No estúdio improvisado a câmera percorre o espaço distraidamente,
parando aqui e ali sem se deter. O olho por detrás dela busca algo que
o capture, há muito tempo busca. Já nem sabe quanto. Percorreu
espaços, encontrou ângulos mas nenhum que o arrebatasse. Ao olho
por detrás da lente. Gira... pára... torna a começar...
insaciável... desamparado porque não encontra, nada-ninguém-amor-azul.
Pulsa. Líquido, escorre-sofre. Pensa no que vê - não - não
pensa, apenas percorre, desliza lentes como dedos, afaga, apalpa, quer ser tocado
como a lente ao focar o espaço. Mas não é assim, é
apenas a frieza do obturador que clique claque abre e fecha sem piedade. Comentários
soltos, quase vazios. Como o olho que vê e que parece vazado.
De repente a câmera se detém.
O que tanto buscava o encontrou. Paralisado, muda o plano ajustando o foco,
diminui a abertura, a velocidade. O tripé, sabe que não conseguirá
sustentar o olhar sem ele. A câmera escuta a si mesma e o olho no jogo
dos espelhos se reconhece. Esconde-se, fecha-se, o olho que vê por detrás
da câmera. Teme ser visto. Sente-se perseguido ao descobrir-se no outro.
O tempo se esgota. Pinga lentamente da torneira semiaberta, grande e pesada
como aquela escultura tão familiar. Escoa de um reservatório que
nunca é alimentado. Escoará até acabar.
Sabe que não há mais tempo. De recuperar o amor perdido, o tempo
gasto em buscar, que o esgarçou até onde não podia mais
e o reduziu a um olho que olha através e que busca incessantemente algo
que olhar.