A Garganta da Serpente
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Doce ultimato

(Adelaide Amorim)

- E então? - perguntou Luana, assim que ele chegou.

Lopes olhou para ela como quem tem muita coisa a dizer, mas não disse nada. Chamou-a para irem à cafeteria de costume, na torre do shopping, ela ansiosa, ele um pouco misterioso. Mas logo que sentaram para conversar ele sorriu.

- Está tudo bem, garantiu. Ele entendeu.

- Entendeu? Como assim? O que foi que ele disse?

- Que sim, que entendia, que essas coisas podem acontecer...

- Logo que você falou? O que foi que você disse a ele?

Lopes franziu a testa e acendeu um cigarro.

- Eu só expus a situação, o que estava acontecendo entre nós. A princípio ele ficou calado, sério, e eu pensei que fosse reagir mal. Mas uns minutos depois começou a fazer perguntas.

- Perguntas? Que perguntas?

- Ah, bobagens, banalidades... Eu até estranhei a reação dele, mas depois percebi que estava ganhando tempo para se controlar.

Luana desviou os olhos para um ponto indeterminado. Parecia meio decepcionada e ele notou.

- Pensei, disse ela lentamente, que fosse ficar bravo, enlouquecido, furioso. Ele é mesmo imprevisível. Estamos casados há onze anos. Sempre pensei que fosse louco por mim...

- Estão casados?

- É, quer dizer, ainda não nos divorciamos, você sabe.

Lopes apagou o cigarro com uma ruga na testa.

- Se você quer muito saber, acho que ele ainda é mesmo louco por você. Ficou falando abobrinhas enquanto eu esperava uma resposta mais clara, uma solução para o impasse...

- Impasse? Você chama nosso caso de impasse?

Ele sorriu de leve e teve vontade de beijá-la ali mesmo, mas se conteve.

- Não, bobinha, não estou falando do nosso caso, estou falando da situação. Ele demorou a se definir, acho que não queria bancar o troglodita. Ou então segurou a onda pra não parecer um fraco, manter uma atitude digna. Houve um momento em que pensei que ia desmontar, ficou de cabeça baixa...

- O Luan? - Ela perguntou com um leve sorriso.

- O Luan. Ficou parado olhando para o chão como quem procura uma saída. Mas depois voltou a me encarar e começou a falar da vida de vocês, de como andavam distantes ultimamente.

- Culpa dele, que está sempre viajando para o pai, tratando de negócios em outros países. Deus sabe quantas vezes desejei um homem perto de mim...

- Agora você tem um em tempo integral.

Ela ignorou a dica.

- Mas foi só isso que ele disse?

- Quase só isso.

Outro silêncio embaraçoso.

- Eu devia ir ao encontro dele, você não acha?

- Se você acha que deve, vá - Lopes respondeu de cara fechada.

- Tenho que voltar lá para pegar minhas coisas, tomar minhas providências.

- Claro. Quer ajuda?

- Pode parecer afrontoso você voltar lá comigo para fazer a mudança. Não quero que ele fique ofendido, magoado. Chega a separação, que ele nunca esperou. É, tenho que conversar com ele, afinal ainda é meu marido.

- Ainda? Me diga uma coisa, você está arrependida?

Durante uns segundos, houve um silêncio cheio de ambiguidade. Depois ela olhou nos olhos dele e fez um afago em sua mão.

- Você é o homem mais inteligente e mais sensível que já encontrei em minha vida. - E levantando-se acrescentou: - Te ligo mais tarde.

Lopes pagou a conta e foi ao cinema. Precisava muito de um happy end.

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