A Garganta da Serpente
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

O EXTERMINADOR DE ALMAS - CAPÍTULO 11

(André Ferreira Machado)

Eric deitara-se na cama e ficara observando o teto daquele cômodo. Duvidava que o sono pudesse vir naquela noite. Sua vida, virada de cabeça para baixo. Todas as pessoas que conhecia estavam mortas. O mundo havia mudado. A última coisa que poderia querer era uma note tranquila de sono. Virou-se para a esquerda, para a direita, nada. Passaram-se uma hora, duas... Parece que sofreria de insônia aquela noite. Virou-se para o lado: Christian não estava mais sobre o colchão. Teria saído ou finalmente pegado no sono e virado pó? Calafrios tomavam conta do corpo dele. Pegou no espectro e ficou olhando aquela joia. Feia. Escura. Fria. Vital... As pálpebras ficaram pesadas. Logo, Eric não sentiu mais o seu corpo, que se reduziu ao mínimo.

Ficou muito tempo assim, inerte, quando percebeu que estava caindo. Abriu os olhos: apenas as trevas o cercavam. Estava caindo para trás. Sem saber o motivo, começou a mexer os braços, como se estivesse nadando de costas.

Lentamente, sentiu uma áspera superfície se formar do lado direito de seu corpo. Talvez, tivesse caído nessa posição. Permaneceu com os olhos fechados.

Uma forte luz, entretanto, obrigou-o a abri-los. Não pôde acreditar no que estava vendo. Assustado, levantou-se: estava em meio a um grande campo, repleto de tulipas amarelas. Olhou para cima: o céu azul, com poucas nuvens. As tulipas, em filas intermináveis, infinitas. O perfume das flores o fez esquecer de todos os seus problemas. Ele não parava de girar sobre si mesmo e, alegre, contemplar aquela bela obra da Natureza. Num giro, percebeu uma abelha que pousou sobre uma das flores. Maravilhado, tocou o caule desta.

A abelha saiu voando. A tulipa foi murchando e tornou-se preta, desaparecendo em seguida. Isso foi o começo de uma reação em cadeia. Um vento quente atravessou o corpo do menino, todas as outras plantas murcharam, o céu ficou nublado, com nuvens vermelhas que soltavam relâmpagos enfurecidos. Onde antes havia um maravilhoso jardim, agora havia um vasto deserto, em tonalidades escarlates.

A terra começou a tremer, o que o fez cair por terra. Uma parte do terreno desmoronou, criando um grande abismo, de onde ele ouviu muitos gritos de dor e sentiu um desagradável cheiro de enxofre. A cratera tomou proporções gigantescas, que logo revelou uma civilização que ali habitava.

Uma das fraquezas de Eric era sua curiosidade. Em muitas ocasiões ele se meteu em pesadas encrencas só por não ficar em seu lugar. Concordou que, ali, não havia nada melhor a fazer do que observar o que estava acontecendo naquele recém-criado sítio. Assim, ele lentamente caminhou para lá e, do alto, espantou-se com o que viu.

Eis que ele viu uma legião de pessoas pequenas alimentando pessoas maiores. E as pessoas pequenas, que eram em maior número, muitas vezes sacrificavam seu próprio alimento para dar de comer aos gigantes. Dentre os pequenos, um grande grupo gritava protestos contra aquela prática, mas os gigantes providenciavam para que ninguém os ouvisse.

De repente, houve grande temor de terra e duas Torres ergueram-se do solo. Eis que elas eram tão grandes que iam da terra ao Céu. E os gigantes postaram-se em adoração às Torres, e obrigaram os pequenos a também adorá-las. Inesperadamente, duas bolas de fogo rasgaram as nuvens e colidiram, cada uma, contra uma Torre, e eis que estes monumentos caíram.

Eis que muitos gigantes e pequenos padeceram sobre a queda, mas o fogo e a fumaça encobriram a visão de qualquer pessoa. Aquilo queimou por um longo tempo e, aos poucos, os gritos de dor, medo e angústia, foram se calando.

