A Garganta da Serpente
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A bola do destino

(Armando Sousa)

CAPÍTULO 1

Amigos leitores, por vezes nem acredito que coisas do passado venham ao presente da nossa mente, e que nos dão motivos para escrever histórias maravilhosas.

Tenho umas pequenas luzes de quando era jovem e pela noitinha eu e os colegas íamos para cima dum penedo contado cada um suas histórias moralistas, as quais nos davam o motivo para decifrar o bem do mal, e um calor moralizador há nossa consciência.

E assim principiávamos: era uma vez uma menina princesinha que não acreditava totalmente no poder, mas sempre acreditava no destino. Isto porque uma vez uma velhinha lhe deu uma pequenina bolinha dizendo: "minha princesa, esta é a bola de teu destino, se um dia tu te encontrares perdida, deita-a por terra que a bolinha te indicará o que fazer na vida".

O pai da Princesinha era o rei daquele país, governava com mãos duras e severas; dizendo que o destino de seus súditos estava nas suas mãos.

Um dia chamou sua esposa seu filho e as duas princesas suas filhas, dizendo: "hoje vai haver um julgamento na praça do castelo; mas eu já sei o que se vai passar, porque o destino de toda a humanidade do meu país está nas minhas mãos".

Virando-se para a esposa perguntou: "tu crês que tenho teu destino nas minhas mãos?... "

A rainha logo "sim, meu senhor, sou toda tua e estarei sempre ao teu comando, tu és senhor do meu destino"... A mesma pergunta foi feita ao filho... a mesma resposta recebeu.

A outra princesa também respondeu "Sr. meu pai tudo que decidires seguirei, tu és senhor do meu destino".

A outra mais novinha apertava a bolinha contra seu coração, e disse:

- Meu pai eu farei o que tu me pedires e for justo, mas tu não tens meu destino na tua mão. Sei que tu tens mandado matar, mandado cortar mãos aos ladrões, que tens castigado por prazer, mas mesmo assim não tens o meu destino nas tuas mãos; meu destino ninguém o viu ou adivinha.

O pai todo ufano, ferido no seu orgulho pela filha mais nova, disse: "vamos ver se tu vais concordar", e disse "hoje vais fazer toda a arrumação do castelo".

A menina meteu-se ao trabalho, eram altas horas da noite e ela não tinha acabado. Quando foi dormir cansadíssima, todos no castelo dormiam, ela atabalhoadamente deu por terminado o trabalho.

Ao outro dia o pai recriminou seu trabalho e mandou-a continuar dizendo tu assim saberás quem é senhor do teu destino.

Ao terceiro dia de trabalho a princesa disse a seu pai "tu não tens o meu destino nas tuas mãos, além disso és um pai muito injusto; e muito mais injusto como rei deste país".

A cólera do pai subiu ao teto, ele passou de branco a vermelho e barafustando, mandou encarcerar sua filha com grades fortes dum fedorento calabouço.

Por semanas a pobre da princesa ali ficou, suja mal nutrida e ainda olhada com desprezo...

Os habitantes estranhando a falta de princesa principiavam a ficar inquietos com o trato que lhe seria dado, procurando maneira de se esquivarem aos princípios da lei.

O pai mais uma vez lhe perguntou: "estás de acordo que o teu destino está em meu poder?..."; a princesa respondeu: "pai, teu poder nem o amor de minha mãe tens, ela te vira a cara com desprezo, e tu podes me matar... mas esse era meu destino, mas meu destino está em mim só em mim, e aqui está o objeto de meu destino"; o pai tentou esbofetear a princesa, mas ficou paralisado, de braço no ar.

Prisão aberta, esta deitou a bolinha em terra e seguiu-a como a velhinha dissera; a bolinha a saltitar foi para cima de um carro de palha, que passava; a princesa entrou no meio da palha que levava escondida muita uva e nozes.

A princesa comeu e dormiu; ao acordar de cara com a velhinha, foi esta que lhe tinha dado a bola do destino, e agora ali estava para a guiar, ela era o seu destino.

A princesinha ficou dormindo, ao acordar voava montada num branco unicorne com asas suaves como o branco algodão das nuvens como ondas dum mar movido.

Este unicorne, depois de sobrevoar montanhas e montanhas, atravessou lagos e campos com plantas naturais de mil um feitios de alvores, e cores de flores, desceu num jardim paradisíaco, onde reinava o canto de mil e um passarinhos e zumbido de abelhas, nozes e frutos de toda a espécie, a princesa sabia que fugia da morte e enfrentou seu destino com tranquilidade e esperança no caminho maravilhoso do viver que seu fado lhe reservara..

