Em tempos tristes minha mãe se apoderava de um canto da sala e só
se retirava quando o sol cavalgava sobre as longitudes do mundo.
Houve então um dia em que o sol desdobrando pela montanha não
apareceu mais em nossa casa ficando o mundo resumido num quadro sem fim onde
as faces se faziam ver pelas desordens do silêncio.
Fizemos-nos também tristes e por dezoito mil duzentos e cinquenta
dias ouvi os passos de nossa mãe se perderem vagarosamente pela sala
sem que a gente alcançasse.
Um dia quando o sol despontou sobre a montanha e nossa casa ficou outra vez
clara, demos com nossa mãe no chão, fixa, esboçada embaixo
da copa de uma árvore. Corremos até ela sem darmos conta de tristezas,
de silêncio, nem de felicidades. Abraçamos nossa mãe, carregamos
até a casa e nos tornamos como ela: uma sombra.