Eric presenciou o silêncio absoluto que emanava da neblina da morte. Então, inesperadamente, houve outro temor de terra e, da fumaça, ergueu-se uma Besta. Eis que a Besta tinha asas de águia e possuía duas cabeças, sendo que, em uma delas, uma coroa. A Besta era a maior das criaturas ali presentes. Das suas bocas, saíam labaredas e as unhas de seus dedos eram espadas afiadas. Todos os grandes e pequenos foram submetidos à Besta, que perguntava incessantemente onde estava o Responsável por aquela desgraça, pois seu nome já era conhecido.

A Besta varreu a civilização, massacrando muitos dos pequenos, mas o Responsável não foi encontrado entre eles. Os fortes clamores para que a Besta cessasse eram ignorados. Os líderes dos pequenos, então, invocaram suas forças e, do meio deles, surgiu uma outra besta, porém menor. A segunda besta pôs-se a desafiar a primeira. E um grande e acirrado conflito aconteceu. A primeira Besta, no entanto, arrebatou a segunda e os líderes dos pequenos entregaram-se a ela. A Besta assentou-se em seu trono e os pequenos depositaram todas as riquezas que possuíam aos seus pés.

Eric tentou chegar mais perto, para ver o que aconteceria a seguir, mas sem querer escorregou em uma pedra e veio rolando precipício abaixo. O medo obrigou-o a fechar os olhos, mas ele não sentiu dor. Quando finalmente chegou a um solo firme, abriu os olhos e ergueu-se: estava entre as pessoas que depositavam seus pertences aos pés da Besta. Disfarçadamente, tentou sair dali, mas eis que a Besta o viu e proferiu um grande rugido. De longe, o menino encarava-a, repleto de pavor.

A Besta ergueu-se de seu trono e veio na direção de Eric, esmagando muitos grandes e pequenos com os seus pés; Eric começou a correr desesperado para qualquer lugar. A Besta fincava suas unhas, que eram espadas, no solo, tentando partir o corpo do garoto ao meio, mas Eric, milagrosamente, foi mais rápido que a Luz, com uma tamanha velocidade que lhe pareceu ser câmera lenta, e passava por entre as garras do monstro. Eis que as garras arrancavam muitas habitações e padeciam muitas pessoas. Em certo momento, a Besta conseguiu passar uma garra pelas costas de Eric, o que o fez gritar, mas este virou á direita. Sem saber, pisou em uma armadilha, que fez seu corpo cair em um grande e negro buraco. Lentamente, os incessantes e ensurdecedores rugidos da Besta foram se tornando distantes.

Novamente, Eric perdeu os sentidos do seu corpo. Quando acordou, estava deitado de bruços em um grande deserto. Levantou-se lentamente. Olhou o panorama: nenhum sinal daquele ser abominável. À sua frente, entretanto, viu dois garotos, um indo em direção ao outro. Eric correu para alcançá-los. Ao chegar mais ou menos perto deles, notou que eles caminhavam com dificuldade, pois tinha, cada um, uma grande bola de aço amarrada ao pé direito. Em cada bola, havia uma letra, cuja soma era 5. Eis que cada bola estava amarrada ao pé por uma grande corrente, a qual tinha um cadeado que ninguém conseguia abrir. O garoto que vinha pela direita caiu e começou a engatinhar. O da esquerda apressou os passos, mas também caiu. Os dois se encontraram e o da direita ajudou o outro se erguer, dizendo-o:

- A sua bola é mais recente...

- Ela é mais pesada, isso sim.

Os dois olharam para trás e viram, ao longe, uma menina, sem nada que a prendesse, correndo pelo deserto. Curiosos, gritaram para que ela os esperasse e passaram a caminhar em sua direção. A menina parou e, percebendo que os dois tinham dificuldade para cegar a ela, pôs-se a ir até eles. Ao encontrarem-se, um dos garotos a indaga:

- Diz-nos: como pode correr por aí, sem nada que a prenda? Como pode não ter uma bola amarrada ao vosso pé?

A menina, sorrindo, põe a mão no bolso de sua calça e diz:

- Eu sou Livre.

E estendeu sua mão a eles. Abre a mão, mostrando uma grande e brilhante chave, cujo chaveiro tinha a forma de um animal polar.