Depois de deposta naquele paraíso, o unicorne subiu as mesmas nuvens de algodão e desapareceu. Felicidade, assim se chamava a princesa, depois te todas as peripécias encontrava-se exausta e sentia a necessidade de um bom banho no rio que mansinho serpenteava deixando aqui e ali umas Alagoas pouco profundas com praias de areia banca e límpida, depois de desfazer de seu roupão de prisioneira. Felicidade entrou nas águas de uma ternura que nunca tinha sentido; despida se olhou, sentiu-se diferente quando as águas acariciavam os pêlos que indicavam pura virgindade de inocência, e sentira que tudo acontecera nos seus dois anos de prisão a que seu pai a devotara; Felicidade deliciou-se naquelas águas esquecendo-se do tempo, tinha lavado seu roupão que se encontrava a secar no penedo virado á lagoa, quando ouviu o latir de cães que se aproximavam; pegou no seu roupão e deitou a bolinha na areia, que ali ficou dois passos para a frente.

O latir aproximava-se mas a bolinha ali ficava; de momento sentiu-se rodeada de quatro belos exemplares caninos; um de cada lado pegaram nas mãos de Felicidade sem morder e puxavam para a frente, quando de momento um vulto em cima dum cavalo se aproximava, mas Felicidade, a nossa princesinha, confiava que tudo era o destino e não se amedrontou; esta desde que confiou no destino sabia que o medo era o maior inimigo.

O cavaleiro desceu e saudou aquela beleza em trajo de prisão, mandou retirar os cães e pediu se poderiam conversar na areia....então este disse a Felicidade que seu pai possuía uma das maiores riquezas das redondezas e procurava para fazer um palácio num sítio onde a tranquilidade era suprema, sítio como este em que se encontravam.

Nuno devagarinho pegou na mão da Felicidade, esta sentiu arrepios de prazer e pensou se este é meu destino, não é a força de meu pai, e deixou ir sua mão receber os lábios do primeiro homem, o que ela sentiu era supremo prazer, e pensou, será este meu fado, e eu tenha chegado ao fim da má estrada, onde a estrada da Felicidade seria começada?...

Nuno disse, aqui ficam meus fiéis amigos contigo eu voltarei com roupas para ti e te fazer uma proposta, que neste lugar creio que é o sítio do prazer e da felicidade, com mais dois beijos na mão da princesinha e Nuno partiu.......


CAPÍTULO 2

A nossa Princesinha de nome Felicidade, ali ficou rodeada daqueles lindos exemplares caninos, com as mãos correndo todo o seu corpo, perguntava a si própria, que será que Nuno deseja? Será que eu já saberei ser mulher?... que foi fazer Nuno?... assim pensando adormeceu na areia junto a seus quatro guardas.

Os sonhos foram das mil e uma noites; viu erguer-se um lindo palácio um pouco acima do monte junto aos rápidos do rio; à volta do palácio lindas moradias; ao cair do monte uma bela escola cheia de crianças de todas as idades; os professores brincavam como as crianças, para ter certeza que os jogos eram inofensivos; os jardins junto à praia, eram ainda mais bonito de que os da sua chegada. A Princesa Felicidade no seu sonho, sentiu-se mulher, nas suas terras primaveras, senti-se acariciada, onde existia prazer e dor, mas ao mesmo tempo eram tão doces suas carícias; era um homem que lhe parecia ser Nuno, e a Princesinha lhes contava quanto amava viver neste recanto paradisíaco. Ao mesmo tempo em que lhe apareceu no sonho a prisão e seu pai paralisado que lhe proporcionou a fuga; neste momento sentiu o quanto é rude a humanidade na sua ganância de poder, e pensava. Se eu um dia puder e souber, apenas guiarei sem forçar, porque sei que o destino pertence ao fado da pessoa; a sua bolinha jogando na sua mão parecia ouvir as palavras da velhinha, que foram ensurdecidas pelo latir alegres dos cães junto de si, assim acordou do sonho de prazer e de dor, apenas sentia pena de tanta ignorância e arrogância das pessoas, entre ela o que conhecia mais arrogante era seu pai, as lágrimas corriam nesta hora de saudades da sua meninice, esquecendo-se do desprezo a que foi lançada.

Os cães desapareceram numa correria, indo fazer festas a Nuno que regressava com uma comitiva e cavalos carregados.

As lágrimas ainda escoriam dos olhos de cor de um azul do céu onde a meiguice parecia sair como luz incandescente e como um raio a fazer baixar o olhar de Nuno, que perguntava qual o motivo dessas lágrimas.

