Era sexta-feira à tarde quando começou a ventar e ela sentiu medo.
Primeiro, vieram lufadas fracas, que balançaram as copas das árvores
e encheram o fim de tarde belo-horizontino de um farfalhar que parecia chuva.
Depois, foi aumentando.
Soprou forte e lambeu do chão as folhas secas de julho, rodopiou-as no
ar, atirou-as novamente ao chão. A moça não entendia porque
esse vento a fazia pensar no Diabo. Mas imaginava-o varrendo as ruas com seu
sopro de maldade, dobrando esquinas, uivando nos telhados dos sobrados antigos
da Floresta, assombrando as ruas desertas de Santa Tereza, levando a passear
as almas inquietas do Bonfim. Com o vento, veio um céu carregado, cinza
metálico cor de tristeza. Uma chuva fina caiu, esfriando a noite. Nas
ruas, era tudo silêncio, fora o som de galhos e folhas secas e papel amassado
que o vento arrastava.
No sábado, ninguém saiu. Nem a moça, que preferiu ficar
em casa, olhando o vento da janela. Olhava e imaginava o Diabo lá fora,
espreitando, esperando, perambulando trôpego pelos becos e soprando, soprando,
envolvendo a cidade com seu hálito frio de desgraça e desolação.
Arrepios lhe subiam pelo corpo, e ela fechava, bem fechadas, as janelas e cerrava
as cortinas. Nunca soube explicar que medo era esse de vento, do vento sobrenatural
de julho. Mas havia sido sempre assim, desde sua infância em Minas