Uma lágrima tímida formou-se no canto do olho esquerdo de Eric e logo escorreu por sua face. Antes, porém, que visse o desfecho daquela cena, as três crianças desapareceram, bem como todo o deserto, ficando Eric num imenso lugar branco. Fechou os olhos. Ao abri-los, já estava, novamente em outro local.

Era como se aquilo fosse a cratera de um vulcão. Um lugar extremamente quente, delimitado por altas paredes de pedras irregulares. O chão tinha piso de mármore e, acima, negras nuvens que soltavam furiosos raios e trovões. Não havia luz naquele local: o que o iluminava eram tochas, espalhadas por todo o lugar. À frente de Eric, havia uma larga escada com seis degraus. Eric a desceu e viu várias pessoas caminhando sem rumo. Elas tinham feridas de todas as espécies em todos os lugares. Atrás dessas pessoas, havia um imenso lago e, no seu centro, uma tocha que ardia incessantemente.

Eric desceu do último degrau e começou a abordar as pessoas. Já estava cansado daquela viagem.

- Moço... senhora... que lugar é esse? Onde fica a saída?

Mas as pessoas continuavam em seus caminhos, ignorando completamente a presença dele. Ele tentou perguntar para muitas outras pessoas, mas a resposta era sempre a mesma: o silêncio. Desviou seu olhar para o lago: ao longe, um barco passava. Em sua proa, havia um ser, vestido com uma túnica preta com um capuz, que remava e, em sua popa, várias pessoas sentadas. Eric entrou no rio e correu até aquele barquinho. Ele sabia nadar, mas não estava sendo necessário: a água era baixa, outrossim, a cada instante que avançava, ficava mais alta.

Cada vez mais perto do barco...

A água já estava batendo em sua cintura, quando um par de braços o puxou para baixo. Com o susto, o menino respirou fundo. Um pouco de água entrou-lhe pela boca, mas ele não se afogou. Tentou nadar para cima, mas os braços o puxavam para baixo. Baixou sua cabeça para ver quem estava fazendo aquilo: viu que era uma mulher, em avançado estado de putrefação. Sentiu nojo daquilo. Tentou se libertar, mas ela o puxada com mais força. Por fim, teve uma ideia.

Deixou-se ser levado. A mulher chegou mais perto dele. Abriu sua boca, da qual saiu um verme. Eric segurou-se para não vomitar. O rosto dela estava cada vez mais perto. Eric tocou-o com sua mão direita. A mulher o largou e paralisou sua face, a qual foi secando e a transformou num esqueleto e, depois, em cinzas.

Livre, Eric nadou para cima. Procurou um lugar alto e ficou de pé. A água bateu em seus joelhos. Olhou para frente: o barco não estava mais lá. Girou o seu corpo e avistou-o navegando perto dali. Correu em sua direção.

- Hei! Espere! Que lugar é esse? Como é que eu saio daqui?

O homem com a túnica volveu sua face para o garoto, revelando-se um esqueleto. Eric, assustado, impulsionou-se para trás. O esqueleto disse:

- Isso é o Inferno, garoto. Ninguém pode sair daqui.

Eric ficou paralisado. O barco terminou de passar à sua frente. As pessoas, machucadas, olharam para ele. O garoto sentiu uma ligeira sensação de mal-estar em seu estômago. Respirou fundo e virou-se para sair do rio. Enquanto saia, uma forte voz metálica gritou atrás dele:

- Você não vai sair daqui tão cedo...

Eric não queria olhar para trás, mas foi obrigado.

- Quem é você?

Um homem envolto em sombras continuou:

- Você tem algo que me pertence...

- Tenho?

- Em 1799... Ele roubou de mim...

- Desculpe, não sei do que está falando...

- Não se faça de tolo. Como acha que um anjo pôde lhe fornecer um espectro? Ele não pode ter um. Então ele roubou. - O homem caminhou para frente, revelando seu corpo carbonizado - Ele roubou de mim.

- AAAAAAAAAA......

- Eu o quero de volta. E você vai morrer. Definitivamente...

- Olha, deve estar havendo algum engano é... pode ser outra pessoa, sabe? Tem certeza que não é ninguém parecido comigo?

