A Garganta da Serpente
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A folha

(Armindo Guimarães)

Lá, onde a terra acaba e o mar começa, é Outono.

A folha despediu-se da sua árvore e, nas asas de Éolo, filho de Poseidon, voou, voou, voou.

Lá, onde o deus Sol impera, uma cordilheira é guardiã de uma pirâmide ancestral em cujo cume a folha poisou.

Desenhem-me uma pista e um sinal urgentemente, que eu quero ver o meu amor ardente - rogou a folha aos deuses.

E os deuses, em vez de uma, desenharam na terra dezenas de pistas, qual Via Láctea, o antigo caminho do Sol, e qual Andrómeda, de Pégaso, que voou para o Olimpo onde Zeus o transformou numa constelação.

E os deuses, em vez de um, desenharam na terra dezenas de sinais de formas geométricas e colossais: o condor, a sereia, a flor, o papagaio, o cão, a aranha, o beija-flor, quais gravuras de um livro aberto, cujas páginas, ainda não folheadas, aguardam serem lidas para que, finalmente, revelem ao mundo os seus segredos.

Porque acreditou haver caminhos sem escolhos e que tinha aquecido a noite fria, dizem que a folha ainda hoje se encontra no cume da velha pirâmide, olhando as pistas e os seus sinais, esperando ver o seu amor envolto em luz.

Lá, onde a terra acaba e o mar começa, é Primavera.

(2007)
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