- Que qui cê tá fazendo?
- Estou indo pescar.
- Pescar é o quê?
- Pegar peixe.
- Você pega peixe?
- Eu tento.
- Você pega um pra mim?
- Vou tentar.
- Como é que chama o peixe que você pega?
- Lambari.
- Quem que pôs o nome do lambari?
- Nem sei...
- Vou perguntar pro meu pai.
- Seu pai sabe?
- Meu pai é muito sabido, e muito grande, e sabe de tudo... Você
tem pai?
- Tenho.
- Gente grande também tem pai?
- Tem.
- Pra quê gente grande tem pai?
- Pra quê criança tem pai?
- Pra amar... Pra dizer que a gente é linda... Pra brincar...
- Então eu tenho muitos pais...
- Verdade?
- Verdade.
- E como é que eles chamam?
- São vários... Pedro... Mirna... Andreia...
- Nossa!...
- [...]
- E Deus?
- Que é que tem Deus?
- Ele é seu pai?
- É.
- Ele também brinca com você?
- Brinca.
- De que é que ele brinca?
- De... De... Ah!... De Deus mesmo...
- Você já brincou de Deus?
- Já, e você?
- Não!... Vamos brincar de Deus?
- Aqui?...
- É.
- Vamos. Quem é de nós dois que é Deus?...
- Ah, é você que já sabe a brincadeira... Pode começar...
- Você me desculpa, mas eu não estou sabendo direito como é
que brinca de Deus... Você sabe?...
- Eu sei... Eu digo pra você: Deus sara essa menina, e você me sara!...
- [...]
- Deus, pra quê que cê tá chorando?
- Porque eu não sei brincar de Deus... Eu não sei ser Deus, e
não sei curar você.
- Não precisa chorar... Eu vou ser Deus, e vou fazer você não
ser mais grande, e ser um menino muito feliz, pra brincar comigo, e conversar
comigo todos os dias, e nunca mais ir embora, e o que você quiser... Não
precisa chorar mais, porque menino bonito como você, não fica chorando...
(Os erros de linguagem são propositais)