O homem corre na direção de Eric, que corre para sair do rio. As pessoas o observam. Eric chega à terra e corre. Olha para o homem cada vez mais perto. Tenta desviar, não consegue. Bate em carias pessoas, que morrem. Sem saber como, passa por cima de um carrinho de madeira, cheio de frutas podres, como se caminhasse no ar. O homem, entretanto, o arremessa longe, seguindo seu caminho. Olha para todos os lados, procurando algo que o salve. Vê um muro de madeira. Corre até ele e passa a escalá-lo. O homem faz o mesmo. Eric sobe, só com o horizonte à sua frente. Ele precisa chegar ao topo. O homem está cada vez mais perto. Eric não desiste de escalar. O homem segura o seu calcanhar. Eric o balança. Os dois caem. Eric chuta o peito dele e consegue impulsionar-se para frente, O outro exterminador cai num campo cheio de agulhas. Ergue-se e continua a perseguição. Eric olha para trás: Será que ele não desiste? Desvia seu olhar para frente. Vários lençóis brancos pendurados em varais. Eric e o outro passam a correr em meio a estes lençóis. O menino os desvia com os braços e mãos. O outro deixa uma mancha de sangue em cada um. Aquilo parece não ter fim. Parece que a vida de Eric vai terminar ali. Naquele instante.

Os lençóis acabam. Eric continua correndo. Atrás dele, apenas os gritos de um louco. Nada à sua frente, até que... um abismo, O garoto pára assustado. É uma grande distância. Olha para trás: o outro exterminador está cada vez mais próximo. A respiração de Eric torna-se forte e rápida. Ele dá uns três passos para trás e corre. Como um milagre, chega ao outro lado, como se não houvesse abismo: ele correra no ar. Cai, incrédulo.

- Meu Deus, eu consegui?

- Acha isso incrível? Iniciantes....

Asas de morcego brotam das costas do exterminador, que sai voando na direção do garoto. Eric volta a correr. À sua frente, mais uma escada. Ele a desce sem ver e corre naquele imenso local, com chão de mármore e várias nuvens escarlates, disparando raios e trovões no firmamento.

- Onde está você? Não pode se esconder de mim!

Eric estava bem na a fronteira da sanidade e a loucura. Precisava fugir de alguma forma. Passa a clamar por socorro. O homem replica:

- Aqui não há ninguém que possa ouvi-lo!

Eric corria. O ar começava a faltar-lhe. O homem surge do lado. O garoto grita. E corre.

- Não vai escapar dessa vez.

À sua frente, bem distante, uma cerca de arame farpado. Eric chega até ela com um único objetivo: chegar do outro lado. Põe a mão no arame e sente uma dor imensa. Olha para as suas mãos, sujas de sangue. O homem lhe explica:

- Aposto que não contava com isso... Trilítio, a única coisa que pode ferir um Exterminador de Almas.

Realmente, não sabia. O homem chegou cada vez mais perto. Eric manteve-se imóvel. O carbonizado estava preste a tocá-lo quando o garoto, em menos de um segundo, o pega pelos braços e o lança sobre a cerca. O homem grita, Eric corre. Ele se levanta furioso. Nesse momento, as palavras de Christian vêm à mente de Eric: "Lembre-se de uma coisa: a vida é quente". O que ele quis dizer com isso? Eric tropeça numa pedra e cai por terra. O homem pisa nas suas pernas, impedindo que ele fuja. Ergue os braços para socá-lo. Eric, instintivamente, transforma-se num esqueleto e vê, no frio corpo daquele ser terrível, apenas um ponto de calor, perto de onde deveria ser o coração.

O garoto volta à forma humana. O adversário começa o seu golpe. Eric profere um soco forte contra o local onde viu o foco. A sua mão atravessa aquele corpo nojento. O homem grita de dor, transforma-se em um esqueleto e, depois, em cinzas. Eric cai, cansado. Fecha os olhos. Quando os abre, está novamente em sua cama.

Levanta-se suado e suspirando forte. Christian surge ao seu lado.

- E aí?

Eric olha para ele, respirando pelo nariz. Olha para as suas mãos, manchadas de sangue. Olha-as atentamente: o sangue seca e as feridas cicatrizam, bem como a dor diminui. Lança-se sobre o albino e lhe dá um tapa na cara.

