A Garganta da Serpente
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As guerras de Deus

(Armando Sousa)

Desde o princípio dos princípios, logo que deus fez todas as coisas, viu que nem tudo estava prefeito, que havia muitos erros de manufactura e por tanto tudo continuaria sem perfeição.

Ele mesmo, Deus e Sr. de tudo, vivia na solidão, sem ter com quem se divertir ou com quem brigar.

Então perto dum reguinho onde ele pôs umas pedrinhas para poder ouvir o som da água correndo para um grande lago a que chamou o mar, dando-lhe a cor do horizonte, com todos os reflexos dum espelho de calmaria que o cegava de monotonia, ficou triste e pensativo, então soprou, as águas quietas revoltaram-se contra o sopro de deus, tornando-se em ventos ciclónicos que ainda hoje depois de bilhões de anos, continua engolindo tudo nas suas goelas de dentes amarelecidos que deus lhe criou, tornando todos os elementos em canhões de guerra para defender a natureza, que deus disse ser suprema.

Então deus amoitou os ventos e continuou na sua brincadeira para vencer a monotonia

Com uma mão cheia de barro e um pouco de água principiou a amassar na sua primeira guerra contra a natureza, pois apertava o barro até o poder manear sem este partir.

Esta mão cheia que sai da natureza maneou-a num boneco com quem ele podia amassar fazer explodir a seu belo prazer para banir de si a solidão.

Um dia cheio deste brinquedo e porque viu que estava com peito muito forte e barrigudo, cortou um pouco e baseado na primeira maquete quis fazer uma coisa muito mais prefeita e bonita, dentes branquinhos e olhos movediços, lubrificados com uma pontinha de óleo puro de oliveira; Deus queria ter gosto em alisar sem apertar, encher as mãos de sensação de prazer.

Depois de dar vida aos seus bonequinhos, adormeceu ouvindo a água cantarolando junto ao regato.

Os bonecos de deus acordaram para a vida, se olharam e se viram diferentes, se tocaram em suas partes diferentes, e logo tremiam de prazer, e quanto mais se tocavam mais se abraçavam, mais procuravam grande sensação.

Assim nasceu o maior prazer, o rebentar da loucura, a transformação do homem em amor dentro desse sublime vulcão.

Deus acordou e tornou-se jaloso, ao ver os seus brinquedos abraçar e beijar de alegria.

Um por cima do outro com grande folia.

Deus logo os quis escravizar, dizendo: estais abandonados e tendes de trabalhar, nascerá o pecado que vos vai fazer guerrear.

Pouco tempo depois Caim matava seu irmão Abel acometido de inveja, e isto logo nos primeiros brinquedos que deus criou... os outros irmãos e irmãs seguiram caminhos diferentes cada um com seu deus.

Sempre que se encontraram esses filhos do boneco de barro; no caminho do progresso houve guerras...

Deus era de criar pão para dar de comer a seus filhos, mas afinal cria governos em seu nome, que gastam tudo em balas para matar a humanidade, como desde o princípio.

O deus católico não quer que derreta um pneu para fazer camisinhas e dar ao povo de África, para se livrar das AIDS; mas da forques aos padres para estes estar cobertos e deflorar tantas mocinhas e mocinhos. No Iraque o Deus católico e o deus do Islã se matam uns aos outros. No Líbano o Deus judeu e os Islamistas se guerreiam e se destroem; em Caxemira os buídas e Guris também. E tudo principiou com um boneco de barro mal feito transformado na mais bela maravilha do mundo, e morte da solidão; deus ficou jaloso da alegria dos bonecos que foram criados para ele se divertir....

Em alternativa, deus criou guerras.

E assim deus tem entretenimento para sempre, olhando por suas guerras.

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