Neste momento uma senhora vestida como homem habituado a muitas batalhas descia juntamente com uma muito jovem menina.

Dois homens montavam uma tenda muito perto da areia da praia...

Felicidade a linda princesinha olhando sobre si, disse e portanto era princesa de um reino para além muito além, e agora sou ninguém e à mercê de toda a ajuda.

Sentiu umas mãos leves e macias a cair sobre seus ombros num abraço, Felicidade quase pensou existir anjos, mas eram as mãos da mãe de Nuno que a estavam a abraçar, outras lhe depunham uma veste maravilhosa lhe indicando a tenda que se montava.

Nuno não retirava seus olhos dos olhos cor do arco do mundo daquela menina e sua mãe sentia-os tanto encantadores como a primeira vez que encarou os olhos de seu pai e se apaixonou.

Felicidade, a nossa princesinha olhou para Nuno e para as vestes na suas mãos, um sopro de sorriso de muito obrigado surgiu de seus lábios mais desejados que a mais doce cereja, suas mãos mais uma vez apertaram a bolinha do destino, pensando seria mesmo maravilhoso; olhando para a senhora sem palavras de agradecimento surgirem a sua boca, agarrou as mãos da mãe de Nuno, olhando para ele com olhos de o derreter.

Os três se encaminharam para a tenda já montada, em pouco tempo a transformação de uma prisioneira para uma princesa real.

Nuno pediu a sua mãe se poderia falar com a princesa, e saber dos seus desejos; esta respondeu, "meus desejos serão meu destino, e meu destino está marcado".

"Mas gostaria de ver realizado meu sonho, que aconteceu depois de partires, sem eu saber o que irias fazer, mas encontrei-me segura com teus amigos, e com a bola do meu destino".

Assim esta passou a contar tudo que sonhou ao Nuno mesmo as parecenças dele com o moço de seu sonho, e o que Felicidade sentiu que a fez corar e deitar os seus lindos olhos ao chão com pudor.

A senhora mãe de Nuno ainda viu o primeiro beijo a ser roubado na face da Princesinha e se aproximou perguntando se ela queria fazer parte dos amigos da família e talvez um dia fazer parte da família; Nuno contou então à mãe os sonhos da Princesinha, ao mesmo tempo que se ouvia o latir de cães.

Era o pai de Nuno que chegava com um bom javali que tinha matado com uma flecha certeira; uma enorme fogueira surgiu no areal, e assim todos se saciaram da bela carne do javali, ao mesmo tempo que o pai foi informado dos sonhos da princesa.

O velho marinheiro pirata pelo destino, disse pois se é o destino da Felicidade viver neste palácio de sua imaginação, com súditos e escolas, será meu destino de o poder erguer, com o tesouro descoberto que pertenceu a outros piraras que morreram pirateando.

Em dias ali foi erguido um acampamento, os trabalhadores principiaram chegando, o palácio foi erguido no alto da colina, e os prédios e escolas surgiam, e tanto queriam entrar na nova Cidade onde havia amor pão e igualdade.

Um dia, em que estavam deitado na areia, a bolinhas desprendeu-se das mãos de Felicidade, esta foi aos saltinhos parar no peito de Nuno, que agarrou a bolinha. Por momentos tinha o destino na mão e viu a princesinha correndo para agarrar sua bolinha do destino, ao pegar sentiu a mão de Nuno sobre seu pescoço a puxando docemente para si; entre os dois apareceu, a velhinha que os abraçou dizendo: "vosso destino está traçado pelo vosso amor, existe tantos que precisão definir o seu e precisando desta bolinha do destino".

"Nuno e Felicidade quando a igreja estiver pronta, a união do vosso amor será o guia de vosso destino, e a ti Felicidade este segredo, não foi teu pai que te meteu em prisão, tu és filha do chefe da guarda de teu País; o homem que se dizia senhor de todos os destinos, morreu numa cassada ao javali; teu pai hoje é o verdadeiro rei pelo destino e pelo sangue.

Queridos Felicidade e Nuno, esta bolinha irá definir o destino de mais alguém que acredite, e lute com todas as forças para se bater com o egoísmo do poder..."

Assim a velhinha os deixou abraçados ao seu destino e seu fado.

Notem bem o destino... o destino. Nasci num canto do norte de Portugal, bem pobre, andei por parte da Europa, para vir ter aqui ao país das neves eternas e do sol da meia noite, onde o sol não faz dia por semanas... Escrevo-vos estas histórias pois sigo meu destino...

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