Lá, onde a terra acaba e o mar começa, é Outono.
A folha despediu-se da sua árvore e, nas asas de Éolo, filho
de Poseidon, voou, voou, voou.
Lá, onde o deus Sol impera, uma cordilheira é guardiã
de uma pirâmide ancestral em cujo cume a folha poisou.
Desenhem-me uma pista e um sinal urgentemente, que eu quero ver o meu amor
ardente - rogou a folha aos deuses.
E os deuses, em vez de uma, desenharam na terra dezenas de pistas, qual Via
Láctea, o antigo caminho do Sol, e qual Andrómeda, de Pégaso,
que voou para o Olimpo onde Zeus o transformou numa constelação.
E os deuses, em vez de um, desenharam na terra dezenas de sinais de formas
geométricas e colossais: o condor, a sereia, a flor, o papagaio, o cão,
a aranha, o beija-flor, quais gravuras de um livro aberto, cujas páginas,
ainda não folheadas, aguardam serem lidas para que, finalmente, revelem
ao mundo os seus segredos.
Porque acreditou haver caminhos sem escolhos e que tinha aquecido a noite fria,
dizem que a folha ainda hoje se encontra no cume da velha pirâmide, olhando
as pistas e os seus sinais, esperando ver o seu amor envolto em luz.
Lá, onde a terra acaba e o mar começa, é Primavera.