Nos primeiros meses do ano de 1967, numa manhã qualquer, por volta das
9 horas, no Regimento de Cavalaria da Força Pública do Estado
de São Paulo, o corneteiro toca um toque de reunir, significando que
toda a tropa deveria se fazer presente, devidamente em forma. Não era
costumeiro naquele horário tal acontecimento. Os soldados, graduados
e oficiais estranharam, mas como o toque era uma ordem, lá ficaram todos
à espera da chegada do comandante que parecia não ter pressa.
Alguns minutos se passaram e lá vem ele acompanhado de alguns civis,
batendo com o rebenque na bota, criando uma tremenda expectativa. Sem nada dizer,
um casal de jovens foi olhando um a um fixamente até que para diante
de um soldado dizendo:
- este é um deles.
O casal, ao lado do comandante, continuou caminhando, como a procurar mais alguém.
Para novamente diante de um cabo e diz ao comandante:
- este é o outro, porém está faltando mais um que não
vejo presente no corpo da tropa.
O comandante ordena que o cabo e o soldado saiam de forma, determinando que
um dos oficiais os escoltem e os recolha ao xadrez, deixando todos meio embasbacados.
A seguir a tropa foi liberada para continuar com seus afazeres. Tem início
então um diz-que- me-diz com cada qual levantando uma hipótese
sobre os motivos dos dois praças terem sido presos.
Passados alguns dias todos ficam sabendo sobre o que realmente ocorreu. O cabo,
e mais dois soldados, em suas horas de folga, costumavam assaltar casais lá
pelas bandas do bairro São Miguel Paulista em São Paulo. Porém
nesta última vez extrapolaram, praticando estupro da mocinha na presença
de seu namorado. Era um casal bem jovem. Estavam noivos. O fato indigno aconteceu
quando os jovens, evangélicos voltavam de sua igreja. Vendo os três
cavalarianos sentiram estar em segurança. Enganaram- se, infelizmente!
Jamais poderiam supor que aqueles homens que tinham por dever garantir a segurança
dos cidadãos pudessem vir a magoa-los tanto. A atitude daqueles indivíduos
foi pior do que a dos piores bandidos!
Carioca, era o apelido do cabo reconhecido como um dos autores do roubo seguido
de estupro. Quando em meio à soldadesca, costumava falar bem alto para
que todos ouvissem:
- o negócio é roubar !
Todos que o ouviam julgavam que dizia aquilo por brincadeira, de vez que era
um gozador muito alegre e brincalhão. Agora, porém, tinham certeza
de que falava a sério.
Depois de devidamente reconhecidos, ainda tentaram negar. Identificado e localizado
o terceiro soldado criminoso, foram os três bandidos encaminhados para
o Destacamento de Polícia Militar, o temido e respeitado DPM, que à
época era a polícia da polícia e funcionava no Quartel-General
da Força Pública. Por mais algum tempo continuaram negando a autoria
daquele roubo seguido de estupro, mas submetidos a rigoroso interrogatório
acabaram, finalmente, por chegar à confissão.
Confessado o crime foram os três submetidos a conselho disciplinar, sendo,
merecidamente, expulsos da corporação e entregues à polícia
civil, deixando o regimento em carro de presos. Depois, submetidos a julgamento
foram condenados a apenas seis anos de reclusão, digo apenas, visto que,
no meu entendimento, a pena para policiais, militares ou civis, que cometem
crimes dessa natureza, dessa gravidade, deveria ser quintuplicada, de vez que
são pagos pelo povo para lhe garantir segurança e é necessário
que neles confiemos. Também há que se pensar em duplicar a punição
para quem cometa crimes graves contra policiais em serviço, o que lhes
traria maior tranquilidade e de certa forma poderia servir de exemplo para
todos, propiciando- nos, quem sabe, um melhor sossego.