A Garganta da Serpente
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Seus Olhos

(Alexandre Reis)

Naquela maldita noite, estava eu, ainda um adolescente, nascido na capital, mas criado no campo, ajeitando as coisas no celeiro de nossa fazenda. Não era comum isto, era o preferido do papai, único filho homem, que tinha três lindas irmãs. Mas naquele dia, havia aprontado pra valer.

Todos haviam saído, para uma festa, que haveria na fazenda ao lado da nossa, e só o traste aqui, ficaria trabalhando. Mas tudo bem, as festas de nossos vizinhos eram um tédio mesmo.

Estava tranquilamente, pegando os pesados sacos de feno, e empilhando todos no mesmo canto. Tinha pressa, afinal, papai disse-me que quando termina-se o castigo, poderia participar da festa, que mesmo sendo uma porcaria, ainda poderia haver alguma princesa, escondida no meio daquele monte de caipiras.

Empilhava os sacos tranquilamente, quando de repente ouço um estranho ruído, parecia que estavam mexendo em algumas caixas que havia do lado de fora do celeiro.

- Tem alguém aí fora? - Pergunto eu.

Nada de resposta, deveria ser somente má impressão.

Mas depois de alguns minutos, percebe que os ruídos voltaram. Alguém deveria estar mexendo nas caixas. Poderia ser um ladrão. Será?

-Ah! Mas que droga! - Grito eu, com a esperança de espantá-lo, seja lá quem fosse.

Mas não adiantou, o estranho ruído de algo se mexendo do local onde estavam às caixas continuou.

Foi quando resolvi tomar uma atitude e virei para sair do celeiro e ir até lá, mas quando fiz isto, não sei como aquilo pode acontecer, tropecei em um dos sacos, e este meu tropeço fez com que a pilha de sacos acaba-se desabando em cima de mim. Estava agora imobilizado.

- Legal! - Gritei - Fique a vontade, seu assaltante, pegue tudo que quiser, se aproveitando que estou imobilizado, e se mande. Aproveite enquanto é tempo.

Estava lá eu, imobilizado, sem nada poder fazer, incapacitado de impedir o assalto, e além do mais, sem poder terminar o serviço, e o pior, sem poder ir filar a boia da festa do vizinho, que alias, era a única coisa, que lá, prestava.

Foi quando tudo aconteceu. Ele entrou sem bater no celeiro, na verdade parecia que nem precisou abrir a porta para entrar, como um fantasma, mas era real demais para ser-lo. O Ladrão? Não. Mil vezes não. O Assassino.

Pergunta-me como sabia que o era? Simples meu bem. Seus olhos.

Seus olhos grandes e arredondados, belos até, uma estranha e sinistra beleza. E contemplando esta sinistra beleza, via algo, escrito na menina de seus olhos. Morte e Crueldade.

Eu o fitava fixamente, e ele fazia o mesmo, o predador fitando sua vitima, imobilizada pelo Destino, ou pelo Acaso, como diriam os céticos.

Por mais alguns minutos, ele olha fixamente para meus olhos, e em dado instante resolvi gritar, mas meu grito é preso, pelo enorme horror, pavor, medo que foram colocados em minha alma por aqueles olhos cor de sangue.

De repente ele deixa de me olhar, e atravessa vagarosamente o celeiro, fitando cada parte do local do crime, tranquilamente. Era como se soube-se que, teria todo tempo do mundo, pois meus pais demorariam a chegar, e meus gritos seriam abafados, pelas musicas caipiras, que havia na festa.

Olhou para todos os lados do local, mas tive a impressão que percebera, não haver arma alguma no local.

Fiquei aliviado? Não. De forma alguma. Ele possuía armas mais poderosas do que facas e punhais. Tinha seu próprio corpo. Um corpo forte e resistente. Que daria inveja a muitos lutadores de vale tudo.

Estava agora finalmente, vindo até mim. Novamente contemplo seus olhos, olhos que mandavam mensagens de morte e desespero, de suas inúmeras vitimas anteriores, que supunha eu, ele possuía. Aproximava-se cada vez mais de mim. Era meu fim. E mais uma presa para sua coleção.

Foi quando resolvo fazer meu ultimo esforço, e dando um enorme berro, exatamente na hora que concentrei todas as minhas energias em meus braços e ombros, consigo me livrar, da pilha de sacos, e me vejo livre.

Ele ainda me fita, corajosamente, pois sabe que se avançar sobre mim, vencerá por força física. Foi quando resolvi ser esperto. Pego uma pedra, que estava em um dos meus bolsos e a jogo em direção do outro lado do celeiro. Mas que idiota! Ele olhou por alguns segundos em que direção a pedra se dirigia. E foram nestes poucos segundos que he desferi o golpe fatal. Pisei fortemente, com meu calcanhar direito em sua pequena cabeça... verde.

Bem no centro, do chão do celeiro, coberto por feno, jazia, o corpo do assassino, ou melhor, dizendo, a assassina. Bem no centro do celeiro, coberto de feno, jazia, uma linda serpente, da raça cascavel.

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