matar um castor que atravessava a estrada, nessa época do ano são muito comuns suas mortes nas estradas do norte, isto que ao mesmo tempo do outro lado meu filho vai de abrir a janela do carro e foi palitado pelos espinhos dum animal. Eram como setas dirigidas a janela do carro que e Idalino se apressou a fechar, estas coisas acontecem uma vez na vida, em muitos milhões de vivências, ver o animal descarregar suas armas de defesa; mas esse dia estava mesmo destinado para marcar nossas vidas e experiências.

Ainda estava a cerca de três quilómetros do lago quando fomos surpreendidos por um veado fêmea atravessar a estrada muito de vagar, parando na berma com as orelhas a bater tanto que mais parecia um beija-flor a bater as asas; parei junto a essa fêmea e logo me apercebi que haviam filhos por perto e logo meu filho; pai olha daquele lado dois pequeninos, olhei e tive dó, segui com o carro pensando o quanto aflita estaria aquela mãe veado com seus filhos separados pelo carro e barco e que poderiam ser atropelados.

Mas meus amigos saímos de casa para um dia de pesca e de desintoxicar os pulmões com o ar fresco e puro do lago (Donlop) .

O barco foi posto na água com o Idalino ainda sem completar sete anos, muito fiel a segurar na corda e reter o barco depois que a trela ter entrado da água.

Depois do carro arrumado entramos no barco com destino a experimentar as águas e a fome ao peixe, atracamos perto da segunda casa de castor.

Depois de deitar ancora experimentamos a sorte, fiz o primeiro castre, veio um porche médio, meu filho tirou outro e outro, mais outro castre outro porche, então seguimos para a portagem do lago dez milhas, ai tinha outro barco, peguei no motor de 6 cavalos e no tanque de gás. passe sacos com canas e outros apetrechos; o Idalino levava os minous isco de pesca que logo nos primeiros passos deixou-os cair no carreiro que nos levava ao lago, peguei neles como pode, e segui carregando com tudo, mandando-o seguir a minha frente. Chegamos em menos duma hora tínhamos 5 trutas, preparava-me para regressar e meu filho grita, pare pai, o anzol pegou no fundo, pus o motor em neutro e peguei na cana de meu filho, e senti dois grandes puxões, disse não é fundo, tens aqui um grande peixe, tu o vais tirar depois de eu o cansar, naquele lago o peixe era forte e sadio, mas sentia ser um bom peixe, de todos o que me dava mais luta, depois de 5 minutos de vai e vem senti que seria tempo de dar a cana a meu filho ficando a controlar o barco e a rede

Mais dois puxões e era agora a alegria da criança estampada em mil sorrisos, vinha fundo, num abrir e fechar de olhos meti a rede certeira e retirei contendo o maior peixe que eu ate este momento tinha visto sair deste lago, não era excepcional, mas ao pôr-lhe a balança ela chegava ao fundo, era apenas uma balança de mola com o máximo de 10 libras.

Sentir meu filho alegre, deu-me a maior satisfação que jamais sentira.

Iniciamos a volta para casa, depois de arrumar o barco, descemos ao lago Donlop onde se encontrava o barco maior e com maior motor, os dois satisfeitos, iniciamos a volta a casa, quando bem perto de nos víamos um grande urso, carregando um filhote, atravessado o lago, as lagrimas me rebentaram nos olhos ao pensar, o que é a fome... talvez ele vá com o filho procurando melhores pasturas.

Lembrou-me de mim próprio, quando sai do outro lado do oceano procurando outra terra com mais pão para minha família, desta maneira dando nova pátria a meus filhos, e para mim comprando-a com dez dólares, mas que hoje não a vendo por milhões.

Atirei com os peixes pequenos ao urso, pensando em meu passado, segui sua rota e ainda lhe atirei uma truta mais pequena, dando o volante a meu filho disse guia, pois foste tu o maior pescador hoje, Idalino era um rapaz forte, não o julgava tanto, sentia-se tão orgulhoso no seu lugar de timoneiro, tanto se entesou, que partiu o volante original de alumínio fundido. Saltei e tomei conta do comando na mão do motor.

Passados trinta anos ainda é uma galhofa quando nos lembramos desse dia.

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