A Garganta da Serpente
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A Moura da fonte Pedreiro

(Armando Sousa)

Em criança, para adormecer, ou depois da ceia enquanto o borralho ardia e aquecia, meus irmãos e irmã se revezavam contando histórias, lendas ou feitos de antigamente.

Contos sempre relacionados com fadas príncipes ninfas e mouras.

As mouras se relacionavam sempre com fontes, penedos abertos, rios ou montanhas.

Nas histórias contadas aparecia sempre um ponto moral que entrava no nosso ser como vinham fazendo parte de nossa vida, ou moldávamos o nosso ser, relacionado aos ensinos que retirávamos das lendas que vinham desde o tempo dos romanos pagãos, das mouras árabes e do velho do Egipto e de Moises.

Na fonte pedreiro, diziam que depois que a lua aparecia no alto do monte a pessoa que fosse beber ouviria dentro da mina donde brotava água fresca e límpida, leve como fonte de saúde, música linda mas muito triste, que apaixonava e faria chorar o ser mais duro; as moças mais apaixonadas, quantas vezes iam escutar essa música para murmurar os versos mais lindos verdadeiros e apaixonantes que um dia se haveriam de tornar no fado que hoje se ouve cantar, e que sai do mais fundo da alma apaixonada, descreve saudades sem volta, descreve amor, e descreve a dor.

Uma noite em que passava por ali uma coluna militar romana, o valoroso capitão sentiu sede irresistível ao olhar o luar que batia na água caindo.

Os soldados desmontaram e se reabasteceram da pureza da água que ali caía, sentiram a música mas teriam de dar vez aos colegas. O último a encher sua botija foi o capitão, deu ordens para seguirem , que os apanharia mais além.

A música se ouvia mais alta e mais triste, se lembrou de sua namorada quando anos atrás partiu de Roma, este sentiu saudades e um grande torpor, ao beber os primeiros golos dessa água e adormeceu.

Momentos passaram, quando acordou viu sentada numa pedra da fonte uma senhora de rosto encoberto que dobava um novelo de fio de ouro que saia da água.

Este lhe perguntou, Senhora que fazes tu aqui retirando ouro da água?... esta lhes respondeu; Senhor, isto é o cabelo de minha ama que aqui foi encerrada pelo seu pai castigada por querer casar com um cavaleiro cristão. Seu pai era um feiticeiro Árabe que tornou o cabelo de sua filha numa mina de ouro para aumentar sua riqueza, este pesa tanto em sua cabeça que tem de ser trimado, e eu fiquei com o castigo de o dobar, este está em bolas de ouro que só estas poderiam vencer o guardião dessa linda princesa que espera um valoroso cavaleiro filho de rei que a possa libertar.

A Senhora diz: Tibério, sei que és filho duma das quarenta e cinco concubinas reais, portanto tens sangue real, só tu poderás libertar minha filha, que ainda vai à bem pouco tempo que ouvias nossos lamentos nessa música que te fez adormecer porque teu sangue é real.

Tibério, disse a senhora; se tiveres coragem seguiras este fio que te levará aos novelos de ouro, cujos novelos serão parte de tua arma para venceres a besta que guarda a redoma da mais bela moça, se tiveres coragem de acordar sua beleza, esta te encantará e talvez te torne no mais feliz dos mortais; esta moça apenas vive uma hora por dia e volta a seu encanto.

Tibério, partirei para sempre, cumpri meu fado, logo que o luar desapareça na outra montanha, a mina se abrirá, e podes entrar ... depois podes escolher riqueza ou doçura de mulher... se for mulher que escolhas, de vocês nasceram dois varões que tornaram famosa esta terra... Lusitânia, e uma menina que fará a alegria das pastorícias da serra mãe.

Grande estrondo... se abriu a montanha. Tibério pegou no fio, tudo se fechou num palácio das mil e uma noites...ouro e diamantes... fascínio em solidão, em frente desta riqueza de salão, muita água de muro a muro, mesmo em frente do leito de encanto, um monstro com cara de touro asas de grifo e unhas de leão, estes rosnava.

Água separava o monstro e a redoma da bela, do salão onde se encontrava Tibério e os novelos douro e grandes pedras de diamantes as águas estavam infestadas de crocodilos ferozes e famintos. Tibério com todas as forças atirou sua lança que caiu na borda da água e foi despedaçada pelos crocodilos.

Olhou e viu uma funga que logo o levou ao tempo de pastor, sua perícia voltou a nascer, pegou numa pedra de diamante e a lançou no momento que o monstro se elevava, o brilho desta o cegava que lhe bateu num olho deixando-o a saltar de dor.

Mas logo se lembrou que os novelos seriam para vencer o monstro, este se elevava disposto a atravessar as águas voando, Tibério, pôs o último novelo bem mais pesado que o diamante, este lhe acertou mesmo entre os cornos que o fez cair nas águas que se tingiram em sangue despedaçado pelas bocas famintas dos crocodilos.

A travessia das águas estava problemática, mas os novelos de ouro foram atirados e formando uma corda que serviria para o transportar ate junto da bela adormecida.

Via aérea foi estabelecida com as bolas de ouro, corda bem segura...

Mas antes Tibério reparou em grandes bolas com um gancho na ponta duma boa corda de ouro, este uma a uma as atirou aos crocodilos que logo as engoliam, assim como uma matilha de cais os prendeu a uma coluna longe da corda que o levaria ao lugar onde jazia a bela adormecida por mais bastantes horas.

A coluna de Tibério voltou ao lugar da fonte mas nem rasto dele e partiu para o aquartelamento.

Tibério usando as cordas atravessou as águas com os crocodilos aos pulos, mas disposto a perder a vida pelo desencantamento duma dama.

Chegando, a contemplou e a quis logo abraçar,... leu o que dizia ... para tua noiva um beijo leve e doce nos lábios... se queres a riqueza apenas um beijo na face e esta dormira eternamente.

Esta era a cara macia e maravilhosa de sua amada que tinha deixado em Roma, sim era a sua Sulina adorada... Ho sim seria sua esposa se o quisesse ser.

Beijo doce e macio a acordou, depois houve choros, rolar, gritos de amor, abraçar, promessas, planos e juras.

Seriam Lusos para a eternidade... rumaram aos montes irmínios edificaram sua fortaleza

Seus domínios, primeiro filho de nome Viriato.

Mais dois filhos desse grande amor, uma menina grande riqueza cobiçada pelos grandes da corte, mas esta se encantava com sua liberdade e as pastorícias da serra.

Outro irmão nasceu e mais encanto pelo Torrão...promessa de viver eternamente Lusitanos combatendo os Romanos que permaneciam na pátria amada de seus filhos e rebentos...a serra quando se vestia de branco parecia uma rainha ou noiva amada de seus amores.

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