- O que foi que eu fiz?

- O que foi que você fez? Acho que você sabe!

- Não fui eu quem te levou pra lá!!! Muito pelo contrário!!! Se eu não tivesse te falado que a vida é quente, há essa hora, você já seria um... um sabe lá o quê!!!

- É. Eu sei. Quantas vezes eu vou ter que voltar pra lá, hein?

- Foi só essa. Não se preocupe. Eu também passei por isso. Todos os Exterminadores cuidados por anjos passam, porque os anjos...

- Eu já sei dessa história. E digo mais: se a intenção de vocês, a intenção sua e a do Gabriel era que eu me tornasse um ser cruel, insensível, sanguinário, frio, calculista... Se vocês queriam que eu me tornasse um assassino como vocês... Então vocês falharam. Porque eu nunca vou deixar que os outros decidam como vai ser o meu futuro. Eu nunca, nunca, ouviu bem? Nunca permitirei que uma pessoa controle o meu destino.

- Você quem sabe.

Eric suspira fundo, olhando friamente para Christian.

- Estive no limite da sanidade e da loucura e consegui voltar. Percebi uma coisa: vocês são todos malucos.

- Eric, escute... Muitas pessoas dariam tudo que possuem somente para ter um pouco do poder que você tem...

- É. Mas acontece que eu não quero esse poder. Não quero nem uma migalha dele.

- Eric, você pode sair ao Sol, você não sente dor, pode controlar mentes, ler pensamentos, entrar em lugares protegidos com a mais alta segurança sem que ninguém perceba...

Eric agarra o espectro e fala, mostrando-o a Christian:

- Tudo isso, mas eu estou preso a essa joia. Isso é uma prisão. Sem isso, eu morro!

- Você precisa entender que essa joia não é a sua dona. Pelo contrário: você é o dono dela. Escute... - diz pegando na mão esquerda de Eric, que estava sobre a cama - Você está assustado e com raiva agora. Isso é normal. Eu também me senti assim. Mas quando você descobrir tudo que pode fazer, vai gostar e isso - aponta para a joia - vai ser apenas um detalhe sem importância. Permita que eu lhe ensine tudo que você precisa aprender. Dê-me esta chance. Por favor...

Eric olha para Christian por longos segundos. Por fim, suspira e fala:

- O que eu tenho a perder... além de tudo aquilo que eu já perdi?

Christian sorri, como se tivesse conseguido algo que há muito tempo desejava.

Era o dia seguinte. O Sol inundava aquela sala, pelas janelas. Em lados opostos do cômodo, Christian e Eric, cada um segurando um bastão de madeira.

- Muito bem, Eric... Tente me atacar...

- Mas, eu não quero bater em você...

- Eric, é só uma brincadeira para treinar os seus reflexos. Agora, tente.

Eric ergue o bastão. Olha fixamente para ele e para Christian. O que o albino estaria planejando? Sai correndo em direção a Christian, gritando. Quando vai dar-lhe um golpe pela esquerda, Christian se desmancha e se reconstrói atrás dele. Eric vira-se furioso:

- Assim não vale!

- Claro que vale! Acha o quê? Que o inimigo vai ficar parado, esperando você bater nele?

Refletiu e concordou. Tentou novamente. De novo, a mesma coisa.

- Eu nunca vou conseguir.

- Nunca é uma palavra muito forte. Só vou lhe dar uma dica: o que eu estou fazendo, você também pode fazer.

Eric olha fixamente para Christian. Bate o bastão pela esquerda. A realidade fica em câmera lenta: o pó de Christian passa para trás de Eric, que se desfaz e atravessa Christian, ainda em formação. Christian se reconstrói e Eric, atrás do albino, bate com o bastão em seu pescoço. Christian diz somente uma palavra:

- Excelente...

E, após isso, desmaia.

E Eric e Christian aprenderam muitas coisas, um com o outro, por um longo tempo.

menu
Lista dos 2201 contos em ordem alfabética por:
Prenome do autor:
Título do conto:

Últimos contos inseridos:
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente
http://www.gargantadaserpente.com.br